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Cultura Música

Crítica: 'Mormaço queima' apresenta o estranho e divertido mundo de Ana Frango Elétrico

Jovem compositora faz da mistura de poesia concreta com humor de referências seu diferencial
A cantora e compositora Ana Frango Elétrico Foto: Bárbara Lopes | Agencia O Globo
A cantora e compositora Ana Frango Elétrico Foto: Bárbara Lopes | Agencia O Globo

RIO — Do sobrenome artístico, passando pelo título de seu álbum de estreia ("Mormaço queima") e chegando, claro, aos versos compostos para as sete faixas do trabalho, Ana Frango Elétrico não esconde de ninguém que encara a música com uma visão despojada e irônica que cativa.

Mas não confunda a postura com falta de seriedade ou desleixo — é o contrário. A jovem cantora e compositora faz da mistura de poesia concreta com humor de referências a marca registrada que a diferencia dos demais artistas da nova geração.

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Versos como os de "No bico do mamilo um peteleco gelado" ("No metrô, eu penso que passo/ num subterrâneo/ perto da sua casa/ como dói/ No bico do mamilo/ um peteleco gelado") ou de "Roxo" ("Se de noite cada vez que liga a luz/ É um novo dia pro seu peixe/ Amanhã,/ por acaso pode ver/ o passeador/ de cachorros/ Que parece o Lenny Krevitz") podem fazer pouco (ou nenhum) sentido fora de contexto, mas viram pinceladas de pensamentos que se encaixam de forma harmônica na teia sonora, que vai do punk ao samba, sempre subvertendo e brincando com os gêneros explorados.

A estranheza é um elogio em "Mormaço queima", disco que ganha corpo a cada audição e que ainda traz como mérito a escolha dos músicos — Guilherme Lirio, Gustavo Benjão, Marcelo Callado e Thiago Nassif dão suporte e segurança para as invenções de Ana. Como álbum de estreia, "Mormaço" surge como cartão de visitas ideal da jovem artista carioca. Que venham os próximos.

Cotação: bom.