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Por Télio Navega — Rio de Janeiro

Quem poderia imaginar que um sujeito nascido há 65 anos numa área rural da Austrália viria a se tornar um cantor e compositor tão visceral quanto Nick Cave? Alguém que se revelou em bandas punks como The Boys Next Door e The Birthday Party no fim da década de 1970 e se consagraria depois como líder de sementes ruins, os Bad Seeds?

Grande parte da história de vida musical e pessoal do músico de cabelos pretos penteados para trás que há anos abraçou o rock gótico com letras sobre fé, amor e morte é contada em quadrinhos pelo alemão Reinhard Kleist no álbum “Nick Cave: piedade de mim”, recém-lançado no Brasil pela Hipotética e disponível para compra no site da editora.

Kleist narra a trajetória de seu biografado desde a Austrália até países como Inglaterra, Alemanha e também Brasil — Cave viveu no Centro de São Paulo na década de 1990. Tudo num preto e branco cru, entremeado por páginas oníricas, que ilustram trechos de canções como “Where the wild roses grow” (com Kylie Minogue), “Into my arms” e “Red right hand” (da abertura da série “Peaky Blinders”).

Não havia muitos livros ou documentários sobre o cantor quando Kleist começou a pesquisa para sua HQ, lançada originalmente em 2017. Mas o desenhista teve a oportunidade de conversar com Cave sobre o projeto desde o início.

— Ele me convenceu a não seguir o caminho fácil de contar sua biografia, mas a seguir uma direção mais mitológica e fantástica —conta Kleist. — Nick me disse durante um telefonema: “Reinhard, você está fazendo uma história em quadrinhos! Você pode me chutar até a lua!”. E foi isso que eu fiz.

Segundo Kleist, Cave era o ídolo de alguns de seus amigos indies, mas ele sempre achou o cantor intimidador:

— Mais tarde, descobri que muitas de suas canções contavam histórias, e ele usava sua música e energia, dark e selvagem, para ilustrá-las. Fiquei viciado na época, porque sou atraído por histórias e muitas de suas canções criaram imagens fortes em minha cabeça.

Kleist diz que não tem uma música favorita de Cave, mas adora aquelas com histórias fortes, como “Jubilee Street”, “Henry Lee” e “Tupelo”.

— Assisti a muitos de seus shows e posso dizer que ele é definitivamente o artista mais intenso que já vi — revela o ilustrador, como um legítimo fã do artista. — Em um festival na Eslováquia, tive a chance de estar na primeira fila e foi impressionante ver como ele interage com o público.

Cave não foi o primeiro artista do rock biografado por Kleist em seus quadrinhos. Antes, o autor já havia lançado histórias sobre Elvis Presley, Johnny Cash e, recentemente, David Bowie.

— Sempre ouvi música pop e alguns intérpretes tiveram um impacto profundo na minha vida, principalmente quando eu era adolescente e não sabia o que pensar, nem como me comportar, ou quem deveria ser —revela o artista, de 53 anos. — “Ashes to ashes”, de David Bowie, foi a primeira que ouvi conscientemente. Lembro que tinha medo da música e de sua atmosfera estranha, embora não entendesse a letra. Mais tarde, vi imagens do cantor e me apaixonei. Posso dizer que de alguma forma ele me salvou naquela época. Bowie era como um farol para quem sabia que se sentia deslocado. Bowie era diferente e eu também, e tínhamos algo em comum.

Fã de Seu Jorge

A paixão de Kleist pela música não foi suficiente para levá-lo a aprender algum instrumento, mas ele costuma fazer algo inusitado no palco de shows da banda Good Sons.

— Eles começam a tocar e eu ilustro as letras, da primeira à última nota. O público pode ver o processo do desenho em uma tela de projeção atrás da banda. Fizemos shows em Berlim e na Dinamarca com canções de Cave, Cash, Nina Hagen e Jackson Browne — conta o alemão, que diz não conhecer muito de música brasileira além de Gilberto Gil, que admira por seu ativismo, e os covers de Bowie gravados por Seu Jorge.

O grande mérito de Kleist em narrar em HQ a trajetória de Cave, com muitas performances ao vivo, é contar a história de um personagem que ainda está entre nós, em seu auge, diferentemente de Bowie ou Cash.

“Nick Cave: Piedade de mim”. Autor: Reinhard Kleist. Tradutor: Augusto Paim. Editora: Hipotética. Páginas: 328. Preço: R$ 99.

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