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Por Ruan de Sousa Gabriel — São Paulo

A autora homenageada da 21ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) respondia por muitos nomes: Patsy, Mara Lobo, King Shelter, Ariel, Pat, Léonie, Pt, Gim, Solange Sohl, Peste. No entanto, é mais provável que os leitores a conheçam por seu apelido: Pagu. A escritora modernista Patrícia Rehder Galvão (1910-1962) será celebrada na festa que tomará as ruas de Paraty entre os dias 22 e 26 e novembro. Em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (30), o diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz, disse que as múltiplas personalidades de Pagu, seu "caráter de leitora" e vontade de intervir no mundo justificam a escolha. Ele também expressou o desejo que a homenagem contribua para a projeção internacional da escritora. Este ano, a curadoria da Flip é assinada pela editora Fernanda Bastos e pela crítica literária Milena Britto.

Nascida em São João da Boa Vista (SP) e criada no bairro operário do Brás, na capital paulista, Pagu foi poeta, dramaturga, tradutora, jornalista, cartunista, crítica cultural e revolucionária. Comunista convicta, foi a primeira mulher presa política do país e autora de nosso primeiro romance proletário: "Parque industrial" (1932), publicado sob o pseudônimo Mara Lobo, pois os burocratas do Partidão achavam que estampar o próprio nome na capa era vaidade pequeno-burguesa.

— Queríamos que a homenagem sinalizasse esperança, indicasse o Brasil que ainda podemos construir. A população brasileira vive momentos muito duros. Pagu olhou para os nossos problemas sociais e criou uma estética própria para enfrentar a misoginia, o racismo e a miséria — afirmou a curadora Fernanda Bastos.

Escrito em estilo telegráfico, à moda modernista, e cheio de cenas ágeis e palavras de ordem, o romance narra as lutas de trabalhadoras do Brás e, décadas antes da emergência de conceitos como "interseccionalidade", articula gênero, raça e classe. No entanto, considerado panfletário e sem valor literário, "Parque industrial" ficou fora do cânone modernista.

O romance voltou às livrarias no ano passado em edição da Companhia das Letras, que também relançou "Autobiografia precoce" (1940), na qual a escritora incluiu relatos da longa viagem que fez, entre 1933 e 1934, pelo Oriente e pela Europa, a serviço do Partido Comunista. Viveu na França entre 1934 e 1935 e assumiu o nome de Léonie. Vigiada pela polícia por suas atividades políticas, foi descrita como uma mulher de "vida fácil". A temporada parisiense da autora é investigada pela escritora Adriana Armony no romance "Pagu no metrô" (Nós), lançado em 2022.

Chamada de "anúncio luminoso da Antropofagia" por Álvaro Moreyra, ela ganhou seu apelido do poeta Raul Bopp, que pensou que seu nome fosse Patrícia Goulart e, num poema, destacou seus "olhos moles" e "corpo de cobra". Por décadas, a produção literária de Pagu ficou em segundo plano. Ela era apenas a mulher de Oswald de Andrade, responsável por convertê-lo ao comunismo, a moça que atiçava São Paulo com seu batom roxo e liberdade sexual. Mas seu legado tem sido reivindicado pelas feministas, que batizaram vários coletivos com seu nome. Ela até virou título de uma canção de Rita Lee e Zélia Duncan, aquela que diz: "Nem toda feiticeira é corcunda/ Nem toda brasileira é bunda/ Meu peito não é de silicone/ Sou mais macho que muito homem".

Além de "Parque industrial" e "Autobiografia precoce", Pagu publicou o romance "A famosa revista" (1945), em parceria com o segundo marido, Geraldo Ferraz e, sob o pseudônimo King Shelter, contos policiais reunidos postumamente no volume "Safra macabra" (1998). Também colaborou com veículos de imprensa como Brás Jornal, A Vanguarda Socialista, France-Presse e a modernista Revista da Antropofagia. E traduziu autores como James Joyce, Eugène Ionesco e Octavio Paz.

Os autores convidados para a 21ª Flip começarão a ser divulgados em breve e a programação completa deve ser anunciada entre setembro e outubro. A curadora Milena Britto disse que a festa pretende refletir o "espírito de luta" de Pagu, que "era apaixonada por experimentos e fez de seu próprio corpo uma linguagem".

— Pagu é uma fogueira que solta faíscas para todo lado. Recusava regras e quaisquer tipos de cerceamento. Lutou pela liberdade que só existe quando é coletiva — completou.

Pagu enfrentou episódios depressivos e chegou a tentar o suicídio. Faleceu em Santos, no litoral paulista, aos 52 anos, vítima de um câncer de pulmão.

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