Em suas próprias palavras, o romance de estreia de Tobias Carvalho gira em torno de “relacionamentos abertos, gays confusos e drag queens”. Não necessariamente nesta ordem. Contista premiado (“As coisas” levou o Sesc de Literatura em 2018 e “Visão noturna” foi o livro do ano do Açorianos em 2021), o gaúcho acaba de marcar outro tento: seu “Quarto aberto” é desavergonhadamente pop e ao mesmo tempo leva o leitor a refletir sobre novos modelos de relações ao embaralhar as vidas amorosas de quatro jovens gays de Porto Alegre.
O protagonista Artur trabalha numa livraria e se apresenta como drag queen no bar Workroom, da cena real da capital gaúcha. Seu companheiro Caíque se equilibra entre a militância de esquerda e o trabalho no mercado financeiro. Eles têm uma relação aberta, nem por isso liberta de silêncios incômodos. Anos após viver uma paixão confusa com Artur e enquanto investe no namoro monogâmico com Antônio, o misterioso Eric decide procurar novamente o ex. E inicia assim a microquadrilha drummondiana da história.
— A monogamia está em disputa, tem seus problemas e, ao mesmo tempo, ainda é rara a ficção que se debruça sobre relacionamentos abertos. O livro não é uma defesa deles, que, no entanto, me interessam ao já carregarem, por definição, a oposição ao padrão, prato cheio para um romance — diz Carvalho. —Não tenho pudor algum em escrever cenas de sexo. Elas fazem parte da experiência da vida e têm muito a ver com o que as pessoas estão sentindo. Exatamente por isso, são, em geral, reveladoras. Meu objetivo não foi dar tesão no leitor, e sim investigar o que os personagens de “Quarto aberto” estavam sentindo.
‘Quarto aberto’. Autor: Tobias Carvalho. Editora: Companhia das Letras. Páginas: 248. Preço: R$ 69,90.