Cultura

Madonna demole muros em 'Madame X', seu disco mais multicultural e experimental

Cantora recebe Anitta, Diplo, Maluma e vários rappers no álbum que lança nesta sexta-feira
Madonna no MTV Video Music Awards, em Nova York Foto: ANGELA WEISS / AFP
Madonna no MTV Video Music Awards, em Nova York Foto: ANGELA WEISS / AFP

RIO - Enquanto o mundo se surpreende com os sintomas de um certo neonacionalismo emergente em alguns países, Madonna vai na contramão — ora, que surpresa, não? — e aposta na demolição de muros em “Madame X”, seu álbum mais multicultural, político e experimental.

“Madame X” é o apelido que Madonna ganhou da coreógrafa americana Martha Graham, ainda nos anos 1980, quando a Material Girl frequentava uma de suas escolas. Segundo a loura, a professora dizia não conseguir “identificar” apenas uma personalidade na jovem Ciccone, preferindo apelidá-la de “Madame X”, um personagem capaz de emular várias pessoas em uma única. Pois Madonna acionou a alcunha para batizar a personagem do novo trabalho, em que encarna uma professora de dança, uma prostituta, uma agente secreta, entre outras personas.

A roleta giratória de contextos é mero pretexto para que Madonna possa sintetizar em sua música os sons do mundo, ampliando o leque musical de seu fã para além dos esperados beats e plóins das pistas de dança e mais perto dos tambores do África, do funk luso-carioca, do spanglish do reggaeton. Ainda que o party goer bata seus pezinhos confortavelmente ao ouvir a deliciosa house “I don’t search I find”, produzido pelo DJ Mirwais, as outras 14 faixas trazem os fundamentos do que Madonna sempre fez melhor do que boa parte de seus pares: reinventar-se.

Às vésperas de entrar numa turnê gestada para teatros em vez de estádios ou arenas, a madame pop desfila faixas que contam uma história ordenada a começar no cabaré de “Medellin”, ao lado de Maluma (o colombiano também aparece em “Bitch, I’m loca”) e parte logo para o manifesto barra-pesada e crítica social de “Dark ballet”. A partir deste ponto, até “I rise”, que encerra o álbum, o ouvinte será apresentado a uma série de canções desconstruídas, incômodas e que mudam de vibe repentinamente, exigindo atenção e sensibilidade do fã que espera a previsibilidade, o refrão inevitável ou a progressão manjada de acordes.

Ao contrário, espere Madonna cantando com um som abafado em “God control”; e política em “Killers who are partying”, na qual além de arriscar frases em português (“O mundo é selvagem”), ainda adota as causas da África (ela é mãe de quatro africanos), do Islã, de Israel e da mulher estuprada.

O rolê pelo globo inclui uma passagem pelo funk em “Faz gostoso”, um delicioso momento do álbum em que a sugestão é “throw the cachaça away” e brincar. Aguardamos o dueto Anitta x Madonna nos shows ao vivo.

O go crazy moment está na arrepiante “Batuka”, com a participação do grupo português Orquestra Batukeiras, composto por mulheres. Prepare-se para uma catarse de percussão capaz de tocar especialmente os corações latinos, sensíveis ao pancadão em geral.

Madonna vem quente e vem forte. Que rufem os tambores. Desta vez, literalmente.

Cotação: ótimo