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Por Bolívar Torres e Nelson Gobbi — Rio de Janeiro

Nesta sexta-feira àAceAcedem noite, o escritor e jornalista Ruy Castro tomou posse na cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras, em cerimônia com grande público no Petit Trianon. Em outubro, Ruy havia sido eleito com facilidade para a vaga, recebendo 32 dos 35 votos possíveis, ele sucede ao Acadêmico Sergio Paulo Rouanet, falecido no dia 3 de julho de 2022, aos 88 anos.

Conhecido principalmente por suas biografias de personalidades fora do comum como o jogador Mané Garrincha e o dramaturgo Nelson Rodrigues, Ruy ocupará uma cadeira que já foi de Francisco de Assis Barbosa - responsável por recuperar a obra de Lima Barreto e visto por muitos como um dos pais da biografia no país.

Como bom biógrafo, Castro fez em seu discurso a genealogia de todos os seus antecessores na cadeira número 13. Ao citar Paulo Sérgio Rouanet, seu antecessor imediato, o autor arrancou longos aplausos da plateia ao lembrar do legado da lei que levou o seu nome e que foi atacada na "pior guerra desferida por um governo contra seus artistas".

Entre os outros acadêmicos que passaram pela cadeira 13 estão Augusto Meyer, Hélio Lobo, Sousa Bandeira, Martins Júnior, Francisco de Castro e Visconde de Taunay, o fundador. O patrono é Francisco Otaviano.

- Tudo é a palavra e a palavra é tudo - disse o novo imortal em seu discurso. - Às vezes, ouvimos que “uma imagem vale por mil palavras.” Mas, como desafiou Millôr Fernandes, tente dizer isso sem palavras. É um privilégio estar sendo aceito nesta instituição, cuja matéria-prima é a palavra.

Nascido em Caratinga, Minas Gerais, em 1948, e apaixonado pelo Rio, Ruy se define como “um carioca nascido longe de casa”. Iniciando a sua trajetória profissional como repórter, em 1967, no Correio da Manhã, e passou por todos os grandes veículos da imprensa carioca e paulistana. A partir dos anos 1990, migrou para os livros - e, em especial, nas biografias de grandes personalidades. Em obras de sucesso, reconstituiu a vida de Nelson Rodrigues, Carmen Miranda e Mané Garrincha. Também publicou livros em que busca reconstituir a história do samba-canção, a Bossa Nova, Ipanema, o Flamengo e a década de 1920. Como romancista, lançou títulos como "Bilac vê estrelas" e "Os perigos do imperador: Um romance do Segundo Reinado".

Ruy Castro (sentado, ao centro) com outros integrantes da ABL, em sua posse — Foto: Alexandre Cassiano
Ruy Castro (sentado, ao centro) com outros integrantes da ABL, em sua posse — Foto: Alexandre Cassiano

Em seu discurso, Ruy lembrou a diferença entre a escrita no movimentado ambiente das redações e a rotina de autor literário e biógrafo.

- A palavra, para o jornalista, não é a mesma que para os escritores. Para o jornalista, ela cabe num lenço molhado. Para os escritores, ela pode exigir o Oceano Atlântico. Mas, ao contrário dos escritores, que, se quiserem, podem se deixar levar pela palavra, o jornalista tem de subjugá-la e submetê-la aos torniquetes fundamentais de seu ofício: a objetividade, a clareza e a verdade. Foi essa prática, exercida diariamente em redações por mais de 20 anos, que levei para o outro veículo a que, de surpresa até para mim mesmo, me entreguei: o livro. E nunca mais voltei para as redações. Mas elas nunca se afastaram de mim: desde o primeiro livro, publicado em 1989, até hoje, quarenta livros depois, nunca passei um dia sem estar associado, como colaborador fixo, a um jornal ou revista. É mais forte do que eu.

Personagens e produções populares

Ruy lembrou ainda que sua obra é constituída por personagens e produções populares que em muitos casos demoraram para encontrar o devido reconhecimento:

- Como escritor, tenho falado de muitos homens e mulheres do século XX, todos mestres em seus ofícios. Mestres de uma cultura ainda não de todo estudada, porque praticada em veículos populares: livros baratos, peças escandalosas de teatro, programas de rádio cheios de ruídos, filmes que se perderam, discos fáceis de quebrar. Uma cultura talvez “alta” para ser considerada autenticamente “do povo” e, ao mesmo tempo, “baixa” para merecer ensaios profundos, com citações de pé de página. Mas foi uma cultura que circulou pelo coração de milhões de brasileiros. Ou pelo coração deste brasileiro.

O escritor e jornalista Ruy Castro, em sua posse na ABL, ao lado do presidente da Academia, o jornalista Merval Pereira — Foto: Alexandre Cassiano
O escritor e jornalista Ruy Castro, em sua posse na ABL, ao lado do presidente da Academia, o jornalista Merval Pereira — Foto: Alexandre Cassiano

O acadêmico concluiu lembrando das figuras que fizeram parte de sua formação - e que foram retratadas em seus livros.

- Com a vossa permissão, entram comigo nesta casa Nelson Rodrigues, Garrincha, Carmen Miranda, João Gilberto, Tom Jobim, Dolores Duran, Lucio Alves, Gilka Machado, Orestes Barbosa, Pixinguinha, Ary Barroso, Grande Otelo, Rubem Braga, Leila Diniz, Millôr Fernandes, J. Carlos, Di Cavalcanti e muitos mais. E, por fim, inteiro, o Rio de Janeiro.

Antes de iniciar seu discurso, o acadêmico Antonio Carlos Secchin exibiu na TV vídeos de Garrincha no Canal 100, entrevista de Nelson Rodrigues e cena com Carmem Miranda, todos biografados por Ruy Castro. Ele também destacou as contribuições de Ruy em suas áreas de atuação:

- Como atributos desejáveis num biógrafo, Ruy enumera: concisão, clareza, verdade, e, se possível, charme e humor - disse o poeta, ocupante da cadeira 19 da ABL. - O leitor, encantado com a fluência de um discurso, se esquece de que a fluidez raras vezes é uma dádiva, sendo, antes, o resultado de uma laboriosa construção, a construção do espontâneo, se me permitem o aparente paradoxo.

Presidente da ABL, o jornalista Merval Pereira afirmou que, na instituição, Ruy Castro "está em seu lugar".

- Como o Ruy destacou em seu discurso, a Casa historicamente recebe jornalistas, como o próprio Machado de Assis, seu fundador. Mas Ruy entra também como biógrafo, romancista, ensaísta, cronista. Alguém que sempre colocou o Rio em seu patamar mais alto. Ele está em seu lugar - disse Pereira.

Também jornalista, Zuenir Ventura afirmou que é bom ver um colega de redação na Academia:

- Muito emocionante ver mais um colega de redação entrando na Casa. Uma noite inesquecível, com todas as lembranças nos discursos e as manifestações emocionantes dos presentes.

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