Nova leva de mangás de suspense mostra que não há assunto proibido na HQ japonesa

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Assim como no romance, escrito em 1948, o protagonista é um alter ego do escritor, um sujeito atormentado e com problemas de sociabilidade que o levam a desenvolver uma personalidade autodestrutiva, incluindo aí o alcoolismo. E, quem atravessa seu caminho acaba mergulhando de cabeça, com ele, numa espiral de dor e agonia.

Publicada originalmente em três volumes, em 2017, a saga acaba de sair em volume único, que merece ser lido de uma vez, tamanha a força de sua narrativa, sem ternura ou pudor.

Conhecido por seu trabalho no gênero do terror, Junji Ito trabalha aqui com uma história realista, mas ainda assim assustadora, pois ele não mede esforços para representar de forma extremamente visual delírios e torpezas do angustiado protagonista.

“Com frequência me pergunto se há mesmo algo de inspirador na realidade”, diz o personagem principal de “O estranho conto da Ilha Panorama” (Pipoca & Nanquim), adaptação em mangá de Suehiro Maruo para livro de Edogawa Ranpo, pseudônimo do japonês Taro Hirai inspirado no escritor Edgar Allan Poe.

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A história, contada por um Maruo mais bem comportado do que de costume, parte de uma premissa interessante. Ao saber da morte de um velho colega, rico e muito parecido com ele, um escritor fracassado decide assumir a identidade do milionário e construir a ilha do título, um paraíso hedonista.

Apesar do final apressado, a arte detalhista de Maruo sempre impressiona.

“Pedacinhos” (Darkside) não é baseado em romance algum, é uma obra original de Shintaro Kago. O livro tem quatro histórias além da que o nomeia — e conta com o próprio como um dos personagens: “O homem que retornou”, “Tremor”, “Colapso” e “Comichão”. Ainda há uma entrevista com o autor.

Conhecido por suas bizarrices, Kago produz mangás de horror extremo, gráficos e, algumas vezes, escatológicos. Há muita nudez e violência também. Enfim, não é uma leitura fácil e pode embrulhar o estômago de leitores sensíveis. Por isso mesmo é o quadrinho mais aterrorizante dos três e, infelizmente, pode ficar na memória por muitos dias. Não leia após uma refeição.

Autor: Shintaro Kago. Tradutor: Luiz Claudio Bodanese. Editora: Darkside. Páginas: 224. Preço: R$ 69,90. Cotação: bom.

Autor: Junji Ito, a partir do romance de Osamu Dazai. Tradutor: Lucas Cabral. Editora: JBC. Páginas: 616. Preço: R$ 167,90. Cotação: ótimo.