Livros
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Por — São Paulo

Como publicar livros que custem no máximo R$ 20 e circulem facilmente de mão em mão, espalhando por aí a palavra de novos autores, nos quais é quase sempre arriscado investir? A editora Martha Ribas, do selo literário Janela + Mapa Lab, encontrou a resposta em livrinhos de poucas páginas, impressos de forma artesanal e com apuro visual que se popularizaram ainda no século XVI: as plaquetes. Depois de fazer muita conta, ela concebeu a coleção “Aqui + agora: plaquetes literárias”, que apresenta 18 títulos assinados tanto por nomes conhecidos (Maria Ribeiro, Sérgio Rodrigues, Marcelo Moutinho) como por autores inéditos (Gabi Figueiredo, Rafael Sertã Farah). O lançamento será domingo, às 15h, na Janela Livraria, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. Cada plaquete tem tiragem de 100 exemplares e custa R$ 20 (mas dá para levar três por R$ 50).

— É que nem feira — brinca Martha, que promete nova fornada de plaquetes inéditas para abril. — O mercado editorial está saudável o bastante para comportar outras lógicas de produção e distribuição. A plaquete é um meio sustentável e acessível para lançar novas vozes. O primeiro livro às vezes tem um peso para o escritor, mas a plaquete traz uma leveza e ainda é colecionável.

O formato comporta os mais diversos gêneros literários. Na coleção “Aqui + agora”, tem de tudo: verso, prosa e até post. “#tbt”, de Bianca Ramoneda, por exemplo, é uma compilação de textos memorialísticos publicados originalmente nas redes. No entanto, esses livrinhos charmosos são mais associados à poesia — marginal, de preferência.

A poeta e editora Marília Garcia guarda relíquias na biblioteca: plaquetes de Ana Cristina César, Chacal e outros nomes da Geração Mimeógrafo, que despontou nos anos 1970. Ela própria estreou nesse formato. Em 2001, lançou “Encontro às cegas” pela editora 7Letras, de onde saíram coleções de minilivros como “MobyDick” e “Megamíni”. Quando fundou a editora Luna Parque, em 2015, continuou investindo em plaquetes.

Mais recentemente, incluiu as plaquetes no Círculo de Poemas, clube do livro criado em 2022 em parceria com a Fósforo. Todo mês, os assinantes recebem um título de poesia mais uma plaquete encomendada pela editora a um poeta (ou prosador disposto a cometer uns versos). Desde janeiro, as plaquetes também são vendidas em livrarias e três já foram reimpressas (de Socorro Acioli, Jorge Augusto e Bruna Beber). A partir do ano que vem, as plaquetes do Círculo de Poemas (que passa a ser comandado por Tarso de Mello) vão abrigar outros gêneros literários além da poesia.

— O livro é que pede um “texto final”, já acabado. Na plaquete não tem isso. Dá para experimentar mais, fazer no calor da hora, mudar o tamanho, o tipo de papel, aproveitar que a tiragem é pequena e desenhar cada capa de um jeito, incluir imagens. Até a leitura muda — diz Marília, lembrando que os livrinhos podem ter efeitos terapêuticos. — João Cabral de Mello Neto tinha muita dor de cabeça e o médico recomendou uma atividade manual. Ele montou uma tipografia e começou a fazer plaquetes. Publicou Vinicius de Moraes.

Maré a favor

Na última década, a proliferação de pequenas editoras (Demônio Negro, Macondo, Papel do Mato, entre outras) contribuiu para popularizar as plaquetes, antes restritas à cena independente, e incentivou autores já consagrados a investir no formato artesanal. O concretista Augusto de Campos, por exemplo, tem publicado suas “extraduções” de nomes como Emily Dickinson, Rimbaud e Sylvia Plath pela Galileu Edições, casa paranaense que não tem nem site (só vende pelas redes sociais e faz tiragens iniciais de apenas 30 exemplares).

Jardel Dias Cavalcanti, da Galileu, conta que tradutores e poetas costumam procurá-lo para publicar o que pouco interessa às grandes editoras: nomes desconhecidos no Brasil ou obras curtas (cada plaquete tem no máximo 60 páginas) e experimentais. A Galileu já lançou cerca de 120 plaquetes, todas com projetos gráficos inventivos. Entre as joias do catálogo, estão as “extraduções” de Augusto de Campos, é claro, um ensaio biográfico do dramaturgo Gerald Thomas sobre cocaína (“Blow-pó”), uma coletânea de poemas alemães dos anos 1960 e 1970 que dialogavam com a pop art e versos de Karl Marx.

Bruno Zeni, da Quelônio, também é procurado com frequência por autores renomados a fim de apostar em “projetos literários alternativos”. Já editou os poemas de Cristovão Tezza e “A órbita de King Kong”, livro inclassificável de José Luiz Passos (ambos autores premiados e publicados por casas tradicionais). Autores iniciantes também vão atrás da editora, que é conhecida por seu capricho tipográfico. Tanto que, este ano, foi oferecida a Oficina Quelônio de Plaquetes, que reuniu oito alunos que confeccionaram suas próprias obras, lançadas na semana passada. O curso voltará a ser oferecido em maio.

— O livro é uma tecnologia maravilhosa, amamos o livro... Mas ele te amarra. Precisa ter um certo número de páginas, capa reforçada, determinado tipo de papel, costura etc. O mercado privilegia esse tipo de livro mais robusto, que para em pé, com diz o clichê. Mas nada disso tem a ver com qualidade — diz Zeni. — A plaquete reflete a vitalidade da literatura contemporânea e favorece projetos alternativos, que não se adéquam aos padrões do mercado.

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