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Cultura

'Meus hormônios estão à flor da pele e me acho uma gostosa. Vocês querem que eu cante sobre o quê?', diz Luísa Sonza sobre críticas

Em entrevista, cantora de 22 anos que virou fenômeno digital fala sobre novo disco, sexualidade, polêmicas e marketing
A cantora Luísa Sonza, fenômeno pop nacional Foto: Divulgação/João Kopv
A cantora Luísa Sonza, fenômeno pop nacional Foto: Divulgação/João Kopv

Luísa Sonza soma 1 bilhão de reproduções no Spotify, 22 milhões de seguidores no Instagram e 6 milhões de inscritos em seu canal no YouTube. Do bolso dela, saiu a baba de R$ 1,5 milhão para bancar o clipe de “Modo turbo”. Esta numeralha toda é para dizer que ela cabe, perfeitinha e complicada, no perfil de fenômeno pop da vez, seguindo Anitta e Pabllo Vittar (já gravou com ambas, inclusive). Luísa tem 22 anos, fala de si própria na terceira pessoa (“a Luísa isso, a Luísa aquilo...”) e faz piada disso.

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Nascida numa cidade de 10 mil habitantes (Tuparendi), no interior do Rio Grande do Sul, hoje mora numa casa em Alphaville, bairro nobre de São Paulo e mudou a vida da família com o dinheiro que já faturou. Luísa dá entrevista tomando chimarrão na cuia, vestindo camiseta da banda Kiss (do namorado, avisa), diz que pensa em sexo 24 horas. E é de sexo que ela fala e dá corpo em muitas de suas músicas. Por conta disso, atrai muitos haters , os odiadores de plantão. Nas redes sociais, ela responde sem rodeios e com alguns impropérios. Numa versão mais polida, tem o discurso do empoderamento feminino na ponta da língua para quem critica seu conteúdo e sua forma:

— Eu tenho 22 anos, meus hormônios estão à flor da pele, eu me acho uma gostosa. Vocês querem que eu cante sobre o quê? Sobre a Revolução Industrial?

Novo disco como divã

Em junho, depois de emplacar numerosos singles de sucesso no streaming, Luísa vai lançar um álbum. O segundo de uma carreira de cinco anos. Define o disco gestado durante a pandemia como uma espécie de divã, com reflexões sobre o que viveu em 2020:

— A Luísa artista permite que eu me abra em lugares em que normalmente não consigo. Comecei a escrever as músicas num período conturbado ( o fim do casamento com o humorista Whindersson Nunes ), que parte do Brasil acompanhou. Então este álbum se transformou, naturalmente, num grande desabafo sobre o que vivi neste ano, entre coisas boas e ruins.

Para a parte do Brasil que não a acompanha, semana sim, semana não, o nome de Luísa é atrelado a alguma polêmica. E lá vai ela para a lista de Trending Topics do Twitter. Foi assim quando se separou (de Whindersson), começou a namorar outro (o cantor Vitão, apontado como pivô do término da relação), assumiu sua bissexualidade (depois de trocar beijos com a cantora Carol Biazin no vídeo da música “Tentação”), teve um clipe censurado pelo YouTube (“Atenção”, com o produtor carioca Pedro Sampaio, foi retirado da plataforma sob a alegação de apresentar conteúdo explícito, o que o levou a circular em sites de pornografia).

Como Luísa de sonsa não tem nada, vai tirando umas casquinhas desses limões para fazer sua limonada. É que tem outra coisa em que ela pensa 24 horas: marketing. O post para atrair mais gente no Spotify, o tuíte para bombar, a hashtag para viralizar. Luísa tem empresária, mas toda a estratégia de divulgação de seu trabalho sai da cabeça da garota que começou a cantar aos 7 anos em feiras e eventos no interior do Rio Grande do Sul e cursou um semestre de Direito antes de desistir do curso.

Mas o que vem primeiro para esta geração de cantoras influenciadas e influenciadoras no universo digital: o marketing ou a música?

— A indústria da música nunca foi a indústria “só” da música. Tem muitos elementos que precisam ser construídos juntos, especialmente em relação à imagem do artista — analisa Lucas Waltenberg, gerente de conteúdo na agência Ana Couto e professor da ESPM Rio. — De uns anos para cá, com a superexposição das redes sociais criou a sensação de que estamos mais próximos dos artistas que gostamos. Com isso, ficou mais evidente a necessidade de gestão de uma persona que se apresenta como pessoa “comum” e como artista, com uma multidão torcendo junto, tanto a favor quanto contra.

Alter ego de heroína

Luísa garante que o marketing dança conforme a música, e não o contrário. Fã de Elis Regina, que considera revolucionária , ela diz que canta a sua “verdade” e que isso move o novo trabalho, cujo nome ainda não foi divulgado por estratégia de marketing:

— Quando alguma coisa negativa acontece, eu logo penso em como posso transformar em algo positivo. Não vou ser a pessoa que sofre e paga de coitadinha na internet. Prefiro ser a heroína e trazer essa força para outras mulheres.

Ela gosta da ideia do alter ego de heroína. De vestir uma capa e ser a “Luísa artista”, que canta “desce, esfrego na tua cara” em “Braba”. Nessa personagem, ela se irrita quando questionada sobre usar o discurso feminista como resposta a quem simplesmente não gosta de sua música (“Qualquer um tem o direito de não gostar da minha música, mas não pode criticar sem se abrir para conhecê-lo”). “Luísa pessoa física” se abre sem pudor e admite suas vulnerabilidades (“Tenho 22 anos! Meu cérebro ainda está sendo formado. Quero ser o que quero, cada hora de um jeito”).

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Até semana passada, ela não tinha planos concretos de carreira internacional, embora já tenha feito parceria com Katy Perry e recebido elogios de Cardi B e Christina Aguilera. Por ora, investe em parcerias nos mais diversos gêneros, do popnejo de Luan Santana ao pagode de Thiaguinho. Sondada para o “BBB 21”, segundo as fofocas da ocasião, ela prefere ter um reality show próprio, que prepara com Pabllo Vittar. O tema? Divas do pop.