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‘O rock é algo em extinção’, diz Ale Sater, do Terno Rei, grupo que lança disco com letras sobre amizade e nostalgia

Atração do Lollapalooza no fim do mês, quarteto voltou a referências de mais de 20 anos atrás no álbum ‘Gêmeos’, que sai nesta quarta-feira
O grupo Terno Rei, do vocalista Ale Sater (à esquerda) Foto: Fernando Mendes / Divulgação
O grupo Terno Rei, do vocalista Ale Sater (à esquerda) Foto: Fernando Mendes / Divulgação

Aviões que já não passam mais pelas redondezas, no ano mais triste de nossas vidas — a pandemia teve um impacto significativo sobre a psiquê de Ale Sater, baixista, vocalista e compositor do grupo paulistano de indie rock Terno Rei. Conhecido por suas canções melancólicas e muito emotivas, ele expressou seus sentimentos nos tempos de isolamento em “Aviões”, uma das canções de “Gêmeos”, quarto disco de suas banda, que chega esta quarta-feira ao streaming. Aclamado por seu álbum anterior, “Violeta” (2019), o quarteto parte, com o novo disco, para uma turnê que começa em grande estilo, dia 26, no Lollapalooza , e chega ao Rio em 7 de maio, no Circo Voador.

— No começo, a pandemia bateu mal, a gente tinha lançado um disco que saiu superbem e havia shows marcados no Brasil inteiro até dezembro de 2020. Foi frustrante, mas tem sempre um lado seu que tenta aproveitar as oportunidades. Eu mesmo aprendi a cozinhar umas coisas diferentes, fiz ioga, usei esse tempo para me reciclar — conta Ale, de 32 anos, que no fim do ano passado ainda lançou um elogiado EP solo, mais folk, “Fantasmas” (do qual faz show sexta-feira, no Studio SP). — Eu tinha aquelas composições e queria soltá-las, mas nunca encontrava tempo. Entrei em contato com o Gustavo Schirmer ( produtor de “Violeta” e coprodutor de “Gêmeos” ) e gravamos as músicas à distância.

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Logo que as restrições impostas pela Covid-19 foram amenizadas, o Terno Rei foi para um sítio em Araçoiaba da Serra (SP), formatar as canções de “Gêmeos”, disco cujo título foi escolhido, segundo Ale, por resumir bem a ideia de amizade e de nostalgia (“o ‘gêmeo’ é aquele amigo que você tem quando adolescente, aquele para quem você conta tudo”, explica) presente na maior parte das letras das canções.

— E a gente está há 12 anos juntos, numa posição de ser gêmeos também — acrescenta ele, que integra o Terno Rei com Bruno Paschoal, Greg Maya e Luis Cardoso. — De certa forma a pandemia acabou jogando a favor do disco no sentido de disponibilizar energia de todo mundo. Foi um trabalho em que a gente experimentou muito mais, testou outros instrumentos e usou uma guitarra diferente, mais pesada. Além disso, trancado em casa, não teve como a gente não voltar para as coisas antigas que fizeram a nossa cabeça: The Sundays, o “Pablo honey” do Radiohead, o “Jagged little pill” da Alanis Morissette ... Todas essas coisas que já têm 20 anos ou mais.

O caráter retrô do disco aponta um pouco para a triste realidade de que rock não é mais um gênero popular — que dirá entre a juventude.

— Eu me sinto muito sortudo. Querendo ou não, está um pouco caído esse negócio de ter banda, o rock é meio uma coisa em extinção. Mas a gente segue a nossa, que é fazer discos e shows — lamenta o artista, primo em segundo grau do violeiro e ator Almir Sater, que volta em breve no remake da novela “Pantanal”. — O Almir é muito inspirado como músico e compositor, ouço muito “Saudade é uma estrada longa” e “Tocando em frente”. Bebo nele assim como em muitas outras influências.