A cerimônia que premiaria o romance de uma autora palestina na Feira do Livro de Frankfurt na semana que vem foi cancelada “devido à guerra em Israel”. A anúncio foi feito nesta sexta-feira (13) pela Litprom, associação literária alemã que concederia o prêmio ao livro "Detalhe menor", de Adania Shibli. Em comunicado, a Litprom acrescentou que a decisão foi tomada em conjunto com a autora. "Ninguém está no espírito de celebração no momento", acrescenta a nota.
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O romance de Shibli conquistou em 26 de julho o LiBeraturpreis, entregue anualmente pela Litprom a autores do chamado Sul Global (África, Ásia, América Latina e mundo árabe) e apresentado na Feira do Livro de Frankfurt, um dos maiores encontros do mercado editorial mundial. O prêmio, de 3 mil euros, foi decidido por um júri de cinco especialistas.
O romance “Detalhe menor" foi publicado no Brasil em 2021 pela editora Todavia, com tradução de Safa Jubran. A primeira parte se passa em 1949, um ano depois da formação do Estado de Israel e da expulsão de milhares de palestinos de suas terras, quando soldados israelenses atacam um grupo de beduínos no deserto de Neguev, dizimando a todos, exceto uma adolescente, que é capturada e violentada. Na segunda parte da história, que ocorre décadas depois, uma jornalista de Ramallah, na Cisjordânia, tenta entender aquele crime. Na declaração anunciando o prêmio, a Litprom disse que o romance de Shibli era uma "obra de arte rigorosamente composta que fala do poder das fronteiras e do que os conflitos violentos fazem das pessoas". A tradução do livro em inglês foi indicada ao americano National Book Award em 2020 e ao britânico International Booker Prize em 2021.
Nascida em 1974, Adania Shibli vive e trabalha em Berlim e Jerusalém. Seus primeiros dois romances receberam o prêmio para jovens escritores da A. M., Qattan Foundation. A autora palestina é atualmente escritora residente na Literaturhaus Zurich e, em 2021, ocupou a cátedra convidada Friedrich Dürrenmatt de Literatura Mundial na Universidade de Berna, Suíça.
Prêmio controverso
A Litprom diz que pretende premiar Shibli em momento mais oportuno. É algo que Eva Menasse, porta-voz da associação de escritores PEN Berlin, espera que aconteça. "Nenhum livro se torna diferente, melhor, pior ou mais perigoso porque a situação noticiosa muda", diz Menasse. "Ou um livro é digno de um prêmio, ou não é. A decisão do júri sobre Shibli, que foi tomada semanas atrás, foi, na minha opinião, muito boa. Retirar o prêmio dela seria fundamentalmente errado do ponto de vista político e do ponto de vista literário."
A controvérsia na Alemanha em torno do romance começou no meio do ano, quando Ulrich Noller, jornalista do júri da Litprom, renunciou quando ficou definido que o livro de Shibli seria premiado. Um crítico literário do Die Tageszeitung, jornal de Zurich, na Suíça, reacendeu o debate esta semana, acusando o livro de retratar “o Estado de Israel como uma máquina assassina”, embora outros críticos alemães tenham elogiado o romance.
Juergen Boos, diretor da Feira do Livro de Frankfurt, disse num comunicado que a organização condenou veementemente “o terror bárbaro do Hamas contra Israel”, acrescentando: “Os nossos pensamentos estão com as vítimas, os seus familiares e todas as pessoas que sofrem com esta guerra”. No mesmo texto, Boos disse que os organizadores decidiram dar mais espaço para vozes israelenses na feira. Para esse fim, a autora e ativista pela paz Lizzie Doron, que vive em Tel Aviv e Berlim, falará sobre os acontecimentos atuais em Israel na gala de literatura no dia 21 de outubro.