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'Chateado, talvez, mas é tudo passageiro', diz Mauricio Maestro sobre separação do Boca Livre

Divergências políticas motivaram decisão de Zé Renato e Lourenço Baeta de saírem da banda
Da esquerda para direita. David Tygel, Lourenço Baeta, Zé Renato e Mauricio Maestro Foto: Leonardo Aversa / Divulgação
Da esquerda para direita. David Tygel, Lourenço Baeta, Zé Renato e Mauricio Maestro Foto: Leonardo Aversa / Divulgação

Mauricio Maestro, um dos fundadores do Boca Livre, quebrou o silêncio e comentou a saída dos colegas Zé Renato e Lourenço Baeta do quarteto. Os dois abandonaram a banda por não concordarem com a posição bolsonarista de Maestro. David Tygel, que também afirmou ter um pensamento político oposto ao colega remanescente, continua.

— Chateado, talvez, mas é tudo passegeiro. Respeito a decisão de cada um. (Divergências políticas), para mim, nunca foram motivo para eu sair ou querer que alguém saísse do grupo. A coisa musical nunca foi abalada. Fiquei até meio surpreso. Nós tínhamos um trabalho acertado, já contratado para fazer. Isso vai me dar o dobro do trabalho — disse Mauricio, em entrevista por telefone.

Perguntado se divergências em relação à vacina foram o estopim para o desmantelamento da formação, ele frisou que não é contra o imunizante. Sua posição é contrária à obrigatoriedade da vacinação.

— Eu sou contra obrigar a fazer uma coisa. Não sou contra a vacina, desde que seja comprovada a eficácia. Isso não quer dizer que eu seja contra o que as pessoas decidem. Como não quero que seja imposta uma opinião — disse Mauricio.

'Preservação da liberdade'

Zé Renato, integrante desde a primeira formação, em 1978, e Lourenço Baeta, que entrou em 1980, deixaram o quarteto por divergências com Mauricio Maestro, um dos fundadores. Maestro, alinhado com o presidente Bolsonaro e Olavo de Carvalho, e sempre compartilhando conteúdo de ambos em suas redes sociais, agora segue apenas com David Tygel, na banda desde 1978, entre idas e vindas. O anúncio foi feito pela empresária do grupo, Memeca Moschkovich, no Facebook.

— Não deixa de ser uma posição política, mas vai além disso. Vejo como preservação de liberdade, no sentido mais amplo da palavra — disse Zé Renato, por telefone, frisando que a decisão foi bastante amadurecida. — Não tenho filiação partidária. Mas comecei a ter dificuldade em participar de um grupo em que uma pessoa pensa exatamente o contrário. Não tenho problemas em dialogar, mas o que está acontecendo é a tentativa de cerceamento da liberdade.

Lourenço Baeta também calculou a decisão há tempos e diz que ela está além do espectro “esquerda e direita”.

— Você convive com divergência politica, mas tem hora que vai chega num ponto mais difícil aceitar certas coisas. Até pelo fato do desgaste do tempo — disse o músico, ainda sem planos para os próximos passos.

MPB refinada

O Boca Livre tinha sua formação original composta por Zé Renato, Claudio Nucci, Maestro e Tygel. Seu álbum de estreia, “Boca livre” (1979), ultrapassou a marca de 100 mil cópias vendidas, impulsionado pelos sucessos de “Toada” e “Quem tem viola”. Nucci sairia no ano seguinte, sendo substituído por Lourenço Baeta. Referência de uma MPB refinada, com arranjos e harmonias vocais que fogem do convencional, o grupo tem no currículo parcerias com Milton Nascimento, Tom Jobim e Edu Lobo, entre outros.