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Cultura

'Mestres Navegantes' completa 10 anos com lançamento de disco, filme e acervo no streaming

Projeto já registrou dezenas de mestres e grupos de expressões culturais como reisado, jongo e candomblé de ketu
Bruno Graziano registrando a Chegança feminina de Saubara, na Bahia Foto: Samuel Macedo / Divulgação
Bruno Graziano registrando a Chegança feminina de Saubara, na Bahia Foto: Samuel Macedo / Divulgação

RIO — “Que Brasil é esse que eu não conheço?”. Foi com essa pergunta na cabeça, num misto de espanto e encantamento, que o músico e pesquisador Betão Aguiar pôs o pé na estrada há dez anos dando início ao projeto "Mestres navegantes" . A iniciativa que busca registrar as brasilidades e culturas populares já atravessou 52 cidades dos rincões de norte a sul do país, registrando 123 mestres e grupos de 54 expressões diferentes como reisado, congada, jongo e candomblé ketu.

Para celebrar sua primeira década de existência, o projeto preparou uma série de novidades, como o lançamento do disco “MesclaBR” e do filme “Chegança, no jardim das belas flores”. Além disso, a iniciativa está disponibilizando todos seus 28 discos no streaming.

Com sete músicas registradas nas diferentes edições do "Mestres Navegantes" repaginadas por nomes contemporâneos da MPB, o álbum “MesclaBR” já pode ser ouvido em plataformas como Spotify e Deezer, entre outras. No disco, representantes da cultura popular, como Mestre Curió e a Banda de pife Carcará, emprestam suas cantigas para serem reinterpretadas por nomes como Curumin e Felipe Cordeiro.

Segundo Curumin, o projeto faz um registro de uma cultura popular e folclórica que está sempre em movimento. Para o álbum, ele produziu junto com o músico Zé Nigro uma versão com batidas eletrônicas para a música "Um doce", da Congada Mirim de Ilhabela.

— A gente escolheu a faixa porque tinha toda uma aura muito forte. Pelo menos pra mim, parecia muito a voz do Milton Nascimento, me lembrava um canto muito antigo, um canto muito emotivo, vindo de dentro, vozes muito profundas do Brasil e tinha uma canção ali dentro. Era resgatar essa canção, harmonizar e depois trazer os nossos ingredientes — diz Curumin.

Já no dia 22 de setembro, será lançado no canal do YouTube do projeto o curta “Chegança, no jardim das belas flores”, filme sobre as marujadas femininas na Bahia, conhecidas como "cheganças", dirigido por Betão Aguiar e Bruno Graziano. A produção registra Mestra Fiinha, da Chegança Feminina Barca Nova de Saubara, e Dona Bete, da Chegança Feminina de Arembepe, contando como elas venceram o machismo para criar a tradição que em 2018  foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Estado da Bahia.

Seguindo os passos das Missões de Pesquisas Folclóricas, de Mario de Andrade , o "Mestres Navegantes" já foi eleito, em 2013, um dos 10 projetos de música mais importantes do mundo pelo jornal "The New York Times". Segundo Betão, além do registro e da salvaguarda do patrimônio brasileiro, os discos e produções audiovisuais do "Mestre Navegantes" têm o intuito de ser uma devolutiva pra esses artistas se ouvirem e verem cantando.

O idealizador do "Mestres Navegantes", Betão Aguiar Foto: Samuel Macedo / Divulgação
O idealizador do "Mestres Navegantes", Betão Aguiar Foto: Samuel Macedo / Divulgação

— O Mestre Curió da Bahia, por exemplo, está pau a pau com Riachão . Esses mestres populares são agentes da cultura brasileira de quem grandes nomes como Gilberto Gil ou Caetano beberam, e que devem se sentir nesse mesmo lugar de grandeza, apesar do mercado não olhar tanto para eles — diz o músico e idealizador do projeto.

Além disso, o "Mestres Navegantes" também está disponibilizando todos os 28 discos gravados desde 2010 nas plataformas de streaming. Nos 28 discos de coletânea Neles, estão gravadas 641 faixas em álbuns que se dedicam a ritmos como samba de roda, samba rural, batuques, tiranas, carimbó, entre outros. Todos os discos e dvds produzidos ao longo dos anos foram distribuídos gratuitamente entre os mestres, grupos e escolas e bibliotecas locais.