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Cultura Comportamento

Maria Flor: 'Que mundo é esse em que vou parir uma pessoa?'

Em entrevista por drone, a atriz, grávida de cinco meses, diz que precisou dar um tempo da Flor Pistola por causa de ataques de haters ao bebê e conta que tem pensando bastante em sexo durante a gestação
Maria Flor grávida de Vicente: 'Quero que ele seja feminista' Foto: Arte sobre fotos de Bispo
Maria Flor grávida de Vicente: 'Quero que ele seja feminista' Foto: Arte sobre fotos de Bispo

Vicente. Vivico para os íntimos. Assim vai se chamar o filho de Maria Flor , que exibe orgulhosa a barriga nesta foto e no vídeo da série “Entrevista na janela”, do GLOBO (veja abaixo). Quem escolheu o nome foi Martim, enteado da atriz. Depois de batizar o bebê cada hora com um Pokemón diferente e desaprovar sugestões apresentadas por Maria e seu companheiro, o terapeuta Emanuel Aragão, o menino de 7 anos bateu o martelo.

Em mais um episódio série Entrevista na Janela, Maria Fortuna conversa com a atriz Maria Flor, grávida de seu segundo filho. Além de contar suas expectativas com a gravidez, Maria falou sobre o livro que lançou recentemente, a série que vai produzir para o Canal Brasil e demonstrou preocupação com o momento político do país.

A atriz de 38 anos está na fase de curtir o neném mexer. Já passou por enjoos e sonhos eróticos. Em sua casa, no Horto, trabalha na adaptação para o cinema do livro “Já não me sinto só”, que lançou ano passado. O filme marcará sua estreia na direção de longa. Enquanto planeja também a série que dirigirá no Canal Brasil, sobre duas mulheres em crise, a atriz vive uma gravidez feliz tentando não embarcar em neuras com a forma física (“o corpo vai voltar do jeito que tiver que voltar”).

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Ela teve que dar um tempo na revoltada Flor Pistola, personagem que encarna nas redes para verbalizar indignações diante do noticiário. Além da energia agressiva que precisava evocar, faltou estômago para aguentar ataques dos haters ao bebê, que ela pretende criar para ser “um homem legal, feminista, e não um desses normativos, toscos que a gente vê por aí”.

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Maria Flor: 'O corpo vai voltar do jeito que tiver que voltar. Eu também não serei a mesma' Foto: Divulgação / Bispo
Maria Flor: 'O corpo vai voltar do jeito que tiver que voltar. Eu também não serei a mesma' Foto: Divulgação / Bispo

Antes de engravidar, você reclamava da pressão para as mulheres serem mães e resumia seu sentimento diante da maternidade com a frase “Deus me livre quem me dera”...

O quem me dera ganhou ( risos ). Pensava sobre isso porque estava com 37 anos, precisava tomar essa decisão. Acabou que foi tomada por mim, porque eu não planejava engravidar agora...

Depois da maternidade, a cobrança da sociedade passa a ser para a mulher voltar à forma física. Você se preocupa com isso?

Achei que me preocuparia mais. Me libertei. Estou passando por algo especial, vou tentar ser feliz e ter a gestação mais bacana que puder. Estou me permitindo. Se estou cansada, tenho o privilégio de poder descansar, me alimentar bem. Não estou na noia de “não posso mais engordar e agora?”. Vou amamentar, e o corpo vai voltar do jeito que tiver que voltar. Não vou ser a mesma, então, não tem como ele ser o mesmo também, né?

O sumiço da Flor Pistola tem a ver com a gravidez?

Total. Flor Pistola está em recesso ( risos ). Fizemos uns episódios, mas é desgastante chegar naquele estado de agressividade, maluquice e rapidez. Ela fala rápido, eu começo a suar... Também vieram as agressões... Passei a me sentir muito mal, porque começaram a falar do bebê, a desejarem coisas tão ruins que nem consigo repetir. Não quero ter essa energia agora, ficar lendo aquilo num momento em que preciso estar confiante de que meu bebê vai crescer bem. Achei melhor me afastar. Também comecei a não ter mais condições psicológicas de acompanhar a política, CPI. Não posso ficar triste. No 7 de setembro fiquei louca ( risos ).

Qual foi a ameaça mais assustadora que já recebeu?

Aparecia gente vestida de militar no meu WhatsApp dizendo “vou te matar, sei onde você mora”.

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Pensa que vai colocar uma criança num ‘mundo louco’?

Pensei muito quando engravidei. “Que mundo é esse em que ele vai crescer? Que governo é esse em que vou parir?”. Dá medo. Ao mesmo tempo, acho que esses novos seres podem transformar esse mundo, esse país. Temos que tentar fazer com que sejam legais, conscientes, pensem no outro e sobre novas formas de existir e de amar. Principalmente, sendo um homem... Quando soube que era menino, pensei: “Que responsa!”. Penso em como vou educá-lo para ser um cara bacana, consciente dos privilégios...

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Fala-se muito sobre que mundo deixaremos para nossos filhos, mas talvez seja preciso pensar sobre que filhos deixaremos no mundo, não acha? O que mais é fundamental para você na educação do Vicente?

Gostaria que ele fosse um homem legal, feminista, e não um desses normativos, toscos que a gente vê. Acho que já não vai ser, porque é filho do Emanuel e meu, irmão do Martim. Ainda estou na fase de pensar sobre como fazer para não colocar esse peso de ser menino tão cedo nele. Porque bebezinho não tem gênero, né? Claro que nasce com pinto, mas é um ser que você vai moldando. Como deixar a criança ser livre? É só uma criança, não está pensando sobre carrinho, vestir azul. Acho que temos que propor várias alternativas. Se propusermos só o que a sociedade decidiu que é “correto”, a forma de existir e de amar fica muito restrita.

A luta contra a masculinidade tóxica tem que começar na criação, né?

Assim como contra essa exigência por delicadeza, comportamento calmo e doce das meninas. Elas podem ser agressivas e bravas. Os homens podem ser sensíveis, calmos, chorões e emotivos. Por que não? A gente tem que se permitir olhar e pensar que podem ser um monte de coisas. A desconstrução é mais dos pais, de como a gente vai se repensar para conseguir criar uma criança mais livre.

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Em 2019, você me disse numa entrevista: “ Não dá mais para trepar sem gozar ”. De lá pra cá, acha que as mulheres deram mais alguns passos na direção da libertação sexual? De dizer como gostam do sexo, tipo “faz assim", "faz assado"?

Espero que sim. Mas estamos vivendo um governo tão reacionário e retrógrado que talvez esses 27% contaminem o país inteiro. Acho que esse retrocesso passa muito pelas nossas liberdades. Muita gente se incomoda com a liberdade sexual das mulheres, dos LGBTQIA+. A possibilidade de poder escolher outras coisas é assustadora, essas pessoas não querem isso. Bolsonaro trouxe à tona uma galera que está brava com a população que quer ser livre. Acho que o movimento que nós, mulheres, estamos fazendo é de libertação sexual desde sempre. Mas vejo na internet blogueiras com milhões de seguidores dizendo que a gente tem que se enquadrar num modelo de mulher que, pelo amor de Deus, não dá mais! E tem um monte de gente seguindo, curtindo. Olho e penso: “Ué, a gente não estava caminhando? O que aconteceu?”. Mas tenho muita esperança de que isso não vai para frente. Não sei se é porque estou grávida...

E como a gravidez impactou o seu tesão? A libido está bombando ou nem consegue pensar em sexo?

Eu penso bastante em sexo. No começo, quando estava mais enjoada, tinha muito sonho erótico. Engraçado, né? Dizem que é comum em grávidas. Mas estava muito enjoada, com o corpo se adaptando. Agora, estou superbem. Me sinto pronta ( risos ). Estou pronta.