Cultura

Martinho da Vila: 'Para mim, a Fundação Palmares não existe'

Cantor e compositor diz que Sérgio Camargo é 'preto de alma branca' e afirma que sociedade civil precisa criar outra fundação em prol da cultura negra
Martinho da Vila, em entrevista ao programa 'Roda viva' Foto: Reprodução
Martinho da Vila, em entrevista ao programa 'Roda viva' Foto: Reprodução

Martinho da Vila criticou Sérgio Camargo, o presidente da Fundação Palmares , em entrevista ao programa "Roda viva", da TV Cultura, de ontem, na última segunda-feira (16/8).

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"A Fundação Palmares foi criada para tratar dos assuntos da cultura negra e do negro em geral. E botaram aquele cara lá, o ( Sérgio) Camargo, bolsonarista radical... Ele é um preto de alma branca, como se diz. No duro, ele gostaria de ser branco. E ele acha que é branco. Ele se sente branco e acha que tem que acabar com essas coisas todas de preto", afirmou o sambista, em resposta a uma pergunta da jornalista, apresentadora e colunista do GLOBO Vera Magalhães.

Militante de direita, Sérgio Camargo já afirmou que no Brasil não existe "racismo real", que a escravidão foi "benéfica para os descendentes" e que o movimento negro precisa ser "extinto". Em 2019, atacou personalidades negras como Taís Araújo (classificada por ele de "rainha do vitimismo"), Gilberto Gil (chamado de "parasita da raça negra no Brasil") e o próprio Martinho da Vila ("que deveria ser mandado para o Congo, por ser um vagabundo", como proferiu publicamente).

"No duro, ele está lá cumprindo seu papel, que é acabar com a Fundação Palmares. Para mim, a Fundação Palmares não existe mais. Para mim, ela não está exercendo função nenhuma. Acho que nós temos que criar outra fundação. Aquela já era", enfatizou Martinho da Vila.

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O sambista lembrou que seu nome foi retirado, recentemente, do site da Fundação Palmares pela gestão de Sérgio Camargo. Além do cantor e do compositor carioca, também foram excluídas, do portal da instituição, as biografias de Elza Soares e Gilberto Gil. Melhor assim, Martinho frisa: "Graças a  Deus. Não quero ter meu nome ligado àquela organização".

Samba e mílicia

Questionado sobre a conexão das escolas de samba com a contravenção, como o jogo do bicho, Martinho da Vila negou, também no "Roda viva", qualquer ligação entre as agremiações e as milícias — sabe-se que recentemente foi firmada uma aliança entre milicianos e bicheiros em ao menos duas escolas de samba do Rio de Janeiro.

— A escola de samba sempre foi ligada ao jogo do bicho. Aliás, o jogo do bcho foi inventado em Vila Isabel — respondeu Martinho. — Mas eu não vejo e não tenho notícias da milícia e de milicianos dirigindo escolas de samba. Na Vila Isabel, por exemplo, não tem esse problema. Não tenho notícia do Adriano (da Nóbrega, miliciano) em nenhuma escola de samba. Não tem nenhuma foto dele lá dentro.