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Voz crítica ao acordo ortográfico, escritor português Vítor Aguiar e Silva vence o Prêmio Camões

Autor de livros teóricos como 'Para uma interpretação do classicismo', de 1962, e 'A estrutura do romance', de 1974
Vítor Aguiar e Silva vence o Prêmio Camões 2020 Foto: Divulgação
Vítor Aguiar e Silva vence o Prêmio Camões 2020 Foto: Divulgação

Após ser vencido pelo compositor e escritor brasileiro Chico Buarque no ano passado, o Prêmio Camões 2020 vai para um português. Poeta, professor e teórico, Vítor Aguiar e Silva é doutor em Literatura Portuguesa e foi vice-reitor da Universidade do Minho durante 12 anos. Aos 81 anos, o escritor dedica-se à pesquisa da literatura portuguesa dos séculos XVI e XVII, e foi um dos criadores do Instituto Camões.

Aguiar e Silva é um dos mais célebres signatários da Petição em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico, que já recolheu mais de 128 mil assinaturas desde 2008. O acordo foi firmado por diversos países, inclusive o Brasil, em 1990, para padronizar a ortografia em português, mas só começou a ser implementado por aqui em 2009.

O escritor assinou, entre outras, "Teoria da literatura" (1967), "A estrutura do romance" (1974), "Teoria e metodologia literárias" (1990) e "Camões: labirintos e fascínios" (1994). Seu "Dicionário de Luís de Camões" foi publicado no Brasil pela Leya.

A decisão foi divulgada na tarde desta terça-feira, após reunião virtual dos jurados no Rio (Antonio Cicero), Porto Alegre ( Antonio Carlos Hohfeldt), Lisboa (Clara Rowland e Manuel Frias Martins), Angola (Ana Paula Tavares) e Moçambique (NatanielNgomane).

Ao saber do prêmio, Aguiar e Silva disse ter ficado emocionado e “quase sem palavras”. Casado e pai de três filhos, ele mora em Braga, no norte de Portugal, e lembrou que fez parte do júri do primeiro Camões, em 1989, que deu o prêmio ao português Miguel Torga (1907-1995), e em 1990, quando o vencedor foi o brasileiro João Cabral de Melo Neto (1920-1999). “Fiz em minha vida pela língua portuguesa o melhor que pude, dei o meu melhor esforço. Estou comovido e agradecido por esta honra que me deram”, escreveu ele, em comunicado.

O Prêmio Camões é entregue, alternadamente, a um escritor português e a um brasileiro, a cada ano. Em 2019, o vencedor foi Chico Buarque , em um episódio que ficou marcado pela recusa de Jair Bolsonaro em assinar o diploma da condecoração - tradicionalmente, os presidentes dos dois países assinam o documento. O pagamento do prêmio de 100 mil euros é dividido entre os dois países. O cantor, compositor e escritor brasileiro escolheu como data de entrega (virtual, por conta da pandemia) 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura salazarista em Portugal.