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Charlie Watts, baterista dos Rolling Stones, morre aos 80 anos

Informação foi confirmada pela agente do músico à "BBC"
Charlie Watts, baterista do Rolling Stones Foto: Agência O Globo
Charlie Watts, baterista do Rolling Stones Foto: Agência O Globo

Charlie Watts, baterista do Rolling Stones, morreu nesta terça-feira, aos 80 anos. A informação foi confirmada à "BBC" pelo agente do músico, Bernard Doherty. A causa da morte ainda não foi divulgada.

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"É com imensa tristeza que anunciamos a morte do nosso querido Charlie Watts. Ele faleceu pacificamente em um hospital de Londres hoje cedo cercado por sua família", disse Doherty. "Charlie era um marido, pai e avô querido e também, como membro dos Rolling Stones, um dos maiores bateristas de sua geração. Pedimos gentilmente que a privacidade da família, da banda e dos amigos próximos sejam respeitados neste momento difícil".

No início do mês, o londrino, que teve um câncer de garganta em 2004, foi obrigado a deixar a nova turnê do grupo pelos Estados Unidos após se submeter a uma cirurgia de emergência . De acordo com comunicado divulgado no dia 5 de agosto, o inglês passou por um "procedimento bem-sucedido" após um check-up de rotina e, por isso, precisaria de um tempo maior que o esperado para se recuperar. Na ocaisão,  não foi detalhado qual tipo de procedimento foi realizado. Ele foi substituído nos shows por Steve Jordan.

"Pela primeira vez, meu tempo estava um pouco errado", escreveu Watts em comunicado publicado nas redes sociais. "Estou trabalhando muito para ficar em forma, mas hoje aceitei, por recomendação dos especialistas, que isso vai demorar um pouco. Depois de todo o sofrimento dos fãs causado pela Covid, eu realmente não quero que os muitos fãs do Rolling Stones que têm ingressos para essa turnê fiquem desapontados com outro adiamento ou cancelamento. Portanto, pedi ao grande amigo Steve Jordan para me substituir".

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Discreto, Charlie Watts se manteve à distância da celebridade que o vocalista Mick Jagger tanto cultou. Aficionado por jazz, Watts competia com o ex-baixista Bill Wyman pelo título de membro menos carismático dos Rolling Stones. Numa das poucas suas poucas entrevistas, ao jornal "New Musical Express", em 2018, ele disse qual a receita da longevidade de seu único casamento, com Shirley Ann Shephard, realizado em 1964: "É que realmente eu não sou uma estrela de rock." A devoção à esposa, aliás, gerou até uma passagem anedótica para o stone monogâmico: quando a banda visitou a Mansão Playboy em 1972, Watts jogou sinuca com o dono da casa e da revista, Hugh Hefner em vez de sair com as coelhinhas como o resto da banda.

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Charlie Watts descreveu certa vez a vida com os Stones como "cinco anos tocando, 20 anos zanzando por aí". E, em outra, como "quatro décadas vendo a bunda de Mick correndo na minha frente". Sua aversão à celebridade estendeu-se à vida digital. Enquanto Mick Jagger e os guitarristas Keith Richards e Ronnie Wood tinham suas próprias conta no Twitter, junto com os Rolling Stones como um todo, Charlie Watts não tinha. Na sua ausência, a conta da banda usava a hashtag #CharliestoocoolforTwitter (Charlie é muito chique para o Twitter, em tradução livre), como forma de mencioná-lo.

Origens proletárias

Charles Robert Watts nasceu em 2 de junho de 1941 no University College Hospital em Londres e foi criado em Kingsbury, hoje parte do bairro londrino de Brent. Seu pai era motorista de caminhão e o menino cresceu em uma casa pré-fabricada para a qual a família se mudou depois que bombas alemãs destruíram centenas de casas na área. Um amigo de infância uma vez disse que Watts teve um interesse precoce por jazz e recordou-se de ouvir com ele discos de 78 rotações de artistas como Jelly Roll Morton e Charlie Parker.

Os pais compraram uma bateria quando ele tinha 13 anos e ele tocou junto com sua coleção de discos de jazz. Watts começou ase apresentar em clubes e pubs locais e, em 1961, foi ouvido por Alexis Korner, que lhe ofereceu um emprego em sua banda, Blues Incorporated, um grupo que se tornou uma parte vital do desenvolvimento do rock britânico. Também tocando com o Blues Incorporated estava um guitarrista chamado Brian Jones, que apresentou Watts aos novatos Rolling Stones, cujo baterista original, Tony Chapman, havia deixado a banda.

Os Rolling Stones em 1969, com Charlie Watts à esquerda Foto: France Presse
Os Rolling Stones em 1969, com Charlie Watts à esquerda Foto: France Presse

Charlie Watts estreou ao vivo com os Rolling Stones em 12 de janeiro de 1963 e logo se tornou o baterista permanente do grupo, que gravou seu primeiro álbum no ano seguinte. “Charlie é o motor. Não vamos a lugar nenhum sem o motor” - assim descreveu Keith Richards certa vez o papel do baterista na construção da sonoridade dos Rolling Stones. Com um estilo suingado, que lembra o das bandas de jazz de New Orleans, e uma preferência por uma instrumento com poucas peças, Watts exerceu, junto com Bill Wyman, o contraponto perfeito para o estilo agitado de Richards e Jagger.

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Além da habilidade musical, a experiência em design gráfico de Charlie Watts foi de grande valia para os Stones. Ele criou a capa do álbum de 1967, "Behind the buttons", e participou da elaboração dos cenários que se tornaram uma característica cada vez mais importante das turnês da banda.  Seu visual elegante, sempre em ternos bem cortados, também valeu ao baterista o título de um dos músicos mais bem vestidos do rock. Em uma das últimas apresentações dos Stones, por Zoom, ano passado, no festival virtual "One World: Together at Home", Watts não perdeu a pose, tocando uma bateria imaginária (ao que tudo indica, ele não tinha uma batera em casa).

Tempos de vício

Em meados da década de 1980, durante o que considerou uma crise de meia-idade, Charlie Watts deixou de lado a imagem de stone bem comportado e saiu dos trilhos, envolvendo-se com bebidas e drogas, chegando a viciar-se em heroína. "Ficou tão ruim", ele brincou mais tarde, "que até Keith Richards disse que eu tinha que resolver esse problema." Ao mesmo tempo, sua esposa estava lutando contra o próprio alcoolismo. e sua filha, Seraphina, foi expulsa da prestigiosa escola pública de Millfield por fumar maconha. Ainda nos 80, o músico viveu outra de suas passagens anedóticas ao esmurrar Mick Jagger depois de ter sido chamado por ele de "meu baterista" .

Charlie Watts, com sua banda de jazz, em 1992, no Canecão Foto: Reprodução
Charlie Watts, com sua banda de jazz, em 1992, no Canecão Foto: Reprodução

Dono de uma fortuna de 80 milhões de libras, Charlie Watts vivia com sua esposa em uma fazenda em Devon onde criavam cavalos árabes. Ele também se tornou uma espécie de especialista em prata antiga e colecionou de tudo, desde memorabilia da Guerra Civil Americana a carros clássicos antigos - algo curioso, já que não dirigia Entre suas turnês regulares dos Stones, Charlie Watts satisfez seu amor pelo jazz, tocando em big bands. Com uma delas, inclusive, apresentou-se no Brasil, em 1992, no Canecão .