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Por Maria Guimarães — Rio de Janeiro

Inspiração para as mulheres do povo Baniwa, Francineia Bitencourt Fontes, mais conhecida como Francy Baniwa, rompe com todas as barreiras que buscam invisibilizar os povos indígenas e surge como uma grande líder feminina para todo o Brasil. Primeira mulher Baniwa a se tornar mestre, aos 37 anos ela busca relacionar seus saberes ancestrais com as teorias acadêmicas e unificar a vivência entre a cidade e a comunidade.

Francy é antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, nascida na comunidade de Assunção, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Com foco em Antropologia Social,também é mestra e doutoranda pelo Museu Nacional da UFRJ, além de atuar na curadoria do Museu do Índio, no Rio.

— Vim ao mundo com a grande responsabilidade de ser esse fio para outras mulheres. Sempre me senti na obrigação de buscar mais conhecimento, por ver a necessidade de ter alguém com experiência profissional aqui no território para trabalhar com as mulheres, seja no movimento indígena, ou em outras instituições — pontua ela.

Sua conexão com a academia surge da vocação em ser porta-voz de seu povo. A partir das tradições orais, passadas de geração em geração, Francy traz para seus estudos a visão de quem conhece intrinsecamente o território que foi, por muitos anos, analisado por pessoas externas. “Umbigo do mundo”, lançado em maio pela Dantes Editora, é o primeiro livro de antropologia escrito por uma mulher indígena e abre caminhos para mais mulheres como sua autora.

— Sou antropóloga por natureza, sempre fui. A diferença de antropólogos indígenas é que não precisamos da tradução que uma pessoa de fora precisa. Somos objeto de estudo, mas dentro da academia, enquanto antropóloga, não me vejo nesse papel, me vejo como uma mulher indígena que sempre esteve nesse mundo tão rico de vida e significado — afirma.

O livro transcreve as narrativas do clã Waliperedakeenai, comunidade Baniwa onde ela cresceu, contadas pelo pai, sua principal referência bibliográfica. Tanto que ele assina “Umbigo do mundo”, versão comentada da dissertação de mestrado de Francy, como coautor.

— Não são apenas mitos, ou contação de histórias, para mim havia outros significados, milhões de representações. Como entendemos as árvores, animais, cores, qual a importância da cura, purificação dos nossos corpos, por que menstruamos, como surgiram a inveja e a desavença entre os povos. Todo ato tem uma consequência e eu queria, através da dissertação, mostrar por que, para o meu povo, as narrativas são tão significativas — explica ela.

'Umbigo do mundo', livro de Francy Baniwa, primeira mulher indígena brasileira a publicar um livro de antropologia — Foto: Reprodução
'Umbigo do mundo', livro de Francy Baniwa, primeira mulher indígena brasileira a publicar um livro de antropologia — Foto: Reprodução

Exatamente por entender a importância das narrativas, Francy considera que o Museu do Índio, que em breve será rebatizado como Museu dos Povos Indígenas, deve atuar como uma grande maloca. Um lugar para guardar os valores, memórias e a história de diversos povos, sem perder o contato com esses territórios, colocando-se como um espaço aberto e plural.

A antropóloga coordena atualmente o projeto “Vida e arte das mulheres Baniwa: Um olhar de dentro para fora”, produzido em parceria com a Unesco, responsável por catalogar e qualificar as peças do acervo do Museu do Índio. E comenta o debate cada vez mais amplo acerca de devoluções de itens emprestados a outros países. Como o caso das mais de 600 peças de 39 povos indígenas que estão, de forma irregular, em poder de um museu na França, e após uma batalha de mais de uma década, serão devolvidas ao Brasil e incorporadas ao Museu do Índio.

—Fico feliz com as devoluções, mas acredito que as peças deveriam ir diretamente para os povos indígenas, sem ficarem centralizadas em um museu.

Umbigo do mundo. Autores: Francy Baniwa e Francisco Baniwa. Editora: Dantes. Preço: R$ 59,90.

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