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Cultura Música

As 10 melhores músicas lançadas em janeiro

O GLOBO faz um passeio pelas novidades do rock, do rap, do pop, da MPB, do piseiro e até do mais desavergonhado arrocha
A Tropa do Bruxo, com Ronaldinho (à esquerda); o rapper BK e Rivers Cuomo, líder do Weezer Foto: Colagem de fotos de divulgação
A Tropa do Bruxo, com Ronaldinho (à esquerda); o rapper BK e Rivers Cuomo, líder do Weezer Foto: Colagem de fotos de divulgação

RIO - Sejam elas uma explosão viral que abala o mundo inteiro ou segredo cultivado por um pequeno grupo de ouvintes, as canções da música popular não pararam de se multiplicar em 2021. Circulando por diferentes plataformas de streaming, elas não conhecem limites geográficos, idiomáticos ou de gênero musical: estão aí à disposição, para quem quiser escutá-las.

O mais difícil para quem quer mergulhar na música da atualidade não é chegar até ela, mas saber por onde começar. Por isso, o GLOBO inicia aqui uma série de pequenos guias mensais dessa produção fonográfica cada vez mais vasta e descentralizada. Um passeio pela variedade e pelas histórias das canções lançadas em janeiro de 2021, ponto de partida para viagens mais longas.

“Mudando o jogo” – BK

Na sequência do álbum “O líder em movimento” (2020), o astro carioca do rap BK afia o discurso e diversifica sua sonoridade em “Mudando o jogo”. Com balanço cubano, a faixa propõe em suas rimas a revisão de uma velha instituição brasileira: a reunião de bacana. Os novos donos da festa chegam para substituir os quadros que juntavam poeira nas paredes da mansão e se anunciam: “Não somos os que nascem no dinheiro / somos os que fazem nascer o dinheiro”. E rola até uma divertida menção a Nath Finanças, jovem youtubber negra que fez sucesso com dicas de educação financeira.

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“Girls & Boys” – Viagra Boys

Se algo do espírito punk da Inglaterra de 1977 resiste em 2021 é, em boa parte, por causa de grupos como o sueco Viagra Boys. Satiristas implacáveis, preocupados em manter a pior aparência pessoal possível, eles chegam ao seu segundo álbum, “Welfare jazz”, perpetrando canções como essa “Girls & Boys” — uma debochada e suja interpretação do que seria uma faixa de disco music, na qual o saxofone, o bongô e os vocais nem-aí de Sebastian Murphy indicam que nada deve ser levado muito muito a sério. Um bom aperitivo para o disco, que tem muitos experimentos e até um tanto de blues.

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“Piseiro ulalau” – Anderson Galego Feat. Menor Nico

Hit do TikTok, o menino de 14 anos, vindo de Antonio Cardoso (interior rural da Bahia), é hoje um dos maiores nomes do streaming no Brasil, com as faixas “Amor ou o litrão” (com Peter Ferraz) e “Nega chegando” (com o Boy da Seresta). Agora, o impagável Menor Nico ataca de piseiro – a mutação do forró que conquistou o país no fim de 2020, com os Barões de Pisadinha e Tarcísio do Acordeon – em parceria com o cantor Anderson Galego. Impossível resistir ao balanço da faixa e ao “ulalaau!” que o astro adolescente cheio de carisma e de dancinhas transformou em seu bordão.

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“Deal with it” – Ashnikko e Kelis

Outra estrela nascida no TikTok (em 2019, com a faixa “Stupid”), a rapper americana Ashton Nicole Casey, a Ashnikko lançou enfim no último dia 15 a sua primeira mixtape. “DEMIDEVIL” trouxe como novidade “Deal with it”, faixa com sabor pop, letra incisiva (“não preciso de um homem, preciso de um cachorrinho / alérgico a você, toda vez que você me toca”) e um sample que muitos irão reconhecer: o grito de “I hate you so much right now” (“te odeio tanto agora”) vem de “Caught out there”, canção de “Kaleidoscope” (1999), álbum de estreia da musa do r&b feminista Kelis.

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“Amarelo, azul e branco” – ANAVITÓRIA e Rita Lee

Gravado durante a pandemia e lançado de surpresa no primeiro dia do ano, “COR” apresenta algumas novas facetas da dupla ANAVITÓRIA. Faixa que abre o disco, “Amarelo, azul e branco” navega por timbres eletrônicos, sopros e percussões tribais, mas sem deixar de fora a interioranidade da música que popularizou a goiana Ana Caetano e a tocantinense Vitória Falcão. Das muitas participações estreladas do disco, Rita Lee abrilhanta “COR” recitando Simone de Beauvoir: “Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele.”

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“All my favourite songs” – Weezer

Referência do rock alternativo mundial, os americanos iam lançar “Van Weezer”, disco de hard rock para as arenas, e embarcar em uma grande turnê com o Green Day e Fall Out Boy. Mas aí veio a Covid-19. E aí o líder Rivers Cuomo decidiu passar na frente “OK Human”, álbum de pop de câmara, que a banda gravara com orquestrações e a participação de músicos eruditos, no estilo do que os Beach boys fizeram em “Pet sounds”. Um disco sobre isolamento, que abre com “All my favourite songs”, canção da eterna adolescência trancada no quarto, entre discos e inseguranças.

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“Se eu fosse tão ruim assim” – MC JottaPê e Tierry

A nova da produtora Kondzilla reúne o paulista JottaPê (ator mirim que em 2009 protagonizou o remake do clássico filme caipira “O menino da porteira” e que ressurgiu uma década depois como MC de funk na série “Sintonia” ) e Tierry, baiano, rei do arrocha romântico, atualmente estourado com a sofrida “Rita” (“volta desgramada, que eu perdoo a facada”). Desta vez, o que os dois cantam é a sofrência feminina (“você fala ‘te odeio’, mas no fundo é ‘eu te amo’”), por cima de uma base na qual se encontram o arrocha, o brega e as batidas do funk, com toques de saxofone.

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“Vintage” - Blu DeTiger

Imagine uma Dua Lipa que, além de cantar, também tocasse baixo elétrico: essa seria, possivelmente, a novaiorquina Blu DeTiger, de 23 anos, que começou no instrumento aos 7 e, algum tempo depois, viraria sensação nas boates da cidade como a DJ que sacava seu baixo no meio dos sets para reforçar o groove das músicas. Depois de acompanhar alguns cantores, Blu aproveitou a fama no TikTok para lançar-se em carreira solo. E em “Vintage”, ela dá mostras de que domina a linguagem do funk elegante, oitentista, que tem voltado com força nesse começo de anos 20.

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“Rolê aleatório” – Tropa do Bruxo

Fenômeno do trap brasileiro, o grupo Recayd Mob demonstrou muita sagacidade ao unir uma das expressões mais populares de 2020 – rolê aleatório, que as redes sociais tomaram como um sinônimo de “encontros improváveis” – ao grande representante desses rolês: o ex-jogador Ronaldinho (Gaúcho). Juntos, eles formaram a Tropa do Bruxo , que estreou em janeiro com a sua música-tema: uma saraivada de raps velozes e contagiantes, embalada em um clipe bem a caráter, encenando uma festa da pesada, daquelas em que os celulares têm que ficar do lado de fora.

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“MY HEAD :(” – Jack Kays

Um passado de problemas mentais e vício em drogas acompanha a vida de um dos artistas mais contundentes a surgir no meio do emo rap: o jovem Jack Kays, de 22 anos. Nascido em Cincinnati, Ohio, ele começou a fazer música de forma despretensiosa, para contar das suas angústias, quando uma delas viralizou no TikTok e ele de repente se viu diante de uma oferta de contrato da gravadora Columbia. Depois de algumas canções em estilo folk, voz-e-violão, em “MY HEAD :(” ele se vale das batidas secas e sombrias do trap para contar o que se passa em sua cabeça. E o vídeo é forte.

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