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Por — São Paulo

Anunciado nesta quarta-feira (20), o fechamento das cinco lojas remanescentes da Saraiva, que há poucos anos era a maior rede de livrarias do país, não surpreendeu o mercado editorial. Conforme noticiado pela coluna Capital, do GLOBO, a empresa demitiu todos os funcionários e passará a operar apenas como site de e-commerce. Embora lamentem, editores ouvidos pela reportagem afirmam que já esperavam o encerramento das atividades das lojas, uma vez que a empresa, em recuperação judicial desde 2018, havia interrompido novamente o pagamento dos fornecedores. Várias editoras já haviam deixado de enviar seus títulos para a Saraiva, que chegou a ter 108 lojas e representar cerca de um terço do comércio de livros no país.

Em 2018, a Saraiva pediu recuperação judicial (no que foi seguida pela Livraria Cultura logo depois). As dificuldades das duas redes, que tinham dívidas milionárias com as editoras, aprofundaram ainda mais a crise de uma indústria que já andava mal das pernas devido à recessão econômica. No início deste ano, a Saraiva ainda contava com mais de 30 lojas, mas a maioria fechou as portas nos últimos meses. Até quarta-feira, restavam apenas cinco unidades: duas em São Paulo, uma em Jundiaí, uma em Ribeirão Preto e uma em Campo Grande.

Diretor da Globo Livros, Mauro Palermo lembra que a Saraiva já foi a principal parceira comercial da editora. No entanto, após anos de dificuldades, tornou-se “irrelevante”. Após o pedido de recuperação judicial, lembra Palermo, a empresa passou a honrar os compromissos assumidos e os negócios voltaram. Mas veio a pandemia, que o editor descreve como “o último prego no caixão" da rede.

— A Saraiva ainda se manteve forte ao longo de 2019, mas perdeu tudo na pandemia. Algumas lojas nem reabriram. E agora, no começo de 2023, voltou a falhar nos pagamentos e as dívidas se acumularam — explica Palermo. — Como já havíamos parado de fornecer livros, o impacto do fechamento das lojas será praticamente nulo.

Presidente do Grupo Editorial Record, Sônia Machado Jardim foi categórica: o fechamento das lojas da Saraiva “não trará nenhum impacto neste momento”, pois as editoras já absorveram o prejuízo financeiro causado pela recuperação judicial.

— Lastimamos esse final tão triste para uma empresa que teve tanta relevância no mercado editorial. A Saraiva foi nosso maior cliente no passado e dá muita pena ver esta derrocada, que nada tem a ver com o livro ou o leitor. Acabamos de passar por uma Bienal histórica, em que ficou evidente a força do livro e a paixão do leitor. Os problemas da Saraiva foram gestão e decisões estratégicas equivocadas — completa Sônia.

Gerson Ramos, gerente comercial da Planeta, também lamenta o fechamento das lojas e espera que os pontos sejam ocupados por outras redes de livrarias, com modelos de gestão “mais transparentes”. A Planeta não fazia negócios com a Saraiva desde março de 2020.

— Quando as lojas fecharam no começo da pandemia, a Saraiva voltou a interromper o pagamento. Quem continuou fornecendo livros trabalhava com um limite de crédito muito baixo. Optamos por parar, apesar dos problemas que isso poderia nos acarretar, como menos visibilidade para os nossos títulos — afirma.

Judith Almeida, gerente comercial do Grupo Autêntica, conta que, no ano passado, a editora voltou a fornecer livros para a rede. E as vendas estavam boas, atingindo 70% do que era inicialmente esperado. No entanto, há poucos meses, devido à falta de pagamentos, interromperam outra vez os negócios. A Saraiva também já havia sido a maior cliente da Autêntica. A editora chegava a fazer tiragens extras só para atender a rede, que, nos últimos tempos, já não representava nem 10% dos negócios do grupo.

— Mesmo com poucas lojas e problemas de imagem, a Saraiva ainda era uma grande vendedora de livros de interesse geral — diz Judith. — Se tivesse as condições financeiras necessárias, ainda seria um player interessante. Mas sem geração de caixa, sem aporte de dinheiro novo (o que sabemos que não vai acontecer), realmente não dá.

No passado, a Saraiva se notabilizou por ser capaz de transformar lançamentos em best-sellers. Com a recuperação judicial, o mercado precisou se reacomodar. Redes como Leitura, Curitiba e Vila cresceram, mais lojas de rua abriram e as editoras diminuíram tiragens e começaram a vender em seus próprios sites (prática condenada pelos livreiros). No entanto, o mercado ainda não encontrou um substituto à altura daquela que já foi a maior rede de livrarias do país. Nem a Amazon. A gigante do varejo on-line é boa para vender livros do fundo de catálogo (ou seja, publicados já há algum tempo). Já as lojas físicas são imbatíveis na venda de lançamentos.

Além disso, enquanto o cliente da Amazon já entra no site sabendo que livro vai colocar no carrinho, quem passeia por livrarias com frequência compra por impulso. Foi só no ano passado que as livrarias virtuais superaram as lojas físicas em vendas. Segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial, realizada pela Nielsen BookScan, em 2022, o varejo on-line representou 35,2% do faturamento das editoras. Já a livrarias contribuíram com 26,6% do total.

Os editores ouvidos pelo GLOBO, porém, acham difícil que, a esta altura, a Saraiva consiga viabilizar uma operação on-line.

— Quem é que vai oferecer livros para o site de uma empresa tão inadimplente e descapitalizada? — questiona Judith, da Autêntica. — Só se eles se associarem a um marketplace que já existe.

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