O escritor Raduan Nassar Foto: Eduardo Simões / Divulgação
RIO — O brasileiro Raduan Nassar foi anunciado nesta segunda-feira como vencedor do Prêmio Camões 2016. O escritor de 80 anos foi escolhido por unanimidade e se tornou o 12º brasileiro a receber o prêmio, considerado o mais importante da língua portuguesa, e receberá 100 mil euros. O anúncio foi feito na tarde desta segunda-feira, em Lisboa, por Miguel Honrado, secretário de Estado de Cultura de Portugal. Os jurados destacaram "a extraordinária qualidade da sua linguagem" e a "força poética da sua prosa".
Fizeram parte do júri deste ano a professora e ensaísta portuguesa Paula Morão, o poeta Pedro Mexia, os professores e críticos brasileiros Flora Süssekind e Sérgio Alcides do Amaral, o escritor moçambicano Lourenço do Rosário, que também é reitor da Universidade Politécnica de Maputo, e a ensaísta são-tomense Inocência Mata, radicada em Macau.
O poeta João Cabral de Melo Neto foi o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio Camões de Literatura, em 1990, já na segunda edição. Seu primeiro livro, “Pedra do Sono”, foi escrito em 1942. Sua obra mais conhecida é “Morte e Vida Severina”, de 1966
Rachel de Queiroz (1993)
Foto: Paula Johas / Arquivo O Globo
Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977, foi também a primeira a ganhar o Prêmio Camões, em 1993. Entre suas muitas obras estão “O Quinze” e “Memorial de Maria Moura”. Além de romancista, teve também prolífica carreira como tradutora e jornalista.
Jorge Amado (1994)
Foto: Divulgação
O baiano Jorge Amado, um dos autores mais adaptados para televisão, cinema e teatro no Brasil, foi premiado em 1994. São dele obras populares como “Dona Flor e seus dois maridos”, “Tieta do agreste“, “Gabriela, cravo e canela”, “Teresa Batista cansada de guerra” e “Tenda dos milagres”.
Antonio Candido (1998)
Foto: André Gomes de Melo / Reprodução Ministério da Cultura
O intelectual e estudioso de literatura Antonio Candido de Mello e Souza ganhou o Camões em 1998. Sua principal obra é “Formação da literatura brasileira”.
Autran Dourado (2000)
Foto: Monique Cabral / Arquivo O Globo
Autor de “Ópera dos mortos” e “A barca dos homens”, Autran Dourado recebeu o Prêmio Camões em 2000. Além de romancista, Autran escreveu ainda contos, ensaios e obras de crítica literária.
Criador do personagem Mandrake e um dos mais populares escritores de contos do país, Rubem Fonseca foi homenageado com Prêmio Camões em 2003. Entre seus romances, os mais conhecidos são "O Caso Morel", "Bufo & Spallanzani" e "Agosto".
Lygia Fagundes Telles (2005)
Foto: Arquivo O Globo
A escritora paulista Lygia Fagundes Telles ganhou o Camões em 2005. Hoje com 89 anos, é autora dos romances “Ciranda de pedra” e “As meninas”.
João Ubaldo Ribeiro (2008)
Foto: Marcia Foletto / Arquivo O Globo
O advogado, escritor, jonalista, roteirista e professor João Ubaldo Ribeiro foi o vencedor em 2008. É autor de obras populares como “Sargento Getúlio“, “O Sorriso do lagarto“, “Casa dos budas ditosos“ e “Viva o povo brasileiro”.
Ferreira Gullar (2010)
Foto: Leonardo Soares / Arquivo O Globo
O poeta Ferreira Gullar, um dos fundadores do neoconcretismo, foi agraciado com o Prêmio Camões em 2010. Uma das principais figuras da literatura nacional desde a década de 1950, ganhou no ano passado o Prêmio Jabuti de Ficção pelo livro “Em alguma parte alguma“.
Dalton Trevisan (2012)
Foto: Arquivo O Globo
Em 2012 foi a vez de Dalton Trevisan, o recluso escritor curitibano, um dos principais contistas do Brasil, autor de mais de 40 obras, como "O vampiro de Curitiba", "Pico na veia", "Cemitério de elefantes" e o recente "O anão e a ninfeta".
O poeta, diplomata e historiador brasileiro Alberto da Costa e Silva, um dos principais especialistas na cultura e na história da África, recebeu o prêmio em 2014. Suas missões diplomáticas no continente permitiram obras como “A enxada e a lança: a África antes dos portugueses” (1992) e “A manilha e o libambo: a África e a escravidão” (2002).
Raduan Nassar (2016)
Foto: Eduardo Simões / Divulgação
Raduan Nassar, autor dos romances "Lavoura arcaica" e "Um copo de cólera", foi escolhido por unanimidade pelo júri do Prêmio Camões de 2016. No início dos anos 80, abandonou a literatura e passou a se dedicar à agricultura.
Chico Buarque (2019)
Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Chico Buarque, autor dos romances "Leite derramado" e "Budapeste", foi escolhido por unanimidade na edição de 2019. Além de seus livros, o júri levou em consideração as letras de suas músicas - fato inédito na história do prêmio.
O prêmio foi criado em 1988 pelos governos de Portugal e do Brasil para premiar um "autor de língua portuguesa que tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua comum". A cada ano, o Camões é entregue num dos dois países.
PRODUÇÃO CURTA
Nassar publicou seu primeiro romance, "Lavoura arcaica" (Companhia das Letras), em 1975. Três anos depois, lançou "Um copo de cólera" (Companhia das Letras). As duas obras o transformaram num dos principais nomes da literatura brasileira.
Contudo, quando vivia o auge do seu sucesso, no começo da década de 1980, o escritor decidiu abandonar a literatura e passou a se dedicar à agricultura numa fazenda entre os municípios de Buri e Campina do Monte Alegre, no sul do estado de São Paulo.
Após uma carreira bem-sucedida como fazendeiro, ele doou sua propriedade para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em 2013. Seu último livro publicado foi "Menina a caminho", de 1994, uma reunião de contos escritos no início dos anos 1960.
Apesar do reconhecimento de público e crítica no Brasil, só em janeiro deste ano saíram suas primeiras traduções para o inglês. A Penguin britânica lançou simultaneamente "Lavoura arcaica" e "Um copo de cólera", ambos recebidos com críticas elogiosas.
"Um copo de cólera" foi, inclusive, semi-finalista do Man Booker International de ficção, um dos principais prêmios da literatura mundial. Sobre o livro, Nicholas Lezard, crítico literário do
"Guardian"
, escreveu: "Se este país (
Inglaterra
) fosse maduro o suficiente para ter um prêmio literário chamado Bom Sexo, esse explosivo conto erótico do modernista autor brasileiro seria um forte concorrente".
Seus dois romances também foram adaptados para o cinema. "Um copo de cólera" foi adaptado por Aluizio Abranches, em 1999. Já "Lavoura arcaica" foi dirigido por Luiz Fernando Carvalho e lançado em 2001.
Primeiro romance do autor, chamou a atenção pela forma elaborada de narrar a história de André, um jovem que foge de uma sufocante vida rural, e suas delicadas e traumáticas relações familiares. Venceu vários prêmios. E virou filme em 2001, com Selton Mello e Simone Spoladore no elenco, sob a direção de Luiz Fernando Carvalho.
'Um copo de cólera' (1978)
Foto: Reprodução
Escrito oito anos antes de ser publicado, o livro conta os encontros e desencontros de um homem e sua parceira. Em 1999, foi adaptado para o cinema por Aluizio Abranches. Só traduzida recentemente para o inglês, a obra foi uma das semifinalistas do Man Booker International Prize neste ano.
'Menina a caminho e outros textos' (1997)
Foto: Reprodução
A obra reúne cinco contos do autor. “Menina a caminho” foi escrito no início dos anos 1960. Já “Hoje de madrugada”, “Ventre seco” e “Aí pelas três da tarde” são da década de 1970. O único inédito é “Mãozinhas de seda”, de 1996. Vencedor do Prêmio Jabuti em 1998 na categoria Contos e Crônicas.
'Obra Completa' (Companhia das Letras)
Foto: Reprodução
Lançada no final de 2016, esta edição tem os romances, contos e um ensaio inédito de Raduan Nassar, revisados pelo autor, além de extensa fortuna crítica e outros aparatos textuais que cobrem a vasta recepção a estes clássicos da ficção contemporânea.