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Crítica: Música do filme ‘La la land’ merece atenção por si só

Justin Hurwitz pode vir a ser a maior revelação de compositor de trilha dos últimos anos
Emma Stone, Jessica Rothe, Sonoya Mizuno e Callie Hernandez em cena do filme "La La Land" Foto: Divulgação/Dale Robinette
Emma Stone, Jessica Rothe, Sonoya Mizuno e Callie Hernandez em cena do filme "La La Land" Foto: Divulgação/Dale Robinette

RIO - Os dois discos com a trilha sonora de “La la land” podem não ajudar Justin Hurwitz a ganhar dois Oscars (no próximo 26 de fevereiro), como ganhou dois Globos de Ouro (no último 8 de janeiro), mas confirmam que o jovem músico, 31 anos, apenas três filmes até agora e vários projetos em mente, pode vir a ser a maior revelação de compositor de cinema surgida nos Estados Unidos nos últimos anos. Pois é justamente isso que Hurwitz pretende ser: compositor de cinema.

O primeiro dos dois discos tem as canções escritas por ele e seus letristas, Benj Pasek e Justin Paul. Entre elas, claro, “City of stars” e “Audition (The fools who dream)”, que vão disputar uma contra outra a estatueta da categoria ( Confira a lista completa de indicados ao Oscar ). Não são grandes canções, mas pelo menos a primeira pode emplacar. A parte cantada da trilha, na maioria pelos astros não-cantores Ryan Gosling e Emma Stone, divide as 15 faixas com temas instrumentais arranjados e executados pelo compositor.

Jazzístico, mesmo, para atender ao personagem de Gosling, só “Herman’s habit”, pois já nesse disco de vocais é o orquestrador (função que Hurwitz faz questão de cumprir num cinema em que raros compositores orquestram a própria música) quem brilha. “Summer montage”, por exemplo, é um espetacular medley que justifica a confessada admiração de Hurwitz pelo Michel Legrand de “Os guarda-chuvas do amor” e “Duas garotas românticas”.

A admiração de Hurwitz por esses filmes, que alguns críticos viram citados em cenas de “La La Land”, explica também por que o songwriter encara com simpatia, e possível próximo projeto, este novo filme de Damien Chazelle adaptado ao teatro. Quer dizer, um novo musical da Broadway para o qual ele teria de compor muito mais canções que as da trilha.

Michel Legrand não é o único que Hurwitz cita com reverência. Ele rasga elogios a John Williams e diz ter aprendido muito ouvindo Nino Rota, Bernard Herrmann e Ennio Morricone, num sinal claro de que o músico de jazz e eventualmente pop de “La La Land” tem especial atração pelas trilhas incidentais.

O que remete ao segundo disco. À exceção de um bônus de “City of stars”, com o par de atores do filme, todas as faixas, 29 mais o bônus, são temas do filme usados como comentários de fundo ou, em alguns casos, para que a dança comande o espetáculo.

É oportuna a repetição de “Summer montage” e outros temas, pelos quais é possível concluir que Justin Hurwitz trabalha com a competência de quem maneja a orquestra com o mesmo saber com que integra um grupo de jazz. Como, por exemplo, o de Oscar Peterson, pianista canadense que o apresentou a um tipo de música diferente da dos desenhos da Disney.

Seu filme anterior, com o mesmo Chazelle, já dizia ao que veio o jovem compositor. “Whiplash: Em busca da perfeição” (2014) é uma trilha ainda mais jazzista que a de “La la land”, mas os momentos dramáticos que ilustram as crises entre o professor tirânico (J.K. Simmons) e o aluno martirizado (Miles Teller) mostram que Justin Hurwitz já está bem mais perto de Williams, Rota, Herrmann, Morricone do que de Peterson.

Cotação: Bom