Cultura Música

Análise: com 'Vai malandra', Anitta sobe o morro outra vez

Retorno às origens de cantora é importante, mas música e clipe estão aquém da artista
Anitta no clipe 'Vai Malandra' Foto: Reprodução / Agência O Globo
Anitta no clipe 'Vai Malandra' Foto: Reprodução / Agência O Globo

RIO – É saudável ver Anitta de volta ao funk depois de um ano de incursões pelo pop latino (ou simplesmente pop) mais genérico, em clipes hollywoodianos com convidados VIPs, como Pabllo e Maluma. Tudo foi parte de um plano maligno para conquistar 24 territórios, além de Omsk, Aral e Dudinka, mas — por mais que o esquema pareça estar funcionando às mil maravilhas — a música da popstar carioca sofreu com tantas adaptações, concessões e parcerias, e a pimenta que ajudou Anitta a estourar no Brasil ainda não apareceu para o mundo.

LEIA MAIS: Anitta é elogiada pelo Detran por usar capacete no clipe de 'Vai malandra'

RONALD VILLARDO: Barriga de Madonna, celulite de Anitta

Figurinos, cabelos e rebolados, além da eventual wardrobe malfunction (quando um movimento faz a roupa revelar uma parte do corpo que, imagina-se, deveria permanecer oculta) podem levar Anira a um posto na pirâmide da música pop mundial, mas um som sem personalidade certamente a levaria a descer com a mesma velocidade da subida.

O que nos traz a “Vai malandra” (não custava nada uma virgulinha entre as duas palavras, né?), construída sobre um riff tão simples que parece algo que a menina Larissa (nome de Anitta na identidade) cantaria nos bailes aos 14 ou 15 anos. A gravação, claro, tem uma elegância e uma esperteza de que só uma artista estabelecida é capaz, mas a composição em si soa rasteira comparada a hits anteriores da cantora, como “Show das poderosas” e “Bang”.

A letra — sim, ela é parte da canção! —, mesmo divertida, não cabe a uma cantora vista como ícone feminista, com bobagens como “brincando com o bumbum”. Anitta e MC Zacc mandam bem, com produção correta (talvez um pouco simples demais, mas a intenção deve ter sido essa) dos Tropkillaz e do DJ Yuri Martins. O rapper Maejor preenche uma cota de rap gringo hoje desnecessária, principalmente para uma diva como Anitta.

O clipe que acompanha a música de levada circular (quase circense) tem acertos, como o cenário do Vidigal e os biquínis de fita isolante, mas a sexualização exagerada faz Anitta avançar várias casinhas na escala Nicki Minaj de vulgaridade.