Nesta segunda-feira (24), o cantor, compositor e escritor Chico Buarque finalmente receberá o Prêmio Camões, o mais prestigioso das literaturas em língua portuguesa. Chico fora anunciado vencedor do Camões em 2019, mas o então presidente Jair Bolsonaro se recusou a assinar a documentação para o que ele recebesse o diploma. A pandemia de Covid-19 também atrasou a cerimônia, que será realizada hoje, em Sintra, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em visita oficial a Portugal.
Além do prêmio de 100 mil euros, divididos entre os governos brasileiro e português, o Camões dá direito a um diploma assinado pelos presidentes dos dois países. À época, Bolsonaro deixou claro que a assinatura não era uma prioridade: “Eu tenho prazo? Então 31 de dezembro de 2026, eu assino”. Inimigo do bolsonarismo, Chico comemorou: "Ganhei o segundo Camões".
Devido ao atraso da entrega do prêmio a Chico, os vencedores das edições seguintes do Camões — o português Vítor Manuel de Aguiar e Silva, a moçambicana Paulina Chiziane e o brasileiro Silviano Santiago — não puderam recebê-lo ainda.
Inicialmente, a cerimônia de entrega do prêmio estava marcada para o dia 25 de abril de 2020, feriado da Revolução dos Cravos em Portugal. A data lembra o levante popular que pôs fim à ditadura fascista. No entanto, a cerimônia foi adiada duas vezes devido à pandemia. Chico, porém, já recebeu os 100 mil euros a que tinha direito.
O escritor e compositor foi o 13º e último brasileiro a levar o prêmio. Além de sua contribuição à música popular brasileira, Chico é autor dos romances “Estorvo”, “Benjamin”, “Budapeste”, “Leite derramado”, “O irmão alemão” e "Essa gente"; do livro de contos "Anos de chumbo"; da novela “Fazenda modelo”; da peças teatrais “Roda viva”, “Calabar” (com Ruy Guerra), “Gota d’água” (com Paulo Pontes) e “Ópera do malandro”; e do infantil “Chapeuzinho Amarelo”.
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No último sábado (22), durante a abertura da 13ª Cúpula Brasil-Portugal, em Lisboa, o primeiro-ministro luso António Costa se referiu à recusa de Bolsonaro em assinar o diploma de Chico como um exemplo do distanciamento dos dois países nos últimos. Disse que era hora de "virar a página".
O Prêmio Camões de Literatura foi criado em 1988 pelos governos brasileiro e português, com o objetivo de consagrar anualmente um autor de língua portuguesa cuja obra tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural lusófono. O vencedor é escolhido por um júri composto por dois brasileiros, dois portugueses e dois representantes dos demais países lusófonos (Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste).
Em 34 edições, o prêmio contemplou nomes como os portugueses António Lobo Antunes e José Saramago, o moçambicano Mia Couto e brasileiros Jorge Amado, João Cabral de Mello Neto, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles e Raduan Nassar.