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Quem é Napoleon Hill, autor do livro mais vendido do Brasil em 2020

Clássico da autoajuda, ex-conselheiro de Roosevelt defendia que ficar rico é apenas uma questão de querer ser rico
Napoleon Hill, autor de "Mais esperto que o diabo" Foto: Reprodução
Napoleon Hill, autor de "Mais esperto que o diabo" Foto: Reprodução

RIO - Ficar rico é uma questão de querer ser rico. É preciso aprender a imaginar a riqueza, de modo mais específico possível, aprender a concentrar toda a mente neste objetivo e afastar os pensamentos negativos. Esse é o pilar da "filosofia da realização" formulada nas primeiras décadas do século passado por Napoleon Hill, um clássico da autoajuda e o autor mais vendido no Brasil em 2020, segundo levantamento do site especializado em mercado editorial PublishNews. Sua obra "Mais esperto que o diabo" (Citadel) vendeu 109.333 exemplares até a penúltima semana do ano, mais de 8 mil cópias à frente do segundo colocado, "A sutil arte de ligar o foda-se" (Intrínseca), de Mark Manson.

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Hill escreveu mais de uma dezena de livros partindo de sua filosofia. Segundo narra George Packer, em seu livro "Desagregação" (Companhia das Letras), o escritor nasceu em 1883 numa cabana no sudoeste da Virgínia e, na juventude, começou a trabalhar como repórter. Em 1908, um encontro mudaria sua vida. Ele viajou para Pittsburgh com a missão de entrevistar Andrew Carnegie, o magnata do aço que era o exemplo do self-made man americano. O que era para durar algumas horas se transformou numa visita de três dias.

Carnegie não parava de falar sobre os princípios que fizeram dele o homem mais rico do mundo e como era necessário uma nova filosofia econômica que produzisse outros homens tão ricos como ele. Até que fez uma proposta: "Se eu encarregar você de se tornar o autor dessa filosofia, lhe der cartas de apresentação para os homens de cujas experiências você vai precisar, você está disposto a pôr nisso 20 anos de pesquisa, porque esse é o tempo que vai demorar, e sustentar-se sozinho durante todo esse tempo, sem qualquer subsídio meu? Sim ou não?".

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Packer conta que o jovem Hill pensou durante 29 segundos — se demorasse mais de um minuto, Carnegie retiraria a proposta — e topou. Nas duas décadas seguintes, ele entrevistou gigantes da indústria, como Henry Ford, Thomas Edison e John D. Rockefeller, políticos como Theodore Roosevelt e Woodrow Wilson, entre outros inventores, empresários e milionários em geral.

"A lei do sucesso"

O resultado foi publicado em "A lei do sucesso", de 1928, uma obra em vários volumes. Nascia, ali, a "filosofia da realização". Uma década mais tarde, depois de um período como conselheiro do presidente Franklin Delano Roosevelt, Hill sintetizou dezesseis lições em "Pense e enriqueça". Era um apanhado da sua proposta de que, para ser rico, era preciso mentalizar a riqueza. Num país ainda traumatizado pela Grande Depressão, o autor defendia que os americanos só começaram a pensar na pobreza após 1929 e que esse pensamento em massa é que cristalizou a depressão econômica. Mais uma vez, era preciso treinar o subconsciente para afastar essas ideias ruins.

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"O que Hill fez foi tomar a crença nativa ilimitada nos poderes do eu e organizá-la em um sistema que parecia uma filosofia prática", define Packer, no livro.

"Mais esperto que o diabo", o blockbuster literário de 2020 no Brasil, foi lançado originalmente em 1938 e traz uma série de perguntas de Hill feitas ao... próprio diabo. Onde o demônio habita? Quem é ele? Quais são suas principais armas mentais? E, muito importante, quais armas os seres humanos têm para combater a dominação do diabo? No livro, Hill "revela" que o diabo só se refere a si mesmo como "Sua Majestade".

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O subtítulo da edição brasileira é sugestiva do que os leitores vão encontrar: "o mistério revelado da liberdade e do sucesso".

No ano em que a morte esteve, mais do que nunca, à espreita dos brasileiros, assim como o desemprego e a miséria, não deixa de ser sintomático — e um tanto irônico — que o protagonista do livro mais vendido em 2020 seja o diabo a oferecer respostas.