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Cultura

Metropolitan fecha as portas e marca o fim de uma era de shows memoráveis no Rio

Atualmente chamada de KM de Vantagens Hall, casa da Barra recebeu de David Bowie a João Gilberto em seu palco
Astros internacionais: David Bowie canta no palco do Metropolitan em novembro de 1997 Foto: Christina Bocayuva
Astros internacionais: David Bowie canta no palco do Metropolitan em novembro de 1997 Foto: Christina Bocayuva

RIO — A notícia de que o Metropolitan mudaria novamente de nome nem surpreendia mais os cariocas. Afinal, desde que foi inaugurada, em 1994, a casa de shows localizada na Zona Oeste da cidade já se chamou ATL Hall, Claro Hall, Citibank Hall e KM de Vantagens Hall, substituições que aconteciam de acordo com os patrocinadores que assumiam os naming rights . Mas a informação de que o espaço fechará suas portas (o que se diz é que dará lugar a um supermercado), publicada pelo colunista Ancelmo Gois , nesta terça, pegou muitos artistas de supetão, e também inspirou posts nostálgicos nas redes sociais.

Cada um tinha seu espetáculo inesquecível para contar — a casa recebeu não apenas shows, mas também espetáculos como o Balé Bolshoi, musicais como “Cats” e o mágico David Copperfield. Muitos momentos que garantiram ao Metropolitan um lugarzinho do lado esquerdo do peito do carioca.

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Responsável pela administração do espaço, a produtora Time For Fun não quis confirmar ao GLOBO a informação de que está entregando o espaço alugado no shopping Via Parque, e avisou que enviaria um comunicado — até o fechamento desta edição, às 18h30, não havia chegado. No entanto, notícias que circulavam nos bastidores do meio musical já davam o fechamento como certo.

— Supresa e choque — diz Lulu Santos, ao ser perguntado sobre o que significa, para ele, o fim do espaço onde se apresentou tantas vezes. — É o melhor palco do Rio e a melhor relação palco/plateia por conta da disposição. É triste demais esse esvaziamento.

Responsável pela abertura da casa, inaugurada com um show da cantora Diana Ross, o empresário Ricardo Amaral também se diz “triste” mas não “surpreso” com a notícia.

— O Metropolitan nunca foi o lugar prioritário dos atuais operadores. Soube que, meses atrás, eles se desfizeram da casa de Minas Gerais. A crise gerada pela pandemia, além da programação que tem sido anunciada, me levou a crer que isso aconteceria — diz Amaral, que vendeu o espaço no início dos anos 2000 para a Companhia Interamericana de Entretenimento, do México, por conta da situação econômica do país naquele época. — O dólar passou de R$ 0,80 para R$2, R$3, R$4 reais. Eu não conseguia embutir no ingresso o custo do cachês dos artistas internacionais.

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Sob a gestão Amaral, o Metropolitan recebeu o primeiro show dos Três Tenores no Brasil. Stevie Wonder, Santana e Nina Simone (dentro de uma inesquecível capa de veludo vermelho) também passaram por lá. Em 1997, David Bowie, com indumentária indiana e unhas dos pés pintadas de preto, enlouqueceu o público. Lou Reed promoveu uma grande catarse rock’n’roll. A Legião Urbana passou pelo palco, em 1994, na sua última turnê antes da morte de Renato Russo, em 1996.

Já na administração da Time For Fun, aconteceu um dos “shows-missa” do Los Hermanos, com o público cantando o disco “4” do início ao fim, em 2005. No mesmo ano, teve White Stripes.

Em 1991, o empresário Ricardo Amaral mostrava a maquete do Metropolitan Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo
Em 1991, o empresário Ricardo Amaral mostrava a maquete do Metropolitan Foto: Arquivo O Globo / Agência O Globo

Amaral tem fresca na memória a apresentação acústica de Gil e Caetano, no fim da década de 1990. Lembra-se do estouro da música baiana, com apresentações lotadas de Banda Eva e Araketu. Conta que conseguiu fazer com que Roberto Carlos trocasse o Canecão pelo Metropolitan.

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A temporada do Rei, aliás, é inesquecível para Liège Monteiro, assessora de imprensa do local à época. Liège lembra que as apresentações do cantor duraram cinco semanas.

— O The Wailers também foi sucesso absoluto. Tiveram que fechar as portas e não parava de chegar gente. Fiz Men at Work, concurso de Miss Brasil, Joe Satriani, Wolf Maya dirigindo Zezé Di Camargo e Luciano...

Para a apresentação do Bolshoi, o Metropolitan teve que interditar a primeira fileira de cadeiras da casa de shows, conta Liège. A produção do prestigiado balé russo fazia questão que todos enxergassem os bailarinos por completo, incluindo as pontas de suas sapatilhas.

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A produtora musical Adriana Penna, que passou pela equipe de gravadoras como Sony, Warner e Trama, diz que sua carreira está intrinsecamente ligada ao lugar. Ela acompanhou shows de Djavan, João Bosco, Alanis Morissette, Zeca Pagodinho, entre outros, e destaca os bastidores do programa “Som Brasil”, com João Gilberto.

— João só queria gravar de madrugada. Me pediram para buscá-lo à 1h da manhã. Ele só desceu do apartamento às 4h — conta Adriana, lamentando a notícia para a cidade. — O Rio já tem poucos palcos. E agora? É o fim de uma era.