Cultura

Marianna Teixeira Soares, a agente literária dos novos autores

Depois de uma carreira de dez anos em duas grandes editoras, carioca se consolida como representante de jovens escritores brasileiros

Além de agenciar jovens escritores, Marianna organiza jantares em sua casa para apresentá-los uns aos outros: “Quero que as pessoas se reúnam e se conheçam”
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Camilla Maia
Além de agenciar jovens escritores, Marianna organiza jantares em sua casa para apresentá-los uns aos outros: “Quero que as pessoas se reúnam e se conheçam” Foto: Camilla Maia

RIO - Se for válida uma famosa máxima do mercado editorial do país, a de que autor bom é autor morto — de preferência sem herdeiros —, então ela tem o pior negócio do mundo. Os escritores representados pela agente literária carioca Marianna Teixeira Soares ainda têm muita vida pela frente: a maioria deles é jovem e está em início de carreira. Mas ela não reclama, porque diz gostar mesmo é de autor vivo. Há dois anos em atividade com a MTS Agência de Autores, Marianna, 45 anos, hoje cuida da carreira de parte importante dos autores que fazem a nova literatura brasileira. Muitos dos quais começaram a despontar, nos últimos anos, em prêmios literários Brasil afora.

É gente como a niteroiense Cláudia Lage, segundo lugar do Prêmio Brasília deste ano, anunciado na última quarta-feira, ou a paulistana Paula Fábrio, ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura 2013, na categoria autor estreante. É também o caso do carioca Victor Heringer, segundo colocado do Jabuti do ano passado. Dos gaúchos Luísa Geisler e Antônio Xerxenesky, selecionados pela revista britânica “Granta” em 2012 para sua edição “Os melhores jovens escritores brasileiros”. Do mineiro Alex Sens Fuziy, que levou o Prêmio Minas Gerais 2013, e de outros que, se não venceram, chegaram à final dos principais troféus literários do país. Eles fizeram Marianna virar, por assim dizer, a agente da galera.

— Temos uma relação de extrema confiança, de aposta. Uma aposta minha naquele autor, de que ele vai se consolidar no mercado, e uma aposta do autor em que meu trabalho vai ajudá-lo a pavimentar sua carreira — afirma Marianna, que, contrariando outra máxima do mercado editorial, a de que o catálogo de um profissional do livro não é sua biblioteca, afirma agenciar só autores cuja obra admira.

Antes de ser agente literária, Marianna fez uma carreira de dez anos em duas grandes editoras. Primeiro na Rocco, onde começou sua relação com os autores brasileiros, como editora de projetos. Depois na Nova Fronteira, onde, como editora de aquisições estrangeiras, entrava da briga de cachorro grande dos leilões internacionais. Ela saiu de lá e fundou a MTS em 2012, mesmo ano em que Luciana Villas-Boas deixou a Record, e Paul Cristoph, a Sextante — ambos para também fundar suas agências literárias.

Era o mesmo período em que já havia o burburinho da internacionalização da nova literatura brasileira, com a homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt (que ocorreu no ano passado) e com a edição da Granta dedicada a jovens autores brasileiros. Naquele momento, ela começou a agenciar um tipo de escritor que, para o departamento de vendas dos gigantes do mercado livreiro, pode ser tão ruim quanto autor vivo: o escritor de ficção não comercial. Para quem duvida da viabilidade econômica de seus agenciados, Marianna, sempre falante, tem uma resposta na ponta da língua:

— Tenho um projeto pensado para o médio prazo. Eu não posso ter pressa para que esses autores e o mercado brasileiro amadureçam em pouquíssimo tempo — afirma ela, jornalista de formação. — E faço uma aposta nesse amadurecimento. Tenho que acreditar ainda que meus escritores vão continuar publicando e consolidando sua carreira.

Marianna espera um mercado livreiro mais profissional. Apesar de Lúcia Riff, decana do agenciamento literário no país, estar em atividade desde os anos 1990 — e antes disso a catalã Carmen Balcells ter agenciado brasileiros —, muitos autores nem sabem para que serve um agente. Mas os que sabem garantem que ele tem utilidade.

— Conheço a Marianna desde os tempos da Rocco, e acho que ser agente é o que ela sempre deveria ter feito. Eu sou alérgico a burocracia. Vejo um contrato e já passo para ela. E a Marianna sempre tem o bom senso de me dizer o que é fria. Sem falar que eu sou péssimo em me divulgar, e ela fala de mim melhor do que eu mesmo — ri Antônio Xerxenesky, que em contrapartida diz fazer “curadoria de bares” para sua agente quando ela visita São Paulo.

Já Luisa Geisler se lembra bem de quando almoçou com Marianna pela primeira vez. A escritora já sabia ter sido selecionada para a “Granta”, mas o anúncio não havia sido feito — por isso ela manteve segredo. Quando os eleitos foram divulgados, ela não quis saber do assédio de outros agentes.

— O fato de ela já conhecer e gostar do meu trabalho antes de saber que eu tinha sido selecionada me passou muita confiança — diz Luisa. — Sem falar que eu sou tímida, e ela é superaberta. Eu acabaria ficando com vergonha de negociar. E também não entendo nada de contrato.

Um adjetivo vem à mente dos autores quando alguém pede para descreverem sua agente literária: pilhada. Xerxenesky chega a dizer que Marianna é “quase hiperativa”. Mas eles também veem nessa característica um dos motivos que os fizeram aceitá-la como agente. Isso e a possibilidade de conseguirem traduções no exterior.

— Eu sempre me virei muito bem com essa coisa de negociar contratos. Acho que para mim ela foi mais importante para conseguir publicações fora do país — conta o carioca Marcelo Moutinho, que acaba de entrar na antologia “Book of Rio”, da inglesa Comma Press, só com contos ambientados no Rio de Janeiro. — Ela também faz uma tentativa de aproximar autores uns dos outros que eu acho muito positiva.

Moutinho está falando de outra vocação de Marianna Teixeira Soares, a de agitadora cultural. Nos últimos tempos, ela anda organizando jantares em sua casa no Jardim Botânico para promover encontros entre escritores — não apenas os seus —, artistas, editores e amigos. O assunto dos jantares? Ora, literatura.

— Quero que as pessoas se reúnam e se conheçam. Quero criar essa conexão entre os autores da agência, porque acho que eles têm muita coisa em comum — afirma ela.

De olho em editoras independentes

Marianna sabe que em seus jantares circula um tipo de autor que o mercado brasileiro nem sempre valoriza. Afinal, Paulo Coelho e Luis Fernando Verissimo são os únicos escritores brasileiros que costumam frequentar a lista de mais vendidos de ficção — as exceções que confirmam a regra. Mas ela acredita que esse cenário pode mudar. Ela diz que os adiantamentos vultuosos dos leilões internacionais são uma pressão para fazer uma obra vender — daí o investimento maior na divulgação dos livros estrangeiros, com resultado concreto nas vendas.

— Se você faz o mesmo por um autor brasileiro, ele vai vender, sim. Talvez o editor nacional precise se voltar mais para a nossa literatura para perceber isso. Tem editor que nem faz catálogo brasileiro — afirma Marianna. — Para entrar no mercado com uma operação como a das grandes editoras, com muitos lançamentos por mês, o livro estrangeiro é mais fácil.

Enquanto as grandes apostam pouco, a agente literária procura seus novos autores num lugar para onde nem todos olham: as editoras independentes. Vários de seus escritores são publicados por casas assim (Paula Fábrio, por exemplo, publicou seu romance “Desnorteio” pela pequena Patuá). A casa de Marianna é cheia de revistas como “Arte e letra” ou “Mapa”, todas publicações independentes, nas quais também busca talentos.

— Hoje há autores novos e autores estabelecidos sendo publicados por casas pequenas. E elas têm um papel importantíssimo na movimentação da nossa cena literária — defende.