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Crítica: The Weeknd na hora da estrela

Canadense foge do alternativo e reflete sobre a fama, com Daft Punk e Lana Del Rey

The Weeknd: seu terceiro álbum traz algumas redundâncias, mas deve manter acesa sua estrela
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The Weeknd: seu terceiro álbum traz algumas redundâncias, mas deve manter acesa sua estrela Foto: Divulgação

RIO - Ano exemplar para o lado mais experimental do pop de sotaque negro, com discos notáveis de Frank Ocean, Blood Orange, James Blake, Solange e Anderson .Paak, 2016 chega a suas últimas semanas com “Starboy”, o primeiro álbum pós-estouro de um dos artistas-síntese do alt-r&b: The Weeknd.

Canadense de Toronto, surgido na cena das mixtapes do hip hop, o filho de emigrantes etíopes Abél Tesfaye, de 26 anos, conseguiu a façanha de ocupar os três primeiros lugares da parada americana com as músicas de seu álbum de 2015, “Beauty behind the madness”. Agora investido dos poderes sobrenaturais que advêm da fama, ele se vê cada vez mais distante do alternativo e próximo do star quality que impulsionou os sonhos mais loucos do ídolo Michael Jackson.

Abél cita The Smiths, Bad Brains, Talking Heads, Prince e DeBarge como inspiradores de “Starboy”. Mas parece ser David Bowie — em especial o da música “Fame” — a referência mais certeira para explicar esse disco repleto de produtores do primeiro time comercial (Max Martin, Benny Blanco, Diplo), com músicas que falam das dificuldades de relacionamento de alguém que chegou ao topo do mundo.

O duo francês Daft Punk abre o time estelar de convidados do disco, colaborando com a boa faixa-título, na qual Abél dá sinais do seu desencanto: “Não reze por amor, reze por carros”. “Party monster” equilibra a sacarose dos vocais com um travo amargo de trap, enquanto fala da busca pela mulher perfeita (com participação da amiga Lana Del Rey). E “False alarm”, por sua vez, move-se pelo eletroclash, com vocais gasosos e gritos para contar a história da garota volúvel “que ama todo mundo”.

Entre as boas faixas de festa de “Starboy”, estão “Rockin’”, a luminosa “Secrets” (que tem citação a “Talking in your sleep”, dos Romantics, e sample de “Pale shelter”, dos Tears For Fears) e a funky “Love to lay”. Um Michael Jackson versão redux se insinua em “A lonely night” e “I feel it coming”, outra colabração com Daft Punk, que parece alguma faixa que o duo resolveu deixar de fora do disco “Random access memories”.

Uma esperta revisão do baladismo oitentista (“True colors”) e um dueto com o rapper Kendrick Lamar (“Sidewalks”) completam a seleção de boas faixas desse disco com um tanto de redundâncias — mas que deve manter acesa a estrela do canadense.

Cotação: Bom