RIO - Os dois discos com a trilha sonora de “La la land” podem não ajudar Justin Hurwitz a ganhar dois Oscars (no próximo 26 de fevereiro), como
ganhou dois Globos de Ouro
(no último 8 de janeiro), mas confirmam que o jovem músico, 31 anos, apenas três filmes até agora e vários projetos em mente, pode vir a ser a maior revelação de compositor de cinema surgida nos Estados Unidos nos últimos anos. Pois é justamente isso que Hurwitz pretende ser: compositor de cinema.
O primeiro dos dois discos tem as canções escritas por ele e seus letristas, Benj Pasek e Justin Paul. Entre elas, claro, “City of stars” e “Audition (The fools who dream)”, que vão disputar uma contra outra a estatueta da categoria (
Confira a lista completa de indicados ao Oscar
). Não são grandes canções, mas pelo menos a primeira pode emplacar. A parte cantada da trilha, na maioria pelos astros não-cantores Ryan Gosling e Emma Stone, divide as 15 faixas com temas instrumentais arranjados e executados pelo compositor.
Jazzístico, mesmo, para atender ao personagem de Gosling, só “Herman’s habit”, pois já nesse disco de vocais é o orquestrador (função que Hurwitz faz questão de cumprir num cinema em que raros compositores orquestram a própria música) quem brilha. “Summer montage”, por exemplo, é um espetacular medley que justifica a confessada admiração de Hurwitz pelo Michel Legrand de “Os guarda-chuvas do amor” e “Duas garotas românticas”.
A admiração de Hurwitz por esses filmes, que alguns críticos viram citados em cenas de “La La Land”, explica também por que o
songwriter
encara com simpatia, e possível próximo projeto, este novo filme de Damien Chazelle adaptado ao teatro. Quer dizer, um novo musical da Broadway para o qual ele teria de compor muito mais canções que as da trilha.
O musical de Damien Chazelle foi indicado em 14 categorias, igualando o recorde de "Titanic" (1997) e "A malvada" (1950). Além de concorrer a melhor filme, direção, roteiro original, atriz (Emma Stone), ator (Ryan Gosling) e trilha sonora, o longa ainda disputa duas vezes na categoria canção original.
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Damien Chazelle perto de fazer história
Foto: Jordan Strauss / AP
Sabemos que "La la land" já fez história pelo número de indicações. Mas o cineasta Damien Chazelle pode ainda derrubar um recorde de 1932 se vencer na categoria direção. No dia da premiação, ele terá 32 anos e 37 dias, e superaria Norman Taurog (32 anos e 260 dias) como diretor mais novo a levar a estatueta na categoria.
O terceiro em meia década?
Foto: Divulgação
De 88 Oscars de melhor filme dados até hoje, somente dez foram para musicais. O panorama piora quando o recorte conta os últimos 50 anos:
apenas "Oliver!" (1968) e "Chicago" (2002) levaram o prêmio
mais cobiçado da festa. Será que "La la land" volta a fazer o gênero triunfar?
Oscar menos white
Foto: Divulgação
Depois de toda a polêmica dos últimos anos, a Academia ampliou e deu maior diversidade a seu quadro de votantes. O resultado foi rápido: estão na disputa o ator coadjuvante Mahershala Ali e a atriz coadjuvante Naomie Harris (ambos de "Moonlight"); e o ator Denzel Washington e a atriz Viola Davis ("Um limite entre nós"), entre outros.
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Falando nisso...
Foto: MARIO ANZUONI / REUTERS
A categoria melhor atriz coadjuvante tem três atrizes negras: Viola Davis ("Um limite entre nós"), Naomie Harris ("Moonlight: Sob a luz do luar") e Octavia Spencer ("Estrelas além do tempo"). É a primeira vez que isso acontece em uma categoria de atuação desde que o Oscar foi criado.
O filme de animação "Kubo e as cordas mágicas" foi indicado a duas categorias no Oscar 2017: efeitos visuais e filme de animação. A lista, divulgada na manhã desta terça-feira, surpreendeu ao relacionar o longa em uma categoria visual,
feito raro na premiação
.
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'Manchester à beira-mar' e o triunfo do streaming
Foto: Divulgação
Indicado em seis categorias, "Manchester à beira-mar" também atingiu uma marca histórica. O drama de Kenneth Lonergan se tornou o primeiro filme produzido por um serviço de streaming, a Amazon, a concorrer à categoria de melhor filme no maior prêmio do cinema mundial. Ao todo, a Amazon acumula sete indicações.
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Holofotes para o caçula
Foto: Matt Sayles / AP
Astro de "Manchester à beira-mar", Casey Affleck é um dos grandes favoritos para levar o Oscar de melhor ator. Como o nome sugere, ele é irmão mais novo de Ben Affleck. O Batman da DC tem duas estatuetas em casa: melhor filme (por "Argo", de 2012) e melhor roteiro original ("Gênio indomável", de 1997). Ben, porém, nunca ganhou um Oscar de atuação.
O ator/diretor entrou numa espécie de lista negra de Hollywood por quase uma década após fazer comentários polêmicos, incluindo ofensas antissemitas. No entanto, tudo parece ter sido esquecido, já que "Até o último homem" recebeu seis indicações, incluindo a de melhor direção para Gibson.
A lista dos esnobados pela Academia em 2017 tem nomes como Amy Adams ("A chegada"), Tom Hanks ("Sully: O herói do rio Hudson"), Hugh Grant ("Florence: Quem é essa mulher?"), Annette Bening ("20th century women") e o diretor Clint Eastwood ("Sully"). Além de muitos outros, claro.
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Foto: Richard Shotwell / Richard Shotwell/Invision/AP
A 89ª edição do Oscar será realizada no dia 26 de fevereiro, também conhecido como domingo de carnaval no Brasil, no Dolby Theatre, em Los Angeles. Pela primeira vez, o comediante Jimmy Kimmel, apresentador do talk show "Jimmy Kimmel Live!", da ABC, será o mestre de cerimônia da festa. Ano passado, a responsabilidade foi de Chris Rock.
Michel Legrand não é o único que Hurwitz cita com reverência. Ele rasga elogios a John Williams e diz ter aprendido muito ouvindo Nino Rota, Bernard Herrmann e Ennio Morricone, num sinal claro de que o músico de jazz e eventualmente pop de “La La Land” tem especial atração pelas trilhas incidentais.
O que remete ao segundo disco. À exceção de um bônus de “City of stars”, com o par de atores do filme, todas as faixas, 29 mais o bônus, são temas do filme usados como comentários de fundo ou, em alguns casos, para que a dança comande o espetáculo.
É oportuna a repetição de “Summer montage” e outros temas, pelos quais é possível concluir que Justin Hurwitz trabalha com a competência de quem maneja a orquestra com o mesmo saber com que integra um grupo de jazz. Como, por exemplo, o de Oscar Peterson, pianista canadense que o apresentou a um tipo de música diferente da dos desenhos da Disney.
Seu filme anterior, com o mesmo Chazelle, já dizia ao que veio o jovem compositor. “Whiplash: Em busca da perfeição” (2014) é uma trilha ainda mais jazzista que a de “La la land”, mas os momentos dramáticos que ilustram as crises entre o professor tirânico (J.K. Simmons) e o aluno martirizado (Miles Teller) mostram que Justin Hurwitz já está bem mais perto de Williams, Rota, Herrmann, Morricone do que de Peterson.