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Por — São Paulo

Jon Fosse, que venceu o Prêmio Nobel de Literatura nesta quinta-feira (5), escreve em uma variante do norueguês criada no século XIX sob inspiração do nacional-romantismo. O nynorsk (neonoruguês) combina diversos dialetos da costa oeste da Escandinávia e, ao lado do bokmål (literalmente, “língua dos livros”), é o idioma oficial do país. Tanto o nynorsk quanto o bokmål são ensinados nas escolas e inteligíveis entre si.

Tradutor de “Brancura”, romance de Fosse que a editora Fósforo lança este mês, Leonardo Pinto Silva explicou ao GLOBO que a variante linguística foi padronizada pelo filólogo e lexicográfico Ivar Aasen (1813-1896) e se inspirou no trabalho dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, que compilaram fábulas germânicas e criaram o “Dicionário definitivo da língua alemã”.

A ambição de Aasen era unificar os diversos dialetos falados na costa norueguesa, muitos dos quais derivavam do nórdico antigo e foram falados pelos vikings. Até hoje, múltiplas variantes linguísticas convivem no país. Na impossibilidade de encontrar uma única palavra que contemplasse todos os dialetos, Aasen criava novos vocábulos a partir do radical em nórdico antigo (que hoje equivale ao islandês). Em 1885, o nynorsk foi elevado a língua oficial do país, que tem dois nomes em norueguês: Norge (bokmål) e Noreg (nynorsk).

A convivência dos dois idiomas às vezes causa confusões. Pinto Silva conta que, nos anos 1980, quando os noruegueses passaram a viajar mais para o exterior, e a coroa (moeda oficial do país) começou a circular pela Europa, muita gente no continente não aceitava cédulas com a inscrição “Noreg” por acreditar que se tratavam de notas falsas. O tradutor explica que, no cotidiano, ninguém fala nynorsk, mas dialetos mais próximos dessa variante linguística, que é marcada pela oralidade. O bokmål, por sua vez, tem uma gramática mais consolidada, pois vem do dinamarquês.

— O bokmål é mais falado em Oslo e nos centros urbanos. Ninguém fala nynorsk do jeito que ele é escrito, até por conta da origem idiossincrática dessa variante. A Noruega tem milhares de dialetos ininteligíveis entre si. Veja a palavra “eu”, por exemplo. Em bokmål se diz “jeg”. Em nynorsk, “eg”. Mas também é possível dizer “ei”, “æ”, “e” “je’”... — afirma Pinto Silva, que também é tradutor de “A morte do pai”, primeiro volume da série “Minha luta”, do escritor norueguês Karl Ove Knausgård, e "O mundo de Sofia", de Jostein Gaarder.

Pinto Silva, que morou na cidade onde Fosse nasceu, Haugesund, afirma que a adoção do nynorsk, permite o Nobel escrever de maneira mais “lírica”, “poética” e “desconcertante”.

— Fosse, ao lado de Tarjei Vesaas (1897-1970) e de Olav Hauge (1908-1994), que é bardo nacional, é um artífice dessa variante minoritária, desse idioma lírico, que marcado pela oralidade e amplia as possibilidades criativas quando transposto para a escrita — diz ele, que também ressalta que a variante impõe desafios aos tradutores. — O nynorsk é como se fosse fala de mineiro, sabe? Diz uma coisa e ao mesmo tempo não diz. Não dá para tomar uma palavra pelo seu valor de face, porque ela também pode significar o contrário — afirma.

O tradutor dá um exemplo: a expressão “slik som det var”, que, literalmente, quer dizer “tal como era” é repetida frequentemente pelos personagens para confirmar o que haviam ido imediatamente antes. Por sugestão da editora Maria Emilia Bender, Pinto Silva traduziu a expressão por “certeza”, para reforçar o tom coloquial.

Os três noruegueses que levaram o Nobel de Literatura antes de Fosse — Bjørnson (1903), Knut Hamsun (1920) e Sigrid Undset (1928) — escreviam em bokmål. Os expoentes da literatura norueguesa, como o dramaturgo Henrik Ibsen (1828-1906) e Karl Ove Knausgård, também preferiram a “língua dos livros”.

A ministra da Cultura da Noruega, Lubna Jaffery, disse à Associated Press que o Nobel para Fosse marca “um dia histórico para a língua nynorsk e a literatura nynorsk”.

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