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'O labirinto do fauno': Guillermo del Toro e Cornelia Funke unem forças em livro

Autora alemã criou dez contos inspirados em temas-chave do filme de 2006 do diretor mexicano
Ilustração do artista gráfico Allen Williams para 'O labirinto do fauno', versão literária de Cornelia Funke para o filme de Guillermo del Toro Foto: Reprodução/ Allen Williams
Ilustração do artista gráfico Allen Williams para 'O labirinto do fauno', versão literária de Cornelia Funke para o filme de Guillermo del Toro Foto: Reprodução/ Allen Williams

SÃO PAULO - Durante anos, Cornelia Funke manteve pendurado no escritório de sua casa, em Los Angeles, um cartaz de “O labirinto do fauno” (2006). O longa de Guillermo del Toro sobre as mágicas descobertas de uma menina espanhola, Ofélia, em meio à ditadura fascista de Francisco Franco é, até hoje, o preferido da escritora alemã. Não causa surpresa, portanto, que a autora de séries literárias bem-sucedidas como “O senhor dos ladrões" e “O mundo de tinta" assine também a adaptação do filme do diretor mexicano, que a Intrínseca acaba de lançar no Brasil.

— Guillermo sabia que éramos muito parecidos na forma como vemos o mundo e como contamos nossas histórias. Ele leu os meus livros da série “Reckless” ( publicados no Brasil pela Companhia das Letras ) e gostava muito da combinação de clima sombrio com o uso da fantasia e dos contos de fadas. Acho que isso deu a ele a ideia de que poderia contar a sua história em livro — diz a escritora alemã ao GLOBO, em entrevista por telefone, ao mencionar a série sobre as aventuras de dois irmãos, Will e Jacob, em um mundo paralelo.

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Assinado em conjunto por Del Toro e Cornélia, “O labirinto do fauno” não apenas transpõe o que está na tela para a página escrita. O volume, uma edição em capa dura com ilustrações do artista gráfico americano Allen Williams, vai além da narrativa fantástica criada pelo cineasta. A autora dispensou o roteiro e trabalhou apenas com o filme, identificou dez pontos-chave na história e os expandiu em tópicos como “A promessa do escultor”, “O relojoeiro” e “Quando o fauno se apaixonou”.

— Quem sabe não funcionam como uma espécie de diário da Ofélia? — diz.

A autora alemã Cornelia Funke Foto: Thorsten Wulff / Divulgação
A autora alemã Cornelia Funke Foto: Thorsten Wulff / Divulgação

A princípio, Cornelia recusou o convite. Achava impossível a tarefa de uma adaptação. Para ela, o filme de Del Toro era tão perfeito que seria uma heresia fazer qualquer mudança.

— Como artista gráfica que também sou, ficava pensando como traduzir aquele visual todo em palavras. Mas eu tinha que tentar. Além disso, tinha a questão da língua, porque o filme é originalmente falado em espanhol com legendas em inglês. Mas como os contos de fadas ensinam, resolvi aceitar o desafio. Foi o meu primeiro trabalho escrito diretamente em inglês — diz ela.

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A questão política envolvendo o fascismo espanhol e até o nazismo alemão, que funciona como um pano de fundo histórico para o filme, também foi mantida na narrativa literária:

— A política está em todos os lugares do filme, assim como a poesia, e essa combinação o torna tão fascinante. Como alemã, para mim isso tudo é muito importante. Ou seja, mostrar como o fascismo funciona, o quanto se paga caro por apoiar essas atrocidades — explica ela.

Cornelia acredita que a realidade ainda é a melhor fonte para alimentar as fantasias. Por isso, não compartilha, como muitos de seus pares no mundo literário, da ideia de que, com o atual estado das coisas, está difícil fazer ficção.

— Tudo nasce desse mundo, é daqui que nos alimentamos de monstros e de fantasmas. E, com a fantasia, conseguimos chegar mais perto da verdade sobre a realidade. E acho que Guillermo pensa da mesma forma — diz ela.

Capa da extensão literária de 'O labirinto do fauno', de Guillermo del Toro e Cornelia Funke Foto: Reprodução
Capa da extensão literária de 'O labirinto do fauno', de Guillermo del Toro e Cornelia Funke Foto: Reprodução

Por enquanto, não há notícia de que a versão literária de “O labirinto do fauno” possa percorrer um caminho de volta para as telas, com as histórias paralelas à de Ofélia e sua mãe:

— Isso você tem que perguntar a “El Brujo”— brinca ela, ao mencionar o apelido de Del Toro.

Ela avisa ainda que começou recentemente um projeto de residência artística para jovens artistas em sua casa, em Malibu, Los Angeles:

— Durante quatro semanas, hospedo as pessoas aqui, com tudo pago pela minha fundação. Mas não há inscrição, porque não gosto de competição. Então, trabalho com indicações. Já temos artistas mexicanos, argentinos e indianos. E gostaria muito de trabalhar com os brasileiros — conclui.

‘O labirinto do fauno’

Editora: Intrínseca. Autores: Guillermo del Toro e Cornelia Funke. Tradução: Bruna Beber. Páginas: 320. Preço: R$ 59,90 (impresso) e R$ 39,90 (e-book)