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Por — Buenos Aires, Argentina


Jorge Luis Borges (1899-1986) e Adolfo Bioy Casares (1914-1999) — Foto: Divulgação
Jorge Luis Borges (1899-1986) e Adolfo Bioy Casares (1914-1999) — Foto: Divulgação

O garçom Ricardo Riaño, que trabalha há décadas no tradicional café La Biela, ponto turístico no bairro portenho da Recoleta, afirma que teve o privilégio de ser um observador assíduo de uma das amizades mais bonitas e profundas da literatura latino-americana: a que uniu por anos os escritores argentinos Jorge Luis Borges (1899-1986) e Adolfo Bioy Casares (1914-1999). Não por acaso, há uma mesa com estátuas de ambos sentados dentro do café que eles frequentaram juntos e onde, como lembra Riaño, passavam horas discutindo sobre literatura e sobre o mundo.

Os encontros não tinham dia nem hora certa para acontecer, e podiam se repetir várias vezes na mesma semana. Esta dinâmica refletiu a intensidade de uma relação entre amigos que nasceu quando Bioy era apenas Adolfito, tinha em torno de 15 anos e sonhava em ser escritor.

O livro “Bioy & Borges: obra completa em colaboração”, lançado em agosto no Brasil, mostra o diálogo literário vigoroso que existiu entre ambos, e traz, pela primeira vez para o público brasileiro, tudo o que escreveram juntos ao longo de décadas com os pseudônimos de H. Bustos Domecq e B. Suárez Lynch.

O encontro entre os dois escritores ocorreu numa época de ouro da cultura argentina, e foi promovido pela editora e agitadora cultural Victoria Ocampo, mecenas de artistas e descobridora de grandes talentos de todas as artes — e até mesmo da psicanálise, como Jacques Lacan, a quem tornou conhecido na Argentina quando ainda era um jovem prodígio em sua terra.

Amigos inseparáveis

Criadora em 1931 da emblemática Revista Sur, que publicou colaborações de grandes nomes da literatura argentina e latino-americana, Victoria conheceu Borges em 1927, quando ele tinha 28 anos. A escritora era amiga da mãe de Bioy Casares e, quando soube que Adolfito queria ser um homem das letras e precisava de alguém que lhe mostrasse o caminho das pedras, pensou imediatamente em Borges, que era 15 anos mais velho do que seu discípulo.

Capa do livro 'Bioy & Borges: obra completa em colaboração' — Foto: Divulgação
Capa do livro 'Bioy & Borges: obra completa em colaboração' — Foto: Divulgação

A jornalista e escritora argentina Mercedes García Ochoa, biógrafa de Victoria, lembra que em artigo publicado no Cahier de L’Herne (célebre coleção de monografias da editora francesa L’Herne) dedicado a Borges, a fundadora da Revista Sur conta como fez a conexão entre ambos os escritores e afirma que naquele momento tinha a certeza de que “entre eles nasceria, apesar da diferença de idade, uma grande amizade. Eu pressentia isso, mas nunca imaginei o quão forte seria”.

— Borges e Bioy foram amigos inseparáveis, na vida pessoal e profissional. Borges foi padrinho do casamento entre Bioy e Silvina Ocampo (irmã mais nova de Victoria e também escritora). Borges escreveu o prefácio do romance “A invenção de Morel”, de Bioy, e sua irmã, Norah Lange, fez a ilustração da capa — comenta Mercedes, que este ano publicou “Victoria”, pela editora Lumen.

O primeiro texto que os dois amigos escreveram juntos, em 1935, foi uma propaganda de coalhada e iogurte, a pedido de Miguel Casares, tio de Bioy. O aprendiz de escritor criou com Borges o folheto delirante, que inventava origens remotas para a fábrica e atribuía a seus produtos poderes mágicos. Assim, o texto que inaugurou a longeva parceria acabou sendo produzido a quatro mãos durante vários dias de trabalho na fazenda de Miguel Casares.

No livro “Borges”, calhamaço de 1.600 páginas compilado por Bioy a partir de anotações de seu diário, o autor lembra que naqueles dias “fazia frio, a casa estava em ruínas, e não saímos da sala de jantar, em cuja lareira queimavam chamas de eucalipto. Aquele folheto significou para mim um valioso aprendizado… toda colaboração com Borges equivalia a anos de trabalho”.

No mesmo livro, Bioy afirma que “por mais díspares que fôssemos como escritores, a amizade cabia, porque tínhamos uma paixão compartilhada pelos livros”.

Esta paixão levaria os dois a se tornarem referência da literatura latino-americana. Borges receberia o Prêmio Cervantes, o mais prestigiado das letras hispânicas, em 1979, e Bioy, em 1990.

A dupla escreveu contos policiais e fantásticos que faziam sátiras desses gêneros, roteiros de cinema, artigos e prefácios. Eles também editaram coleções de livros.

— A relação entre Borges e Bioy foi, primeiro, uma relação de admiração. Borges ensinou a Bioy, que pertencia a uma família rica, ferramentas da escrita. Eles se complementavam e passavam muito tempo juntos. Numa época, Borges jantava quase todas as noites na casa de Bioy e Silvina — conta Juan Negri, presidente da Fundação Sur, que herdou os direitos das obras de Victoria Ocampo.

Relação 'tensa, mas frutífera'

O papel de Victoria na amizade entre os dois escritores é central. A famosa mecenas de artistas argentinos não teve uma boa relação com Bioy, e promoveu muito mais a obra de Borges, dentro e fora da Argentina, do que a de seu cunhado.

— Victoria não era uma pessoa fácil de se relacionar, e Bioy teve sempre um certo ressentimento em relação a ela — diz Negri.

Borges, por sua vez, deve a Victoria sua entrada nos mercados francês e americano, e teve com ela uma relação menos conturbada. Mas, em determinados momentos, também se rebelou e enfrentou o jeito imperial de Victoria, como comenta o presidente da Fundação Sur.

A biógrafa da escritora define a relação entre Borges e Victoria como “tensa, mas frutífera para ambos”.

— Em 1980, numa homenagem da Unesco a Victoria Ocampo (morta em 1979), Borges fez um discurso elogioso, no qual expressou sua gratidão e admiração: “A lembrança de Victoria Ocampo me acompanhou sempre. Eu não era ninguém, era um rapaz desconhecido em Buenos Aires… e ela me viu, me destacou quando comecei a ser eu” — conta Mercedes.

Uma das coisas de que Borges e Bioy mais gostavam de fazer juntos, além de escrever, era caminhar por Buenos Aires. Percorriam vários bairros da cidade a pé e perdiam a noção do tempo. Em um de seus diários, que depois viraram livro, Bioy revela que no primeiro encontro com Borges, numa festa organizada por Victoria Ocampo, sua admiração inicial “não foi pelos escritos de Borges, mas por seu pensamento expresso em conversas”.

Essas intermináveis conversas duraram décadas, e tiveram como cenário ruas, salas de jantar e cafés portenhos.

E eles falavam de tudo. A vida amorosa de Bioy Casares — revela Juan Negri, o presidente da Fundação Sur — causava constrangimentos em Borges, mas a cumplicidade entre ambos era absoluta. Após a morte de Silvina, Bioy encontrou um filho, fruto de uma de suas relações extraconjugais, que posteriormente adotou o nome de seu pai biológico.

Mas Borges acompanhava os eventos da vida de Bioy sem julgamentos, e ambos, lembra o diretor da Fundação Sur, “costumavam rir um do outro”.

Bioy, por seu lado, nunca se conformou com o casamento de Borges com Maria Kodama, em seus últimos anos de vida. Inclusive, soube pelos jornais que seu amigo tinha se mudado para Genebra, onde morreu, em 1986.

— Bioy não foi aluno de Borges, mas Borges foi quem o ajudou a criar seu estilo. A escrever, por exemplo, com menos adjetivos. É uma das amizades mais notáveis na história da literatura mundial — enfatiza o presidente da Fundação Sur.

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