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O clássico LP 'Nara', de 1964, é tema de livro de Hugo Sukman: 'É um disco, literalmente, de vanguarda'

Com lançamento previsto para março, publicação é parte da coleção 'O livro do disco', da editora Cobogó
Nara Leão em show de 1973 Foto: Pedro Martinelli / Agência O Globo
Nara Leão em show de 1973 Foto: Pedro Martinelli / Agência O Globo

Isabel Diegues diz que há muito tempo lhe pediam para incluir um disco da mãe na coleção “O livro do disco”, da editora Cobogó, da qual é proprietária. Ela convidou para a empreitada o jornalista Hugo Sukman, que escolheu o primeiro LP, “Nara”, de 1964. O livro sai em março, com pré-venda a partir de fevereiro.

— É possível contar boa parte da história da música brasileira a partir desse disco. Ele influenciou tudo o que veio depois — afirma Sukman, autor de uma peça sobre a cantora, “A menina disse coisas” (verso de um poema de Drummond em defesa dela, que atacara o Exército).

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“Nara” integrou a segunda leva de lançamentos da Elenco, a gravadora criada por Aloysio de Oliveira e muito associada à bossa nova. No mesmo conjunto estava a edição brasileira do LP que Tom Jobim gravara nos EUA, “The composer of Desafinado plays”.

—O Jornal do Brasil entrevistou os dois. Tom disse que tinha feito o disco para explicar didaticamente aos americanos os seus sucessos. Nara disse que quis fazer um mergulho político. Ela não faria o que já tinha sido feito — diz Sukman.

Ele lembra que Aloysio encomendara um trabalho de bossa nova. Nara queria algo antibossa nova. O resultado foi uma síntese: um disco sem canções de bossa nova, mas com sonoridade semelhante. A faixa de maior repercussão, “Diz que fui por aí” (de Zé Keti e Hortênsio Rocha), era um samba criado na Portela e tocado no violão nada tradicional de Geraldo Vespar.

Capa do clássico disco 'Nara' Foto: Divulgação
Capa do clássico disco 'Nara' Foto: Divulgação

Com “O Sol nascerá”, o álbum relançou Cartola em disco e lançou Elton Medeiros. “Luz negra”, de Nelson Cavaquinho, ganhou a primeira interpretação com letra — Baden Powell a gravara instrumental. Edu Lobo (ainda Eduardo Lobo) surgiu em duas parcerias com Ruy Guerra. A dupla Baden/Vinicius de Moraes apareceu com dois afro-sambas. O repertório termina com “Nanã”, de Moacir Santos.

— “Nara” veio antes de tudo. Antes de “Elizeth sobe o morro” [de 1965], antes de Elis Regina gravar Edu, antes do disco dos afro-sambas [de 1966] . É um disco, literalmente, de vanguarda — lista Sukman.

O LP saiu em 27 de fevereiro. No dia 21, o Zicartola abrira para o público. Com o golpe militar de 31 de março, a sede da UNE (União Nacional dos Estudantes) foi queimada. O bar de Zica e Cartola se tornou o lugar preferido dos integrantes do CPC (Centro Popular de Cultura), da UNE, como destaca Sukman. Nara era protagonista desse momento, que culminou no show “Opinião” e no disco “Opinião de Nara”.