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Cultura Música

'Deus é mulher' tem presença feminina mais marcada que no disco anterior

Mariá Portugal, Alice Coutinho e Tulipa Ruiz estão no time de compositores do álbum
Elza Soares no show do disco 'A mulher do fim do mundo', em 2015 Foto: Bárbara Lopes
Elza Soares no show do disco 'A mulher do fim do mundo', em 2015 Foto: Bárbara Lopes

RIO — O núcleo de “Deus é mulher” é o mesmo do disco anterior, com direção musical de Guilherme Kastrup e coprodução de Romulo Fróes, Kiko Dinucci, Marcelo Cabral e Rodrigo Campos. Há uma presença feminina mais marcada do que no álbum anterior, com o reforço de Mariá Portugal (bateria, percussão e MPC), Maria Beraldo (clarinete e clarone) e do grupo afro-percussivo de mulheres Ilú Oba De Min. Como compositoras, além de Mariá aparecem Alice Coutinho (parceira de Romulo Fróes em “Língua solta” e “Eu quero comer você”) e Tulipa Ruiz (“Banho”) — as outras músicas são de Rodrigo Campos, Luciano Mello, Pedro Loureiro, Kiko Dinucci, Edgar e Clima, além dos já citados.

A presença feminina mais marcada talvez seja uma resposta aos ataques que “A mulher do fim do mundo” recebeu, de que seria um disco de uma mulher feito por homens, no qual Elza teria sido usada para servir de voz a eles. Elza ouve e rebate tranquila:

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— Então eu que usei eles.

O processo, ela explica, foi na verdade de decisões compartilhadas — sobretudo entre ela e Kastrup. Ele fez uma pré-seleção de cerca de 50 músicas, das quais eles tiraram as 11 do disco (“A palavra final era minha”, esclarece). Tanto que houve canções que os produtores preferiam não incluir, mas que entraram porque ela queria — algo que já havia acontecido em “A mulher do fim do mundo”:

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— Sempre gostei de pensar meus shows, o repertório dos discos, minhas capas.

Uma das primeiras canções a ser escolhida foi “Exu nas escolas”, de Dinucci e Edgar.

— Exu abre caminhos. Essa música apontava uma boa trilha para o disco — diz a cantora, sobre a canção que reivindica o espaço da sabedoria afrobrasileira de Exu nas salas de aula.

A afirmação sexual aparece como exibição de autonomia e poder, em canções como “Banho” e “Eu quero comer você".

— Hoje estou acima do sexo. Mas convido ele quando quero para cantar — diz, com malícia.

Chamada de “Dura na queda” em canção de Chico Buarque, Elza conta que teve apenas um momento no qual pensou em não levantar do tombo, no início dos anos 1980:

— Já estava decidida a parar de cantar e ir trabalhar numa ONG. Caetano Veloso soube e me chamou para cantar “Língua”. Ali eu vi: “Não posso parar”.

Hoje, Elza vai além. Ela conta que Maria Bethânia chegou a dizer a ela: “Você pode salvar o Brasil”. Pode?

— Com outras Elzas podemos. Sozinha me sinto pequena. Por isso grito.