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Tem gente que acorda e liga o celular só para ver quem vai odiar naquele dia. Que cabeças irá cortar, com a guilhotina do moralismo. Há duas semanas fui eu a vítima, com uma coluna sobre a decisão de não ter um cachorro. É interessante ser condenada por uma escolha pessoal, num texto feito para entreter. Tem tanto, aqui.

Cronista: quero escrever algo leve, para as pessoas se distraírem numa quarta-feira pela manhã. Já sei: quando conversei sobre ter um cachorro grande ou pequeno com meu marido, estávamos discutindo que tamanho de charuto limparíamos. E sabe o quê? Eu não quero.

Leitora, leitor (vários): um cachorro não te merece, nem um gato, nem sequer um periquito.

Cronista: oi?

Estamos na era do entretenimento de indignação. Não é novo, mas com a internet ele se tornou um hábito perigoso. Em altas doses ele aniquila o pensamento livre, a tolerância e o humor. Gera opiniões radicais e sem fundamento. A gente escreve que focinho de porco não é tomada, e as pessoas revidam com “Botou tomada no focinho do porco! Abusou do animal! E isso com tantos bichos abandonados no Sul! E na Ucrânia! E em Gaza!”

Indignação é um sentimento válido e arriscado. Útil quando gera reflexão e mudança, nocivo quando se basta e existe somente para se perpetrar. Elaborar e entender o motivo da indignação dá trabalho. Exige raciocínio, e um estado mental que é o oposto ao gerado por esse sentimento. Muita gente prefere seguir sem pensar, sentindo o estímulo primal da indignação e também do ódio, por ser fácil, conveniente e por confundirem a agitação mental que esses sentimentos geram com estar vivo e sentir algo. Ou porque tiveram um dia, um mês, ou dez anos ruins, e descontam a frustração num bode expiatório da internet (sem trocadilho). Ou porque precisam do prazer instantâneo de estar certo.

É mais fácil dizer “Martha Batalha odeia cachorros” do que ler aberta e criticamente uma crônica (inteira, no jornal, e não pedaços, na internet ou no zap). Interpretar do jeito que a gente fazia na escola e perceber que não é isso. Entender a ironia e, no caso de um leitor dono de cachorro, refletir: “Puxa, nunca pensei que ela e outras pessoas se incomodassem com o focinho do meu labrador na aba do iogurte, mas faz sentido, o iogurte é dela, o labrador é meu, não levarei mais o Simba para o Zona Zul.” Ou: “Ela que compre produtos em prateleiras altas, a língua do meu pug é mais limpa que uma UTI. Se Bisteca lamber biscoitinhos eles ficarão esterilizados, ganha o consumidor. Mas é uma opinião, a dela, a minha, e cada um com seu cada qual.”

Assim de fácil, assim de simples. E eu não odeio cachorros. São criaturas adoráveis, que prefiro não ter que cuidar. Ódio é um sentimento que reservo para o que realmente importa, no caso, azeitonas. Eu odeio azeitonas. Eu não entendo azeitonas. Comer azeitonas é o mesmo que comer grãos de café. Não está pronto, gente. Tem que processar para virar azeite. E eu reclamo de quem come azeitonas? Não reclamo. Acho esquisito, mas não reclamo. Podem inclusive encher a boca de azeitonas, na minha frente. Eu vou ter pena, e só. Não reclamo nem com os fazedores de empada, que geralmente estragam o petisco. Eu sou a favor da diversidade de empadas e de tudo mais por aí.

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