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Por Bolívar Torres — Rio de Janeiro

Maria Bethânia e Cleonice Berardinelli foram unidas pela poesia — e, especialmente, pelo prazer de dizer poesia. Cada uma ao seu jeito ajudou a divulgar a obra de Fernando Pessoa no Brasil. Berardinelli nas salas de aulas, artigos e edições críticas; Bethânia trazendo os versos do português para os palcos musicais. O encontro profissional das duas foi natural, ainda que tardio. Começou em 2013 numa mesa da Festa Literária Internacional de Paraty. A conversa encantou o cineasta Marcio Debellian, que sugeriu reuni-las em um documentário.

Surgiu assim “O vento lá fora...” (2014), um longa filmado em dois dias. No primeiro, Bethânia e Berardinelli gravaram um CD com leitura de poesias de Fernando Pessoa. No segundo, realizaram a mesma leitura para uma pequena plateia de convidados. A amizade permaneceu desde então, com encontros e bate-papos regulares, em privado e em público. Quando Bethânia recebeu nesta terça-feira (31) a notícia da morte da parceira pessoana, rezou.

— Minha mãe morreu com 106 também, sei a plenitude de uma vida assim — conta a cantora. — Ela foi uma extraordinária mestre, super suave, sem idade. Quando ela lia um poema, não dava para saber se tinha 15 ou 100 anos. Uma entrega total, extraordinária. Era fundamental conversar sempre. Dez ou 15 minutos de conversa com ela já te renovavam. Tudo nela era bonito e poético.

Bethânia não chama Berardinelli de “mestre” por força de expressão. Os encontros com a professora mudaram sua maneira de declamar Fernando Pessoa — e poesia de modo geral.

— Ela era uma mestre da recitação — diz Bethânia. — Após a escolha dos poemas que íamos ler, eu ficava lá quietinha, só ouvindo e obedecendo aquela grande senhora. Dá para aprender qualquer coisa com ela, a sutileza, a tonalidade de cada palavra... Com ela era sempre o maior grau possível de sofisticação.

O título “O vento lá fora...” é uma referência ao verso final de um poema de Álvaro de Campos, “O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo”, que encerra o documentário na leitura de Cleonice.

— A ideia de encerrar uma noite poética com esse verso foi dela — conta Bethânia. — Porque o vento lá fora é maior do que tudo. É deslumbrante e só uma pessoa como Cleonice poderia ter essa ideia.

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