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Por — Rio de Janeiro

Mesmo que 2023 ainda não tenha chegado ao fim, o ano foi bastante promissor na publicação de quadrinhos produzidos por mulheres, não só no circuito independente, com destaque para a campanha de financiamento coletivo do álbum “O livro dos pássaros”, que bateu em 1.600% a meta estipulada por sua autora, a curitibana Lark.

Dentre os mais de 20 títulos publicados por editoras conhecidas do grande público, vale destacar ao menos cinco (em destaque abaixo) que, além da autoria feminina, trazem protagonistas do mesmo gênero, numa combinação que reúne luta por direitos iguais e empoderamento feminino. Há desde quadrinho de estreia, biográfico, mangá e até mesmo autobiográfico, em que sua autora revela com coragem a barra que foi trabalhar num ambiente extremamente masculino onde sofreu assédio.

Segundo Gabriela Borges, que fundou e edita a “Mina de HQ” — revista focada na diversidade e que acaba de ganhar o prêmio HQMIX de Melhor Publicação Independente de Grupo —, o grande número de títulos produzidos por mulheres reflete o interesse do público:

— Acho que esse foi mesmo um bom ano, pensando que várias obras importantes de autoras mulheres (Liv Strömquist, Chantal Montellier, Nora Krug e Maia Kobabe, uma pessoa não binária) foram publicadas aqui no Brasil. Não faz sentido não atender a uma demanda crescente de quem lê quadrinhos além dos nomes óbvios do mainstream. A publicação e divulgação de autoras mulheres deveria ser algo normal e não parte de uma estratégia pontual. E seria ótimo também ver mais diversidade para além das autoras mulheres cisgênero. Sou otimista, mas realista.

1. 'Patos: dois anos nos campos de petróleo', de Kate Beaton

HQ Patos: dois anos nos campos de petróleo”, de Kate Beaton — Foto: Divulgação
HQ Patos: dois anos nos campos de petróleo”, de Kate Beaton — Foto: Divulgação

Recém-formada com um diploma duplo em História e Antropologia, mas sem emprego à vista e muito menos perspectiva de quitar o empréstimo estudantil, a canadense Kate Beaton resolveu sair da casa dos pais na Nova Escócia e cruzar o país para trabalhar numa empresa de extração de petróleo na reserva de areias betuminosas de Alberta. Mesmo com um bom salário, a experiência não foi das melhores, pois o trabalho era rigorosamente difícil e o ambiente, extremamente masculino, com assédio de toda espécie. Dezoito anos depois e já estabilizada como cartunista profissional, Kate resolveu narrar em quadrinhos o período árduo de trabalho no Oeste do Canadá em “Patos: dois anos nos campos de petróleo”. São mais de 400 páginas em tons de cinza de uma história pessoal bastante franca e corajosa que renderam à autora dois prêmios Eisner: Melhor Obra Autobiográfica e Melhor Roteirista/Artista. Um dos grandes quadrinhos do ano.

‘Patos’: dois anos nos campos de petróleo. Autor: Kate Beaton. Tradutor: Caroline Chang. Editora: WMF Martins Fontes. Páginas: 440. Preço: R$ 99,90

2. 'Ópera Negra', de Clara Chotil

HQ “Ópera negra”, de Clara Chotil — Foto: Divulgação
HQ “Ópera negra”, de Clara Chotil — Foto: Divulgação

A vida de Maria d’Apparecida foi tão intensa que não virou filme, mas uma história em quadrinhos chamada “Ópera negra”. A autora, a franco-brasileira Clara Chotil, partiu da biografia da fascinante personagem, escrita por sua própria mãe, Mazé Torquato Chotil, para quadrinizar a vida de Maria, filha de empregada doméstica que se tornou órfã aos 8 anos de idade e, adulta, fez sucesso como locutora de rádio. Depois, estudou canto lírico, mas, por ser negra, não conseguiu exercer a nova profissão no Brasil. Partiu, então, para a França, onde fez sucesso como cantora da Ópera de Paris, além de musa de artistas do movimento surrealista francês. Uma mulher libertária, que enfrentou o racismo e viveu de forma impetuosa e com muita paixão pela música.

‘Ópera negra’. Autor: Clara Chotil. Tradução: Alexandre Barbosa de Souza. Editora: Veneta. Páginas: 192. Preço: R$ 124,90.

3. 'Sunny Sunny Ann', de Miki Yamamoto

Mangá “Sunny Sunny Ann”, de Miki Yamamoto — Foto: Divulgação
Mangá “Sunny Sunny Ann”, de Miki Yamamoto — Foto: Divulgação

Para onde o destino a levará, ela não sabe, mas Ann, protagonista de “Sunny Sunny Ann”, só quer ser uma mulher livre e feliz a bordo de seu carro, pela estrada, neste adorável mangá de Miki Yamamoto que celebra o empoderamento feminino. A arte, num preto e branco esfuziante, traduz com perfeição a urgência deste road movie lido do fim para o início, como de costume na leitura oriental. E, assim, guiada pelo vento, Ann descobre pessoas e lugares por onde quer que ela pare.

‘Sunny Sunny Ann!’. Autor: Miki Yamamoto. Tradução: Cecília Yuri Takahashi. Editora: JBC. Páginas: 200. Preço: R$ 39,90.

4. 'A cegueira iminente de Billie Scott', de Zoe Thorogood

HQ “A cegueira iminente de Billie Scott”, de Zoe Thorogood — Foto: Divulgação
HQ “A cegueira iminente de Billie Scott”, de Zoe Thorogood — Foto: Divulgação

Como o próprio título do quadrinho “A cegueira iminente de Billie Scott” entrega, a protagonista desta história está ficando cega. Ainda assim, Billie está mais preocupada em encontrar dez pessoas para retratar em sua primeira exposição, marcada para dali a alguns meses. Zoe Thorogood estreia no gênero com muita retícula e uma paleta de cores enxuta e diferente, que remete ao expressionismo. Por outro lado, tematicamente, a quadrinista inglesa faz uma narrativa em que sua angustiada personagem busca a realização artística enquanto encontra a si mesma.

‘A cegueira iminente de Billie Scott’. Autor: Zoe Thorogood. Trad.: Andressa Lelli. Ed.: Conrad. Páginas.: 160. Preço: R$ 89,90.

5. 'O grande vazio', de Léa Murawiec

HQ “O grande vazio”, de Léa Murawiec — Foto: Divulgação
HQ “O grande vazio”, de Léa Murawiec — Foto: Divulgação

Na realidade alternativa de “O grande vazio”, quem é esquecido, literalmente, morre. Simples assim. E a jovem Manel Naher acaba de descobrir que tem um grande problema: há outra pessoa, uma cantora, que está nas capas de todos os jornais. E ela também se chama Manel Naher! Mas, como a estrela é a outra, a personagem criada pela francesa Léa Murawiec para sua premiada história em quadrinhos corre o risco de desaparecer. Bela crítica ao universo das celebridades e das redes sociais, em que os influenciadores ditam as regras do mundo contemporâneo.

‘O grande vazio’. Autor: Léa Murawiec. Tradução: Fernando Paz. Editora: Comix Zone. Páginas: 208. Preço: R$ 119,90.

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