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Por — Rio de Janeiro

A primeira vez que Raphael Montes viu Pedro Bandeira ao vivo, na Bienal do Livro de São Paulo de 2016, abraçou-o e chorou feito uma criança. A emoção tomou conta do adulto de 26 anos, que já se firmava como o mais conhecido autor de thrillers de sua geração. Para ele, o paulista Pedro era uma entidade atemporal — o “vovô maravilhoso” cujos livros de mistério com temática juvenil lhe despertaram o gosto pela leitura.

O encontro gerou uma amizade duradoura, que influencia os rumos da carreira do escritor carioca. Desafiado pelo mentor, Raphael escreveu a sua primeira publicação juvenil, o recém-lançado “A mágica mortal: uma aventura do Esquadrão Zero”. A escrita mostra uma inegável influência dos antigos best-sellers de Pedro, como “A droga da obediência” e “Anjo da morte” — títulos que trouxeram ousadia ao universo juvenil nos anos 1980, colocando em cena crianças detetives e assassinatos macabros, sem nunca apelar para a violência gráfica.

— Lembro desse primeiro encontro como se fosse ontem — diz Raphael, que participa da Bienal neste domingo (3), às 18h. — Eu tinha acabado de lançar “O jantar secreto” (thriller sobre um grupo de amigos que organiza jantares misteriosos), não era nem um iniciante nem o que sou hoje, estava no meio do caminho. Aí vi o Pedro no evento. Ele, coitado, doido para ir embora, e eu tietando. Foi o Pedro que me fez querer ser escritor. Na minha casa não tinha livros e eu não gostava de ler na escola, até que uma professora me deu “A droga da obediência”. Dali em diante, eu li tudo dele.

Na Bienal

“Li tudo” talvez seja força de expressão, já que Pedro escreveu mais de 130 obras em seus 40 anos de carreira. Mas, de qualquer forma, dá para entender por que esses livros encantaram o garoto que, anos depois, publicaria histórias sobre canibalismo e outros crimes insólitos.

— O Pedro tinha uns livros que eram tipo Hitchcock, só que para crianças — diz Raphael, fazendo referência ao suspense psicológico que virou marca do cineasta inglês.

O primeiro exemplo que vem à mente de Raphael é “Brincadeira mortal”, sobre um jovem em recuperação na escola que se tranca no quarto para estudar. Assim como no maior clássico de Hitchcock, “Janela indiscreta”, o herói acidental acaba testemunhando um crime de sua janela.

Pedro, por sua vez, só foi ler o trabalho de Raphael após o mencionado encontro em 2016. O jovem escritor o presenteou com os quatro títulos que havia publicado até então, todos dentro do espectro policial/suspense/thriller: “Suicidas” (2012), “Dias perfeitos” (2014), “Vilarejo” (2015) e “Jantar secreto” (2016).

— O primeiro que li foi “Suicidas”, uma espécie de “Dez negrinhos” que nega a Agatha Christie, a mulher mais ascética do mundo — compara Pedro, de 81 anos, que será homenageado como a Personalidade Literária do Prêmio Jabuti 2023. — Ela escrevia com desinfetante nas mãos, mas era muito gostosa de ler. E aí o Raphael pega esse estilo todo inglês dela e faz um negócio muito mais ousado.

À medida que avançava na leitura dos outros títulos de Raphael, Pedro foi percebendo que ele tinha potencial para escrever para um tipo específico de leitor: aquele que vai do final da chamada terceira infância (7 aos 11 anos) até os 16 anos.

— Tá cheio de autor escrevendo para esse público, mas alguns são sérios demais, didáticos demais — opina Pedro, que já vendeu 28 milhões de exemplares em sua carreira. — Já eu e o Raphael não queremos ensinar coisa nenhuma. A gente quer que o menino ou a menina fique de cabelo em pé, que se apaixone pelo livro. E o texto dele tinha a ousadia certa para isso.

Pedro, então, lançou o desafio: e se o mais badalado autor de crime do momento adaptasse o seu estilo sangrento para um público mais jovem? Ocupado com seus livros para adultos e seus trabalhos para TV e cinema (ele é roteirista-chefe e produtor executivo da série “Bom dia, Veronica”, exibida pela Netflix), Raphael deixou o projeto em banho-maria por alguns anos. Até que, na pandemia, com as produções audiovisuais paralisadas, achou o timing ideal.

E resultado foi “A mágica mortal”, o tipo de livro que o próprio Raphael teria adorado ler em sua juventude. Quem comanda a investigação é o Esquadrão Zero, um grupo de amigos inspirado nos saudosos “Karas” dos livros de Pedro Bandeira. Os inseparáveis Pedro, Miloca, Analu e Pipa se unem para desvendar o mistério do assassinato de um amigo e acabam se envolvendo em uma trama com mágicos sinistros e um castelo imponente.

— Quando tive a ideia pro livro, perguntei ao Pedro: você já viu um livro juvenil que no primeiro capítulo tem o assassinato de uma criança e é essa morte que forma o grupo de investigadores? Ele respondeu: “Nunca vi. Faz!”.

A quatro mãos

Modesto, Pedro disse que não deu nenhuma contribuição para a escrita. Mas Raphael conta outra história:

— Mandei o livro para ele e ele me ligou para repassar página a página, tópico a tópico. Até o título foi sugerido por ele. A minha ideia era “O mestre dos mágicos”, mas Pedro não gostou e veio com uma ideia muito melhor.

Para o veterano, Rafael foi até o limite do que uma trama juvenil poderia suportar em termos de violência e provocação.

— Ele não perdeu a identidade dele, cutucou sempre o leitor porque sabe que o jovem quer sempre essa emoção a mais — diz. — O Rafa tem idade para ser meu neto, mas, quando a gente escreve, temos a mesma idade. Somos só dois escritores conversando.

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