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Rubem Fonseca: os livros essenciais e as adaptações da obra do escritor para o audiovisual

Morto nesta quarta-feira, aos 94 anos, autor foi um dos que mais ganhou versões para o cinema e a TV no Brasil
Rubem Fonseca em caminhada no Leblon, em 2005 Foto: Michel Filho
Rubem Fonseca em caminhada no Leblon, em 2005 Foto: Michel Filho

Rubem Fonseca não resistiu a uma parada cardíaca nesta quarta, 15 de abril . O autor mineiro radicado no Rio escreveu algumas das mais emblemáticas obras da literatura brasileira , como " Agosto " e " Feliz ano novo ", ele completaria 95 anos em maio ( Leia aqui material especial sobre os 90 anos do escritor ).

Uma das características mais destacadas de sua escrita, a capacidade de descrever minuciosamente situações e ambientes e criar imagens literárias poderosas, explica por que o autor foi um dos mais adaptados para o audiovisual. Confira abaixo algumas de suas publicações essenciais e as melhores versão para o cinema e a TV.

“Os prisioneiros”

'Os prisioneiros' Foto: Reprodução
'Os prisioneiros' Foto: Reprodução

Quando “Os prisioneiros” foi publicado, em 1963, o crítico literário Wilson Martins saudou da estreia de Fonseca e afirmou o escritor trazia “a literatura no sangue”. Os 11 contos do livro apresentaram o estilo brutal de Fonseca ao leitor brasileiro, sua linguagem direita e ao mesmo tempo lírica e seu gosto por descrever a vida no limite da loucura e os vícios dos homens na metrópole.

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“Lúcia McCartney”

'Lúcia McCartney' Foto: Reprodução
'Lúcia McCartney' Foto: Reprodução

Publicado em 1967, “Lúcia McCartney” é o livro mais experimental de Fonseca. Considerado por Sérgio Sant’Anna “o mais importante livro de ficção brasileira nos últimos anos”, a coletânea de contos acompanha personagens como a prostituta Lúcia McCartney, que emprestou seu sobrenome do beatle Paul McCartney. Lúcia vivia num quarto decorado com pôsteres do quarteto britânico e se apaixona por um cliente mais velho. Deu origem a "Lúcia McCartney, uma garota de programa", longa de David Neves, de 1971, que foi a primeira obra a levar o universo de Fonseca para a tela grande. Sua trama também ganhou uma versão para a TV, na série homônima de 2016, dirigida por José Henrique Fonseca, um de seus filhos, para o GNT.

“O caso Morel”

'O caso Morel' Foto: Reprodução
'O caso Morel' Foto: Reprodução

Prmeiro romance publicado por Fonseca, em 1973, quando já era um contista de respeito. O Morel do título é Paulo Morel, um artista excêntrico preso por suspeita de assassinato. Ao receber a visita do escritor Vilela (que já havia aparecido em um dos contos de “A coleira do cão”, livro de 1965), Morel pede ajuda para escrever uma história cheia de sexo e violência que ninguém sabe se é ficção ou se a própria vida dele. Vilela reconhece um pouco de sua própria história no relato de Morel e começa um jogo de espelhos que conduz a um final surpreendente.

“Feliz ano novo”

'Feliz ano novo' Foto: Reprodução
'Feliz ano novo' Foto: Reprodução

Publicado em 1975 e censurado pela ditadura após três edições esgotadas, “Feliz ano novo” reafirmou o lugar destacado de Fonseca na literatura brasileira ao apresentar 14 narrativas brutais, repletos de sexo, violência e conflitos entre classes sociais. Um dos destaques é o conto “O outro”, que acompanha um executivo estressado, que passa a caminhar todos os dias para evitar um ataque cardíaco e começa a desconfiar que está sendo perseguido por um mendigo.

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“O cobrador”

'O cobrador' Foto: Reprodução
'O cobrador' Foto: Reprodução

Publicado em 1979, “O cobrador” foi lido como uma resposta de Fonseca à censura. O cobrador do título é uma mistura de bandido, poeta e revolucionário em vingar toda a opressão e violência a que são submetidas as classes populares. O livro ainda traz outros contos famosos de Fonseca, como “Almoço na serra no domingo de Carnaval”, “O jogo do morto” e HMS Cormorant em Paranaguá”, que tratam de temas como aborto, extermínio, suicídio, pedofilia, tráfico de drogas e luta armada. Em 2006, o conto que dá nome ao livro e outros três do autor deram origem ao filme homônimo, coprodução internacional dirigida pelo mexicano Paul Leduc, premiada nos festivais de Gramado e Havana.

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"A grande arte"

'A grande arte' Foto: Divulgação
'A grande arte' Foto: Divulgação

Romance de 1983 protagonizado por Mandrake, um advogado criminalista apresentado ao público em "O cobrador" e que se tornaria um dos personagens mais conhecidos do autor. A trama parte do assassinato de uma prostituta, marcada à faca no rosto, cujo mistério passa a ser investigado pelo protagonista. Deu origem ao longa homônimo, de 1991, que marcou a estreia de Walter Salles na ficção. Em 2005, o personagem ganhou uma minissérie da HBO, "Mandrake", estrelada por Marcos Palmeira.

“Bufo & Spallanzani”

'Bufo & Spallanzani' Foto: Reprodução
'Bufo & Spallanzani' Foto: Reprodução

O romance, publicado em 1986, acompanha o detetive Guedes, que se vê diante de um dos casos mais difíceis se sua vida: investigar a morte de Delfina Delamare, que estampou as páginas de todos os jornais e revistas e abalou a high society carioca. O livro foi adaptado para o cinema em 2001 por Flávio R. Tambellini, em colaboração com a escritora Patrícia Melo, com José Mayer e Tony Ramos no elenco.

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"Agosto"

'Agosto' Foto: Reprodução
'Agosto' Foto: Reprodução

O romance histórico de 1990 mescla fatos reais e ficcionais sobre a crise política de agosto de 1954, como o Atentado da Rua Tonelero, tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Em 1993, virou minissérie da TV Globo, estrelada por José Mayer, Vera Fischer e Tony Tornado.

"O seminarista"

'O seminarista' Foto: Reprodução
'O seminarista' Foto: Reprodução

Publicado em 2009, foi uma volta ao romance policial após "Mandrake, a Bíblia e a bengala", de 2005. Primeira obra literária inédita a sair no Brasil com versões para Kindle e iPhone, o 11º romance do autor traz como narrador um assassino de aluguel que não quer saber detalhes sobre as pessoas que elimina, mas que, quando decide se aposentar, volta a enfrentar questões do passado.

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"O selvagem da ópera"

'O selvagem da ópera' Foto: Reprodução
'O selvagem da ópera' Foto: Reprodução

Fonseca voltou ao romance histórico com a obra de 2011, inspirada na vida de Carlos Gomes, autor de óperas como "O Guarani" e "Fosca", descrevendo fatos como a sua mudança de Campinas (SP) para a corte carioca de D. Pedro II, a viagem para a Itália, e o difícil fim de vida do compositor. A descrição do ambiente artístico do século XIX será adptada como série da Rede Globo, escrita por Maria Adelaide Amaral.