Cultura Música

Análise: Ao microfone, Gabigol tem o êxito que mostra nos gramados

Entre dribles e rimas, jogador se aventura no palco com o nome de rapper Lil Gabi
O jogador Gabigol grava música no estúdio do produtor Papatinho Foto: Reprodução / Instagram
O jogador Gabigol grava música no estúdio do produtor Papatinho Foto: Reprodução / Instagram

O que pode ser maior, para um típico garoto brasileiro com hormônios em ebulição, do que a glória conquistada com a bola no pé e todos os adversários para trás? Hoje em dia, só mesmo ser uma estrela do trap, a variante sulista do hip hop americano que, nos últimos anos, transfigurou a música pop global, do Brasil a Porto Rico, passando pela Nigéria e pela República Tcheca. Em sua figura triunfante, que traduz as vitórias em um excêntrico lifetsyle (de festas intermináveis, extensas tatuagens, roupas vistosas, dinheiro a rodo e troféus sexuais), Gabigol não difere do MC de sucesso: tem mais é que ostentar, afinal poucos chegaram ali — e só o foi porque travaram lutas sangrentas contra toda uma sociedade que quer ver o preto e/ou pobre em posição de submissão.

Ao microfone, Lil Gabi tem êxito em incorporar o poder que Gabigol exerce nos gramados. É natural (e bem convincente) a desenvoltura com que ele se move por versos como “dinheiro, eu tô jogando pro alto / só porque minha conta tá lotada” ou “se eu tô em campo, é certo tua derrota”, todos eles de “Sei lá”, faixa lançada com o produtor Papatinho e o MC Choji. Bem de acordo com os princípios do trap, o que se tem ali é música de celebração — jamais música alegre, como o samba outrora associado ao futebol (os tempos são outros, há muito as máscaras sociais caíram).

Das 4 linhas para as 7 notas: Veja os boleiros que se jogaram na música

Como coadjuvante (musical) de Choji em “Sei lá”, Lil Gabi pôde, no entanto, se poupar dos versos mais pesados da canção: alguns misóginos, outros insinuando a presença de drogas e armas. Espera-se algo parecido para a faixa que está sendo divulgada em prévia , com MC Borges (um dos mais talentosos e ferozes do trap brasileiro). “Um milhão e pouco / porque eu sou camisa 9”, ouve-se Lil Gabi versar, no pouco que foi divulgado. Há que se aguardar, portanto, para ver se o trap segue para ele como hobby, tiração de onda, ou se o artilheiro vai mesmo partir para o ataque.