Cultura

'Movimento #MeToo é como o fim do apartheid para as mulheres no cinema', diz Jane Campion, de 'O piano', no Festival de Veneza

Cineasta neozelandesa apresentou "The power of the dog" seu primeiro longa em 12 anos
A neozelandesa Jane Campion apresentou o filme 'The Power of the Dog' na competição do Festival de Cinema de Veneza Foto: MIGUEL MEDINA / AFP
A neozelandesa Jane Campion apresentou o filme 'The Power of the Dog' na competição do Festival de Cinema de Veneza Foto: MIGUEL MEDINA / AFP

VENEZA - Depois de um hiato de 12 anos sem dirigir longas (o último foi "O brilho de uma paixão", de 2009), a cineasta neozelandesa Jane Campion apresentou "The power of the dog", seu novo filme no Festival de Cinema de Veneza. Ao falar sobre o longa nesta quinta-feira (2), Campion celebrou diretoras que ganharam prêmios importantes no último ano, afirmando que o movimento #metoo foi como o "fim do Apartheid" para as mulheres.

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- As mulheres estão indo muito bem - afirmou Campion, a primeira mulher a receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes, pelo filme "O Piano", em 1993. - Tudo o que posso dizer é que desde que o movimento #metoo aconteceu, tenho sentido uma mudança de ambiente. É como o muro de Berlim caindo ou o fim do Apartheid para as mulheres - disse Campion, de 67 anos, se referindo a Chloe Zhao , que ganhou o Leão de Ouro em Veneza no ano passado e também três Oscars, e Julia Ducournau, vencedora da Palma de Ouro em Cannes este ano.

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Campion escolheu uma história de machismo e vingança passada em 1925 e baseada num romance de Thomas Savage para "The Power of the Dog", seu primeiro filme desde "O brilho de uma paixão", um drama sobre o poeta John Keats, e após anos trabalhando em séries de TV.

"The Power of the Dog" foi filmando na Nova Zelândia e tem no elenco Benedict Cumberbatch, como Phil Burbank, um dono de rancho cruel que atormenta Rose, personagem de Kirsten Dunst, e também a seu filho.

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Cumberbatch afirmou que a atitude tóxica de seu personagem é  produto de sua criação e também do medo de se perder quando Rose, a nova mulher de seu irmão, se mudar para o rancho da família.  O ator disse que ele e Dunst mal se cumprimentavam no set para manter o clima de tensão e a atmosfera de antagonismo do filme.

- Benedict e eu não falávamos um com o outro. Sempre nós sentíamos culpados se disséssemos um "Oi" - concordou a atriz.

O filme de Campion, cuja estreia foi atrasada por causa da pandemia de Covid-19, é um dos longas produzidos pela Netflix que estão na caompetição principal em Veneza. O outro é "The Hand of God", do italiano Paolo Sorrentino. Os dois filmes foram convidados para o Festival de Cannes, mas optaram por Veneza, que não exige estreia nos cinemas para concorrer ao prêmio principal.