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Por Eduardo Graça — São Paulo

Quando Joel caminha por Copacabana, tem o hábito de olhar para cima avaliando de onde poderia se jogar. Assim começa “Chuva de papel” — a partir desta sexta, dia 24, nas livrarias e com lançamento na próxima quarta-feira, às 19h, na Livraria da Travessa do Leblon —, romance tragicômico de Martha Batalha, colunista deste Segundo Caderno e autora de “Nunca houve um castelo” e “A vida invisível de Eurídice Gusmão” (que virou filme de Karim Aïnouz, com Fernanda Montenegro no papel-título).

— Queria contar histórias do Rio a partir de relatos de seus repórteres. Sabia que seria uma homenagem a eles, heróis nacionais, mas ainda não de que forma. Pois essa frase inicial ficou batucando na minha cabeça, passei a imaginar por que Joel pensava assim e, de forma bem intuitiva, comecei a escrever — diz a escritora, que hoje vive na Califórnia, nos Estados Unidos.

Joel é um repórter de polícia aposentado. O leitor o encontra endividado, penando para pagar pensão de filho e aluguel de quarto na Lapa, dono de um solitário abajur, às voltas com o alcoolismo (“ele só tem consciência quando bebe”), consumindo cigarros diariamente “como contraponto à comida de botequim” e usando correntinha de Santo Expedito e relógio de camelô.

Testemunha factual e sentimental da cidade, ele é, na pena fina da escritora fã de frases curtas e definições lapidares, “o Dom Quixote da Praça Onze, o Super-Homem da Água Santa”.

Martha se formou em Jornalismo e começou a trabalhar no jornal carioca O Dia aos 18 anos, no início dos anos 1990.

— Era uma típica menina classe média, alimentada a bife, batata-frita e iogurte. Na redação, passei a viver o outro lado da cidade partida. A reportagem me deu a empatia pelo outro, que carrego comigo na ficção, quando entro na cabeça dos personagens que criei— diz.

Várias das histórias de mundo cão registradas por Joel em mais de cinco décadas de trabalho brotaram das observações e conversas de Martha com veteranos da cobertura da cidade real, craques como Luarlindo Ernesto e Antonio Werneck. E do mergulho em coleções de diários como o Luta Democrática na hemeroteca da Biblioteca Nacional.

— Queria entender como se sobrevive a tantos relatos de dor. Tudo aqui no Rio é muito. Como é possível viver em uma cidade tão intensa? Vários personagens do livro usam o humor como antídoto à violência, ao insuportável— diz Martha.

Uma virada

Joel é da geração de repórteres que, escreve Martha, “forçou o Rio a ver o Rio”. Em uma conversa com a vizinha Alzira, quando narra uma das cenas mais difíceis que presenciou a trabalho nas ruas da cidade, a reação natural da senhora é tapar os olhos. O velho repórter não titubeia: “Todo mundo nessa cidade age como criança. Fecha os olhos e acha que está tudo bem.” Para em seguida mirar-se no espelho: “Eu estava de olhos abertos, eu estou há todos estes anos de olhos abertos.”

O desejo suicida de Joel, ponto de partida do livro, também pode ser traduzido como emblema da fronteira percorrida por Martha entre a tragédia e a quase crônica. É o que acaba levando Joel a encontrar Glória, a outra personagem central desta história carioca. E, em plena pandemia de Covid-19, dois estranhos na porção final de suas vidas se veem confinados em um apartamento de fundos do primeiro andar de um prédio de pastilhas amarelas na Tijuca (tal qual aquele da Rua Itacuruçá, em que a avó da autora vivia).

Temas caros a Martha, como o feminismo possível do cotidiano urbano e a violência contra as mulheres, surgem em meio a um twist pra lá de engenhoso na parte final do livro.

— Queria mostrar como a cidade influencia a vida de seus moradores e os faz vítimas de seus arranjos, como Joel, por lidar com as consequências de suas desigualdades, e Glória, pela mentalidade conservadora.

Chuva de papel. Autor: Martha Batalha. Editora: Companhia das Letras. Páginas: 222. Preço: R$ 64,90.

Chuva de papel, romance de Martha Batalha (Companhia das Letras) — Foto: Reprodução
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