Cultura

Maria Bethânia volta aos tempos de 'crooner' em show intimista e lado B no Rio

'Claros breus', no pequeno Manouche, fica em cartaz às quintas-feiras de julho
Maria Bethânia se apresentou no Manouche, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio Foto: Vera Donato
Maria Bethânia se apresentou no Manouche, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio Foto: Vera Donato

RIO - "Alguém tem água para a cantora? Ninguém na casa bebe água?", brincou Maria Bethânia em um momento de chamego com a plateia do Manouche, no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, na chuvosa noite desta quinta-feira. "Com, gelo, não! Eu não posso", prosseguiu ela.

A cantora baiana ("Mas moro no Rio há muitos anos", lembrou) estreou o show "Claros breus", em que volta meio século no tempo, à época em que cantava na noite, dirigida por Bia Lessa, na parte cênica, e por Letières Leite, na musical. Em um palco apertado, à frente de cinco músicos, para uma plateia de cerca de 100 pessoas, a entidade baixou com a força de sempre, e Maria Bethânia pareceu mais Maria Bethânia do que nunca.

- Adoro cantar para muita gente - disse ela. - Amo ver aquela pessoa que vira de costas para mim e canta: ( exagerando na empostação )"Diga que já não me quer..." ( de "Negue", uma de suas canções-assinatura ) para os amigos. Mas estava com saudade disso aqui, de ver os senhores, vocês ( alerta de intimidade ) assim de perto. Nos anos 1960, eram muitas boate maravilhosas no Rio, eu cantei em todas. Os compositores faziam músicas especialmente para se cantar na noite, como Caymmi e Angela Ro Ro.

Os dois citados entraram no repertório, o venerável baiano com a mais piano-bar das músicas de piano-bar, "Sábado em Copacabana", que foi seguida por "Gota de sangue", pérola pouco conhecida da compositora de "Amor, meu grande amor".

Bethânia veio com uma formação híbrida: se o piano elétrico de Marcelo Galter e o baixo acústico de Jorge Helder rezavam pela cartilha da boate, Pretinho da Serrinha e Luisinho do JêJe (percussões) e Carlinhos Sete Cordas (violão) sugeriam samba.

O resultado final foi o típico show de Maria Bethânia: um repertório surpreendente, com várias inéditas (três só de Chico César, um dos xodós atuais da cantora, "A taça", "Águia nordestina" e "Luminosidade") e compositores que iam dos obrigatórios Caetano, Chico e Gonzaguinha a Jards Macalé/Waly Salomão ("Anjo exterminado"), Almir Sater/Renato Teixeira ("Tocando em frente") e Roque Ferreira (a inédita "Músicas, música"), tudo entremeado, além dos bate-papos ("Falei de tudo, Bia Lessa?", perguntou ela a um determinado ponto), por textos de Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade. Pura Bethânia.

SPOILER: Não é o show ideal para se cantar junto. Além das muitas inéditas e lados B, os poucos hits vêm, geralmente, embalados em formatos diferentes, como "Grito de alerta" (Gonzaguinha), "Brincar de viver" (Guilherme Arantes) e o samba-enredo "História para ninar gente grande", da Mangueira campeã de 2019. O standard caipira "Evidências" e, já no fim, a baianíssima "Purificar o Subaé", são exceções em um show histórico para a música carioca e brasileira.


Cotação: ÓTIMO


REPERTÓRIO:


1 - Abertura

2 - "Pronta pra cantar" (Caetano Veloso)

3 - "Drama" (Caetano Veloso)

4 - "A flor encarnada" (Adriana Calcanhotto)

5 - "O universo na cabeça do alfinete" (Lenine)

6 - "Juntar o que sentir" (Renato Teixeira)

7 - "De todas as maneiras" (Chico Buarque)

8 - "Pernas" (Sérgio Ricardo)

9 - "Sábado em Copacabana" (Dorival Caymmi)

10 - "Gota de sangue" (Angela Ro Ro)

11 - "Anjo exterminado" (Jards Macalé/Waly Salomão)

12 - "Cobras e lagartos" (Suely Costa e Hermínio Belo de Carvalho)

13 - "A beira e o mar" (Roberto Mendes e Jorge Portugal)

14 - "Grito de alerta" (Gonzaguinha)

15 - "Evidências" (José Augusto e Paulo Sérgio Valle)

16 - "A taça" (Chico César)

17 - "Olhos nos olhos" (Chico Buarque)

18 - "Yayá Massemba" (Roberto Mendes/Capinam)

19 - "Sinhá" (João Bosco e Chico Buarque)

20 - "História para ninar gente grande" (Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Márcio Bola, Ronie Oliveira, Manu e Danilo Firmino)

21 - "Águia nordestina" (Chico César)

22 - "Luminosidade" (Chico César)

23 - "Tocando em frente" (Almir Sater e Renato Teixeira)

24 - "Sete trovas" (Consuelo de Paula, Etel Frota e Rubens Nogueira)

25 - "Músicas, música" (Roque Ferreira)

26 - "Imagens" (Suely Costa e Cecília Meireles)

28 - "Bar da noite" (Haroldo Barbosa e Bidu Reis)


BIS:

"Brincar de viver" (Guilherme Arantes)/"Purificar o Subaé" (Caetano Veloso)/ "Encanteria" (Paulo César Pinheiro)