Cultura

Ministério Público Federal ajuíza ação contra Caixa para retomada da peça 'Abrazo'

Para órgão, cancelamento do espetáculo configurou prática de censura
Peça cria ambiente de repressão através do gestual dos atores Foto: Rafael Telles / Rafael Telles/ Divulgação
Peça cria ambiente de repressão através do gestual dos atores Foto: Rafael Telles / Rafael Telles/ Divulgação

O Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco (PE) ajuizou uma ação civil pública para que o espetáculo infantojuvenil “Abrazo”, do grupo teatral Clowns de Shakespeare, seja retomado. Sem nenhum comunicado ou esclarecimento prévio formal, a peça havia sido cancelada pela Caixa Econômica Federal em sua noite de estreia , no último 7 de setembro, e não teve uma segunda sessão (estavam previstas oito sessões).

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As procuradores da República Carolina de Gusmão Furtado e Ana Fabíola Ferreira requerem que a peça tenha mais pelo menos oito sessões na Caixa Cultural, no Recife, ou em outro teatro, às custas da Caixa. Também requerem indenização por danos morais ou coletivos, não inferior a duas vezes o valor do patrocínio da peça teatral. De acordo com o MPF, configurou-se a prática de censura.

A peça "Abrazo" tem direção de Marco França, e foi criado em 2014 na ocasião dos 50 anos do golpe militar de 1964. Ela é inspirada no "Livro dos abraços", do escritor uruguaio Eduardo Galeano, e não tem diálogos — o ambiente de repressão é criado apenas através do gestual dos personagens. O público acompanha uma jornada através do olhar de um menino que vive em um país onde o regime opressivo impede as pessoas de se abraçarem ou demonstrarem afeto uns com os outros.

Na época do cancelamento, o Clowns de Shakespeare entrou com uma ação judifical e explicou, em nota, que "as tentativas de comunicação com a Caixa tiveram retornos inconsistentes, resumindo-se a alegar que havíamos infringido o inciso VII da Cláusula Quarta, que prevê que a contratada seja obrigada a 'zelar pela boa imagem dos patrocinadores, não fazendo referências públicas de caráter negativo ou pejorativo', e que isso teria ocorrido no bate-papo realizado após a primeira sessão".

O texto continua: "Ainda sem ideia do que poderia ser alegado, uma vez que não reconhecemos nada que pudesse gerar esse tipo de reação, e diante da ausência de informações adicionais, não conseguimos imaginar outra razão para essa rescisão que não seja censura ao nosso trabalho e pensamento".

Segundo o MPF, a Caixa teria confirmado que o contrato de patrocínio foi rescindido devido ao conteúdo de bate-papo entre o elenco e a plateia.