Alvo de censura em Goiás, Paraná e Santa Catarina, o romance "O avesso da pele", de Jeferson Tenório, entrou na lista de leituras obrigatórias do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), divulgada nesta quinta-feira (28).
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Outros quatros novos livros foram adicionados à lista: "Mas em que mundo tu vive", de José Falero, "Niketche: uma história de poligamia", da moçambicana Paulina Chiziane, e uma seleta de canções de Lupicínio Rodrigues. Já eram leituras obrigatórias obras como "Cem anos de solidão", de Gabriel García Márquez, "Um útero é do tamanho de um punho", de Angélica Freitas, e "Lisístrata", do grego Aristófanes.
Impróprio para menores?
Vencedor do Prêmio Jabuti em 2021, "O avesso da pele" vem sendo retirado de escolas de Goiás, Paraná e Santa Catarina porque autoridades estaduais consideraram as cenas de sexo descritas no livro impróprias para a leitura de adolescentes de 14 a 18 anos. Uma escola gaúcha também afirmou que o livro era inadequado à leitura em sala de aula.
"O avesso da pele" narra a história de Henrique, um professor assassinado por policiais que o tomaram por bandido devido à cor de sua pele. O romance é narrado por seu filho, Pedro, que tenta reconstituir a vida do pai. Henrique lutou a vida toda para que sua cor não determinasse seu destino. As cenas de sexo incluídas na trama revelam como o racismo corrói até mesmo as relações mais íntimas.
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O romance foi incluído no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) por uma portaria em 2022, no governo Jair Bolsonaro, depois de selecionado por um edital de 2019. O programa indica obras que podem ser escolhidas por educadores de cada escola, mas a adesão não é obrigatória.
A censura à obra revoltou o setor cultural. Ao GLOBO, Tenório disse que o banimento de seu livro é reflexo de um duplo movimento:
— Um ponto vem do ambiente escolar, onde há um despreparo tanto para entender o que é a linguagem literária quanto para se lidar com temas sensíveis em sala. O segundo ponto é o cruzamento disso com um pensamento ideológico conservador ou mesmo de extrema direita, que escolhe um objeto como inimigo. E este objeto é o livro, é a linguagem— afirmou. — O livro serve de capital político para que se perpetue a informação falsa de que o governo está distribuindo livros “pornográficos” para adolescentes, o que é parte de uma estratégia (política) .
"O avesso da pele" foi lançado em 2020 pela Companhia das Letras e já foi traduzido para 16 idiomas.