Cultura Música

Projota: ‘Já perdi muito na vida, mas ali veio tudo de uma vez’

Rapper exorciza a experiência de rejeição no ‘BBB 21’ e a morte da avó no disco ‘A saída está dentro’: ‘Sabia que era assim e não culpo ninguém além de mim’
O rapper Projota Foto: Fred Othero / Divulgação
O rapper Projota Foto: Fred Othero / Divulgação

O rapper Projota , de 35 anos, passou a infância curtindo “filme de vitória” (“eu era moleque e gostava de ‘Karatê Kid’, queria ver o cara que apanha muito, dá a volta por cima e vence no final”). Em março do ano passado, depois de algumas polêmicas e discussões com o colega de casa e também rapper Lucas Penteado, ele deixou o “Big Brother Brasil 21” com uma votação do público que expôs uma rejeição de 91,89% — uma das mais altas da história do programa, mas não a da polarizada edição (que ainda teve os recordistas negativos Viih Tube , Nego Di e Karol Conká ).

Esquenta 'BBB 22': Veja fotos da casa nova e relembre as decorações de outras edições

De uma hora para outra, o “Daniel LaRusso paulistano”, que venceu as principais batalhas no mundo do rap e se sagrou artista de grande sucesso, virou Johnny Lawrence — o valentão que passou o filme “Karatê Kid” fazendo bullying com Daniel e acabou derrotado vergonhosamente na luta final. Mas a vida segue. E, se o vilão do longa de 1984 encontrou a redenção 34 anos depois na série de TV “Cobra Kai” , por que não Projota? Provar para todos — e principalmente para si mesmo — que ainda tem muito a contribuir artisticamente e que a vida não é um reality show é a sua missão agora com “A saída está dentro”, álbum que chega ao streaming às 21h desta quinta-feira.

Luana Piovani: Atriz mostra antes e depois de harmonização facial: 'O que fazem por aí é desarmonização'

— Eu sabia que o “Big Brother” era assim, e não culpo ninguém além de mim. Não consegui entender que o tempo ali não seria suficiente para as pessoas verem que não existem anjos e demônios lá dentro, mas seres humanos. E sou impulsivo demais — admite, em entrevista por Zoom, esse artista que viveu em 2021 a pior fase de sua existência. — Já perdi muito jogo na vida, mas ali veio tudo de uma vez. Perdi a avó por quem fui criado [ela morreu em junho] , um cachorro e um gato. Perdi amizades, fãs, contratos e prestígio, perdi boa parte do alicerce que levei 20 anos para construir. Você se sente injustiçado, é como se tivesse passado um furacão.

Resumir esse sentimento de quando saiu do “BBB” foi a tarefa a que Projota se impôs em “Volta”, uma das faixas de “A saída está dentro”, que ele antecipou ano passado como single. Com versos como “meu ego faz eu perder meu rumo / minha humildade faz pedir perdão” e “ouvi dizer que eu estava cancelado / o seu cancelamento hoje eu vou cancelar”, a canção, muito aguardada pelo público, exigiu empenho do artista que nunca fizera música por encomenda.

Um luxo só: Jorge Ben Jor relata vida no Copacabana Palace, para onde se mudou após ter casa destruída: 'Não tinha onde morar'

— Quando saí da casa, estava ainda com uma energia muito negativa. Eu escrevia e ficava uma coisa meio raivosa, ou muito de coitadinho. Tive que esperar o tempo passar — conta. — Eu estava me sentindo totalmente derrotado. Já tive depressão e posso falar: se não fosse pela minha esposa e pela minha filha, talvez eu não estivesse aqui agora. Mas, depois de tudo, ganhei seguidores, contratos, publicidade, coisas que não aconteciam para mim no rap. Consegui humanizar minha imagem. Dancei axé, me maquiei, brinquei, fiz de tudo e muita gente viu isso. Hoje consigo valorizar o “BBB”. Quando saí da casa, eu só pensava: “Mano, o que é que eu fui fazer lá?”

Apoio: Filha de André Gonçalves, Valentina Benini anuncia intercâmbio em Barcelona e comenta desabafo da irmã

Capa de "A saída está dentro", álbum do rapper Projota Foto: Reprodução
Capa de "A saída está dentro", álbum do rapper Projota Foto: Reprodução

De um dos versos de “Volta”, Projota tirou o título do álbum: “A saída está dentro”.

Lulu Santos: Astro escreve ficção erótica e ganha disco de homenagem nos 40 anos de carreira: 'Como se escreve sozinho, fica masturbatório'

— A depressão é o grande mal que assola a Humanidade, desde antes da pandemia. Ela é um lugar que não tem portas, não tem janelas, não tem um sofá. E como é que você sai dali, desse lugar em que você muitas vezes não sabe que está? A saída está mais para dentro, é quando você olha para o interior de si mesmo — ensina o rapper. — Isso tem a ver com reality, com internet, com intolerância e com desigualdade social. É importante, por exemplo, que as pessoas cobrem das figuras públicas que elas ajam de uma forma melhor, mas existe um exagero. Eu acho que fui para o “Big Brother” no momento errado.

Paulinho da Viola: 'Sou um homem do século XIX. Não sei o que estou fazendo aqui'

Casado (com a atriz Tâmara Contro) e com uma filha pequena ( Marieva, que faz 2 anos no mês que vem ), o rapper está cada vez mais caseiro e menos presente nas redes sociais.

— Estou tentando ficar mais equilibrado nesse sentido, porque não dá para não estar nas redes, é o meu trabalho. Hoje eu tenho que me esforçar para estar on-line, para fazer os stories, para mostrar conteúdo à galera, os fãs anseiam por isso. Eles querem muito o dia a dia, tipo eu aqui em casa fritando ovo — diz ele, que não se anima muito em ver outros fazendo o mesmo dentro do “BBB 22”, cuja estreia está marcada para a semana que vem. — Sou do tipo que acompanha o programa pelo Instagram. Não posso dizer que quando começar o “BBB 22” eu não vou me empolgar e assistir, mas eu acho difícil. Agora tenho uma outra perspectiva de tudo isso, é impossível julgar alguém.

Falso moralismo

Composto em estúdio, ao longo de sessões de improvisos com músicos, “A saída está dentro” é o disco mais orgânico da carreira de Projota, com faixas que se dividem entre o romantismo mais deslavado (“Pássaros”, “Ladrão de estrelas” e as duas partes de “Chuva de novembro”) e a indignação pura e simples — como se pode ver em “Homens de bem”, uma das músicas que ele compôs no pré-confinamento do “BBB” e que gravou com Nando Reis, para falar de machismo, violência e falso moralismo.

—Quando comecei a escrevê-la, eu estava falando de mim. Foi uma evolução que me permitiu enxergar que, se não cuidar de mim mesmo, eu posso me tornar o cara no bordel em Paris — ilustra o rapper. — A sociedade te dá dois caminhos: ou você não cresce, ou cresce e se torna um lixo. A gente tem que encontrar o equilíbrio.

Nara Leão: Série do Globoplay destaca todas as facetas da cantora, que completaria 80 anos no dia 19

Já em “O hype”, com Fernandindo Beatbox, Projota aponta o dedo para o que chama de “rap fascista”.

— As pessoas querem ter direto à opinião mesmo que essa opinião tire a vida e a liberdade de outras pessoas. A gente vive num país extremamente polarizado e era difícil imaginar que dentro do rap a gente ia passar isso. Mas isso existe também — diz. — A gente enxerga isso com muita estranheza. Para mim, não faz qualquer sentido o cara ouvir rap e votar no Bolsonaro. Você ouviu esse bagulho a vida toda e depois vota em alguém que não tem nada a ver com o nosso corre? Isso é o absurdo!