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Por — São Paulo

O escritor norueguês Jon Fosse venceu o Prêmio Nobel de Literatura de 2023, anunciado às 8h (horário de Brasília) desta quinta-feira (5) pela Academia Sueca. Considerado um dos grandes autores de sua geração, Fosse é celebrado por transitar entre a prosa e a poesia, o ensaio e a ficção, o teatro e os títulos infantis. Sua obra é permeada por investigações existenciais sobre a morte, o amor, a fé e o desespero. Em entrevistas, ele já afirmou buscar uma prosa que replique o ritmo de oração.

Segundo o secretário permanente da Academia Sueca, Mats Malm, Fosse, que foi laureado "por suas peças e prosa inovadoras que dão voz ao indizível", foi avisado do prêmio enquanto dirigia por um fiorde norueguês (cenário que se repete em seus livros). O escritor disse estar "arrebatado e um pouco assustado". Ele já frequentava as listas de apostas do Nobel há mais de uma década. Este ano, passou os dias anteriores à premiação no tipo da lista do Nicer Odds, um dos principais sites de aposta do Reino Unido.

Fosse estreou na literatura em 1981, com a publicação do conto “Han” em um jornal estudantil. Em 1983, lançou “Raud, svart” (Vermelho, negro), seu primeiro romance. Por sua “Trilogia” (composta por três novelas sobre a história de amor de Asle e Alida), recebeu o prestigioso Prêmio Literário do Conselho Nórdico. Seus livros já foram traduzidos em mais de 50 idiomas.

Fosse escreve em nynorsk (neonorueguês), variante linguística criada no século XIX, sob inspiração do nacional-romantismo, que combina diversos dialetos costeiros.

O novo Nobel de Literatura tem dois livros publicados no Brasil: “Melancolia”, editado pela Tordesilhas em 2015, e “É a Ales”, lançado em setembro pela Companhia das Letras. Em 19 de outubro, a Fósforo envia mais um às livrarias: “Brancura” (e-book, porém, estará disponível a partir do dia 7).

“Melancolia” narra a jornada tortuosa de um personagem real, Lars Hertervig (1830-1902), pintor inseguro e delirante, que nasceu pobre no interior da Noruega, mas acabou descoberto por em mecenas e enviado para estudar na Alemanha. Em “É a Ales”, um narrador onisciente costura, com delicadeza e precisão, as reminiscências de Signe, uma mulher cujo marido (Asle) desapareceu após sair de barco em um fiorde. As vírgulas são o único sinal de pontuação usado no livro.

Já “Brancura” é um romance onírico protagonizado por um homem que começa a dirigir sem rumo e, desconhecendo as próprias motivações, conduz seu carro até uma floresta. Quando seu trajeto é interrompido pela noite e pela neve, ele decide se aventurar pela mata escura, onde se depara com um ser de brancura reluzente.

Para o ano que vem, a Companhia das Letras promete o lançamento da "Trilogia" do autor. Já a Fósforo prepara uma antologia de poemas e outra de peças do norueguês. No ano seguinte, a editora vai publicar a "Septologia", romance de mil páginas considerado por muitos a obra-prima do escritor.

'Prosa lenta'

No ano passado, Fosse disse à revista americana The New Yorker que era "apenas um cara esquisito do oeste da Noruega, da parte rural da Noruega". Nascido em Haugesund, em 1959, ele sofreu um grave acidente aos sete anos de idade, que quase lhe custou a vida. O autor já admitiu que essa experiência deixou marcas profundas em sua escrita. "Me criou como artista", disse.

Fosse estudou literatura comparada na Universidade de Bergen, onde leu Marx e se converteu em uma espécie de anarquista hippie. Também tocou em uma banda de rock. O primeiro texto que escreveu, no início da adolescência, foi uma canção. "Para mim, escrever é escutar, é um ato mais musical que intelectual", afirmou certa vez, associando seu passado musical a sua carreira literária. "Em um texto, a forma deve ser extremamente exata, cada vírgula deve ser medida para que, ao ler, você possa sentir as ondas, as batidas, as mudanças de ritmo à medida que a trama avança. Essa unidade entre forma e conteúdo é necessária. A escrita é igual ao ser humano: não se pode separar a alma do corpo, um cadáver não é uma pessoa."

Ex-ateu, o escritor se converteu ao catolicismo em 2021. Na mesma época, começou a tratar seu alcoolismo e se casou pela segunda vez. "Nunca consegui escrever quando bebia. Ficava sentimental, perdia a precisão, a agudeza, o foco, a claridade", revelou a um jornal espanhol.

Convertido e sóbrio, começou a escrever sua “Septologia”, romance em sete volumes que consiste em uma única frase e exemplifica o que o próprio Fosse descreveu como sua “prosa lenta”. O narrador da “Septologia”, um pintor chamado Asle, abraça o catolicismo após a morte de sua esposa, Ales. Após uma bebedeira na véspera de Natal, ele é tomado por memórias, que se repetem e se misturam, como se formassem uma consciência difusa, capaz de transcender o tempo e o espaço. Fosse disse que, ao escrever a “Septologia”, procurava uma espécie de “paz”.

Famoso por sua prosa precisa e sua pontuação pouco convencional, ele já reconheceu publicamente não ser um autor dos mais fáceis. "Ninguém lê meus livros pelas histórias", afirmou. "Não é que eu queria ser um escritor difícil. Nunca tentei escrever de maneira complicada. Sempre tento escrever da maneira mais simples e, espero, profunda possível".

Fosse também é um dos dramaturgos mais montados na Europa. Ele já teve diversas peças apresentadas no Brasil, como “Noturnos”, “Sonho de outono”, “Alguém vai vir”, “Um dia no verão” e “O nome”. Assim como a prosa, a dramaturgia do norueguês se caracteriza por combinar estruturas complexas, que suspendem a temporalidade, e diálogos repetidos, ritmados e aparentemente simples. Segundo ele, não há melhor tema para uma peça de teatro do que o ciúme.

Com frequência comparado Samuel Beckett (1906-1989), Fosse já chamou o escritor e dramaturgo irlandês de “pai literário”. Para homenagear o autor de “Esperando Godot”, deu o título de “Alguém vai vir” a uma de suas peças, que se tornou célebre ao ser encenada pelo diretor francês Claude Régy.

Entre um romance e outro, Fosse traduz. Mandando a modéstia às favas, já descreveu sua tradução de "O processo", de Franz Kafka, como a "mais confiável em uma língua escandinava". Ele também gosta de traduzir tragédias gregas.

Embora seja dado a questões existenciais, Fosse quase não pensa na morte. "Eu acho que à medida que você envelhece, você pensa menos na morte", disse à New Yorker. "Acho que foi Cícero (filósofo romano) quem disse que a filosofia era uma maneira de aprender a morrer. Eu acho que a literatura também é um uma maneira de aprender a morrer. Porque a literatura fala sobre tanto sobre a morte quanto sobre a vida. Acho que isso tem a ver com a forma da grande literatura, da arte. A arte ganha vida quando é criada, e então vem o leitor, que pode lhe dar vida outra vez. Mas o objeto da arte é a morte."

Fosse é o quarto norueguês a arrematar o Nobel de Literatura. Antes dele, Bjørnstjerne Martinus Bjørnson (1903), Knut Hamsun (1920) e Sigrid Undset (1928) foram premiados pela Academia Sueca. Ele sucede a francesa Annie Ernaux, laureada no ano passado.

O Prêmio Nobel de Literatura é de 10 milhões de coroas suecas (R$ 4,7 milhões).

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