A Universal Music anunciou nesta segunda-feira a compra de todo o catálogo de composições de
Bob Dylan
— incluindo clássicos da música americana como "Blowin 'in the wind", "The times they are a-changin'" e "Like a rolling stone”. O valor não foi divulgado, mas está estimado em mais de US$ 300 milhões, segundo o "New York Times"
O próprio Dylan fechou o acordo, que cobre desde as suas primeiras canções, de 1962, até o álbum mais recente, o elogiado "
Rough and Rowdy Ways
", de 2020. Vencedor do Prêmio
Nobel de Literatura em 2016
, Dylan controlava seus direitos autorais.
“Não é nenhum segredo que a arte de compor é a chave fundamental para toda boa música, nem é segredo que Bob é um dos maiores nessa arte”, disse Lucian Grainge, executivo-chefe da Universal Music, em um comunicado anunciando o acordo.
A canção que transformou o cantor folk Bob Dylan em um astro de rock. Mais que um sucesso pop, tornou-se o hino de uma geração que começava a se libertar das amarras da sociedade. Em 1995, 30 anos depois de ser lançada, foi gravada pelos Rolling Stones (que não têm nenhuma relação com a letra).
Tangled up in blue
Canção cubista que Dylan lançou no disco "Blood on the tracks", de 1975. O jornal "The Telegraph" a definiu certa vez como "a letra mais deslumbrante já escrita, uma narrativa abstrata de relacionamentos feita em uma mistura amorfa de primeira e terceira pessoa, juntando passado, presente e futuro".
Jokerman
De volta ao mundo secular depois de uma conversão ao Cristianismo, Bob Dylan gravou em 1983 o álbum "Infidels", com produção de Mark Knopfler, discípulo seu e guitarrista dos Dire Straits. "Jokerman" é uma das grandes canções políticas de Dylan, mirando os populistas que engambelam a população.
Love sick
Música do disco "Time out of mind" (1997), considerado a volta de Bob Dylan aos bons tempos depois de uma conturbada década de 80, "Love sick" foi escolhida pelo artista como o número a ser apresentado na festa de Grammy de 1998. Um pedaço sombrio da personalidade de Dylan, então já bem na entrada dos tempos da velhice.
Mississippi
Canção que Bob Dylan fez nas sessões de "Time out of mind", mas só gravou depois, em 2001, no disco "Love and theft". A revista "Rolling Stone" a elegeu a 17ª melhor música da década e a descreveu como "uma canção de amor que parece resumir toda a carreira de Dylan, e um clássico que está pau a pau com 'Tangled up in blue'".
Tá certo que, nos anos 2010, Bob Dylan lançou apenas um álbum de inéditas, "Tempest", em 2012. Mas esse aceno ao saudosismo (fala de um velho serviço de trens), meio rockabilly, que abriu os trabalhos do disco tem lá seu valor. "Ouça o apito do Duquesne / soando como se fosse varrer o meu mundo pra longe", canta ele.
Dylan,
como era de se esperar
, não comentou o acordo.
Em uma rara entrevista
, ele recentemente disse acreditar que o a pandemia do novo coronavírus pode ser "um precursor de algo mais por vir", e tocou em assuntos como a morte e o ato de compor. Primeiro músico a conquistar o Nobel, ele também ganhou 11 Grammys, um Oscar e um Globo de Ouro.
Em meio à popularização do streaming, a
compra de catálogos de artistas consagrados foi um dos mercados mais quentes de 2020
. Nessa área, a empresa Hipgnosis se destacou, comprando os direitos de Blondie e Barry Manilow. No catálogo da empresa, estão canções como “SexyBack” (Justin Timberlake), “Single ladies” (Beyoncé), “Sweet dreams” (Eurythmics) e “Let’s stay together” (Al Green).
O catálogo de Dylan é um dos mais atraentes nesse mercado, pois quase todas as canções foram compostas apenas por ele. Além disso, as regravações de suas músicas são frequentes (já são mais de 6 mil, algumas delas no Brasil, em especial
pelo cantor Zé Ramalho
) e seguem gerando royalties.