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Por — São Paulo

Até pouco tempo, a atriz Denise Fraga nunca tinha lido “Orgulho e preconceito”, romance de Jane Austen (1775-1817), publicado em 1813, que já virou série da BBC e filme com Keira Knightley e Matthew Macfadyen (de “Succession”). Mergulhou na história de Elizabeth Bennet e Sr. Darcy porque foi convidada para interpretá-la. Mas desta vez não no teatro ou na TV. Narrado pela atriz, “Orgulho e preconceito” integra o catálogo da Audible, serviço de audiolivros da Amazon, que estreia nesta terça-feira (3) no Brasil. A plataforma está recheada de clássicos lidos por vozes conhecidas do público brasileiro, como Maitê Proença (“O cortiço”, de Aluísio Azevedo), Marcos Palmeira (“Dom Casmurro”, de Machado de Assis) e Clarice Falcão (“Um teto todo seu”, de Virginia Woolf).

— Virei aquela pessoa que sai perguntando: “Você já leu Jane Austen?”. “Orgulho e preconceito” é um livro que precisa ser lido e ouvido. Se optarem por ouvir na minha voz, vou ficar muito feliz — afirma Denise, que penou para não tropeçar na “linguagem rebuscada” da romancista inglesa. — Nunca tinha visto tanta oração subordinada no mesmo parágrafo (risos)!

Criada em 1995, nos Estados Unidos, a Audible foi comprada pela Amazon por cerca de US$ 300 milhões em 2008 e já opera em 11 países, como Canadá, Índia, Japão, Itália e Alemanha. A plataforma chega ao Brasil com um catálogo de mais de 100 mil títulos (cerca de 4 mil em português) disponíveis para os assinantes (por R$ 19,90 mensais), além de outros 500 mil audiolivros que devem ser adquiridos à parte. A Audible oferece um período de teste gratuito de 30 dias para novos usuários. O prazo se estende para três meses para assinantes Amazon Prime, que também têm desconto de 30% na compra de títulos. O conteúdo pode ser baixado em smartphones, tablets e computadores.

O Brasil é o primeiro mercado da Audible na América Latina. Em entrevista ao GLOBO, o CEO Bob Carrigan afirma que a chegada do serviço ao país foi antecedida por pesquisas sobre o mercado nacional e muito investimento. Ele cita um levantamento da Audible Compass que mostrou que, este ano, 90% dos brasileiros ouviram conteúdo em áudio (podcasts ou audiolivros): 51% para relaxar, 27% enquanto se ocupam de tarefas domésticas e outros 27% durante o preparo de refeições. 81% acredita que os audiolivros podem ajudar a reduzir o tempo de tela e 95% apostam que ouvir histórias vai incentivá-los a ler mais.

O mercado de audiolivros ainda é pequeno no Brasil. Segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o faturamento com a venda e-books e audiolivros cresceu 95% entre 2019 e 2022. Puxado pelos e-books, o segmento gerou 6% da receita das editoras no ano passado. Os audiolivros representaram apenas 2% das vendas de conteúdo digital à la carte em 2022.

Antes da Audible, outras plataformas já tentaram desbravar o mercado, como as nacionais Tocalivros, Ubook e Supersônica (recém-criada, que foca no público com deficiência visual). Em 2019, a sueca Storytel, aportou por aqui. No mesmo ano, as editoras Intrínseca, Record e Sextante se juntaram para lançar a Autibooks, serviço de venda de audiolivros à la carte, mas a iniciativa não prosperou.

Presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Dante Cid diz ao GLOBO que a chegada de um novo player ao Brasil “cria um ambiente de concorrência saudável” e contribui para a popularização dos audiolivros no país. Carrigan, o CEO da Audible, acredita que a expertise da plataforma aliada à familiaridade da população brasileira com aparelhos e serviços digitais garantirão o sucesso dos audiolivros por aqui.

— A Aubible basicamente inventou os audiolivros. Sabemos do que o público gosta e como ele consome o nosso conteúdo. Os audiolivros enriquecem nossas vidas, pois são capazes de preencher os tempos mortos, quando nossos olhos e nossas mãos estão ocupados, melhor do que qualquer outra mídia — afirma. — Uma prova de que o audiolivro está ficando pop é que cada vez mais celebridades estão abraçando o formato e nos emprestando suas vozes.

A estratégia de escalar narradores famosos já foi usada em outros países. No EUA, a empresa contratou astros hollywoodianos como Anne Hathaway, Samuel L. Jackson e Diane Keaton. Diretora-geral da operação no Brasil, Adriana Alcântara explica que a Audible planeja conquistar o público brasileiro com uma combinação de vozes conhecidas e um catálogo vasto, que vai dos clássicos à autoajuda passando pela literatura contemporânea e inclui livros tão díspares como “Tudo é rio”, de Carla Madeira, e “O capital”, de Karl Marx, "O senhor dos anéis" e a biografia de Rita Lee. Para garantir um catálogo robusto, a Audible firmou parcerias com as principais editoras brasileiras, como Companhia das Letras, Record, Sextante, Intrínseca e HarperCollins.

— Nosso objetivo é oferecer um serviço com sabor local. Queremos que ele sinta como se tivesse Denise Fraga na sala de casa lendo “Orgulho e preconceito”. Quem não quer isso? — diz Adriana.

A Audible já produziu mais de 1.500 audiolivros no Brasil e trabalhou com mais de 500 narradores locais, como o ator Du Moscovis, que deu voz a “O Ateneu”, de Raul Pompeia. O romance, publicado em 1888, conta a experiência de um rapaz chamado Sérgio em um colégio interno que logo se revela uma metáfora da sociedade brasileira. Moscovis, que dublou Tarzan no filme da Disney, conta ao GLOBO que, quando começou a gravar o audiolivro, se viu “catapultado para os anos 1990”, quando participou de uma montagem teatral de “O Ateneu” comandada por Carlos Wilson (diretor mais conhecido como Damião). Ouvinte de podcasts, o ator torce para pela popularização dos audiolivros no Brasil.

— Sou autônomo há quase 20 anos e acho que o audiolivro pode abrir portas de emprego para muita gente, de atores a técnicos — diz ele.

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