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Beyoncé: tudo o que você precisa saber sobre 'Lemonade'

Depois de meses de expectativa e mistério, cantora lançou álbum e filme
Beyoncé em cena de 'Lemonade' Foto: Reprodução
Beyoncé em cena de 'Lemonade' Foto: Reprodução

NOVA YORK - Ela fez de novo. Beyoncé, que em 2013 mudou as regras de como as estrelas pop lançam sua música com a divulgação surpresa de um álbum auto-intitulado e uma série de vídeos correspondentes, voltou a seguir a mesma linha. "Lemonade", sexto disco solo da cantora, saiu na noite de sábado após sua estreia na HBO americana, em um especial de uma hora de duração. Espécie de ópera-rock moderna, "Lemonade" é um média-metragem conceitual baseado nas novas músicas de Queen Bey.

Numa virada em que levou o pessoal para o profissional, o novo álbum e sua identidade audiovisual — que descrevem, em detalhes, por vezes brutais, a angústia de Beyoncé como amante escanteada — foram disponibilizadas para streaming na noite de sábado com exclusividade pelo Tidal, o serviço de streaming criado pelo marido da cantora, o rapper e produtor Jay Z. "Lemonade" não está sequer à venda nos iTunes da vida e seus vídeos não estão (oficialmente) no YouTube.

"Lemonade" é "baseado na jornada de autoconhecimento e cura de todas as mulheres", disse o Tidal em um anúncio. O título faz referência à escravidão americana, quando os negros acreditavam que suco de limão clareava a pele. As 12 faixas incluem colaborações com The Weeknd, James Blake, Jack White e Kendrick Lamar. Seguindo a mais básica tradição do hip-hop, as canções sampleiam artistas como Led Zeppelin, Yeah Yeah Yeahs, Soulja Boy e Animal Collective. Entre os produtores, Diplo, Ezra Koenig, do Vampire Weekend, e Just Blaze.

O especial de TV, filmado majoritariamente em Nova Orleans, conta com participação especial de Serena Williams e de Jay Z, com interlúdios falados de Beyoncé, moradores da cidade e outros. Os vídeos foram dirigidos pela própria Beyoncé, Jonas Akerlund (de "Telephone", e queridinho de Taylor Swift, Madonna e Paul McCartney), Mark Romanek (documentarista musical), Melina Matsoukas (que já havia trabalhado com Beyoncé e Rihanna), Todd Tourso (outro que trabalhou com a cantora anteriormente), Dikayl Rimmasch (diretor de "Bang bang") e Kahlil Joseph.

Com músicas como "Daddy lessons", sobre sua complicada relação com o próprio pai, "Lemonade" é o trabalho mais pessoal de Beyoncé até agora. Os vídeos, que remetem a uma visão gótica do sul dos Estados Unidos, falam sobre tristeza, intuição, negação, raiva, apatia, vazio, prestação de contas e reforma — como se Beyoncé encarasse de cabeça erguida os anos de especulações dos tabloides sobre seu casamento com um dos nomes mais importantes da indústria fonográfica.

"Você está me traindo?", pergunta a cantora em um momento. "Amigão, melhor crescer", canta em outro, referindo-se a um antigo apelido do marido.

Em um capítulo, o ativista negro Malcolm X assassinado em 1965, aos 39 anos, entoa: "A mulher mais desrespeitada nos Estados Unidos é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida nos Estados Unidos é a mulher negra. A pessoa mais negligenciada nos Estados Unidos é a mulher negra". Mães de jovens negros assassinados pela polícia, incluindo Michael Brown e Eric Garner, aparecem segurando fotos de seus filhos.

Desde o ano passado, Beyoncé vem soltando pistas sobre o lançamento. Em vez de apenas repetir a estratégia de "Beyoncé", de 2013, a cantora explorou habilmente a expectativa de que faria isso novamente, com mensagens enigmáticas nas redes sociais, incluindo fotos da cantora com limões (a primeira foi publicada em setembro de 2015).

Em fevereiro, em sua segunda participação no show do intervalo do Super Bowl — ela comandou o evento em 2013, dez meses antes de seu disco surpresa —, Beyoncé roubou a cena do Coldplay, atração principal da noite, e apresentou "Formation". O single, 12ª faixa do disco, levantou especulações fervorosas sobre o que viria pela frente.

Depois de sua performance avassaladora, Beyoncé anunciou uma turnê mundial, que começa no dia 27 de abril em Miami e termina dia 31 de julho na Bélgica. Maximizando a sinergia de sua "marca", Beyoncé lançou na semana passada a Ivy Park, linha de roupas esportivas em parceria com a Topshop, que também evoca o empoderamento feminino.

"Beyoncé", o disco, vendeu 365 mil cópias só nos Estados Unidos no primeiro dia, estreando em primeiro lugar na parada da "Billboard". Artistas como Drake, D'Angelo e J. Cole seguiram o exemplo da cantora, baseando-se na onda de excitação nas redes sociais que acompanha um lançamento inesperado.

Beyoncé admitiu sua própria influência em "Feeling myself", de Nicki Minaj. "Mudei o jogo com aquele lançamento digital/Você sabe onde estava quando aquele lançamento apareceu/Eu parei o mundo", canta. A diva pop já havia trabalhado com a HBO, um dos canais de maior prestígio na TV mundial, com o documentário "Life is but a dream", de 2013, e na transmissão de um especial baseado na turnê "On the run", com Jay Z, no ano seguinte.

Apesar do tom confessional e por vezes decepcionado, o disco tem um final feliz. "Lemonade" é concluído com cenas felizes do casal com sua filha, Blue Ivy. "Minha avó disse que nada real pode ser ameaçado", declama Beyoncé. "O amor verdadeiro me trouxe a salvação. Com toda lágrima vem a redenção, e meu torturador se tornou meu remédio. Então nós vamos ficar curados", finaliza.