Exclusivo para Assinantes
Cultura Música

Diane Warren, a solitária hitmaker das estrelas, ganha disco para mostrar suas canções

Compositora de sucessos para Céline Dion e Aerosmith, americana se indigna: “Hoje, você encontra músicas com até 20 compositores... para que tanta gente?”
A compositora americana Diane Warren Foto: Divulgação
A compositora americana Diane Warren Foto: Divulgação

RIO - Compositora de alguns gigantescos sucessos do pop dos anos 1990, como “Because you loved me” (Céline Dion), “Un-break my heart” (Toni Braxton) e “I don’t wanna miss a thing” (Aerosmith), a americana Diane Warren ainda não estava satisfeita – nem mesmo com a marca de nove canções, que ela compôs sozinha, a chegarem ao número 1 da parada americana (um recorde que nenhum homem ou mulher, compondo sem parceiros, derrubou). Mas a realização veio ano passado.

— Fiz uma música com o Ringo [Starr] e o Paul McCartney cantou em uma parte dela [ “Here’s to the nights”, que Ringo lançou em single e depois no EP “Zoom in” ]! Sou a maior fã dos Beatles nesse mundo e enfim tive dois deles cantando uma canção minha. É aquele momento em que eu tive que me beliscar, até hoje não acredito — conta por Zoom uma Diane agora mais feliz ainda com o lançamento do álbum “The Cave Sessions, Vol. 1”, em que vários artistas interpretam suas canções.

Fernanda Abreu, 60 anos: 'A garota vai rolar até eu ficar velhinha'

O guitarrista Carlos Santana , Céline Dion, John Legend, John Batiste (da trilha da animação “Soul”) e o astro porto-riquenho Luis Fonsi, do “Despacito”, são alguns dos nomes que Diane conseguiu reunir em seu disco, lançado em 27 de agosto, e precedido pelo single “She’s fire”, com Santana e o rapper G-Eazy.

— Esse é um tipo de álbum que normalmente só os DJs e produtores fazem, os DJs Khaled e David Guettas do mundo. O que eu queria lançar um disco das minhas canções, que trafegam por diversos gêneros, do pop, rock e hip hop ao r&b, country e música latina — explica a compositora. — Queria um disco em que pudesse fazer uma canção com Santana e G-Eazy, ou uma com [o rapper] Ty Dolla $ign e outra bem latina, com Luis Fonsi.

Aos 65 anos de idade, Diane Warren se orgulha em derrubar clichês acerca da composição pop. Por exemplo: o de que os grandes hitmakers sempre criam músicas visando a esse ou àquele artista:

— Eu apenas tento compor grandes canções, e aí elas podem ir para um ou outro intérprete. Quando compus “Drink you away”, não estava pensando de forma alguma em Ty Dolla $ign, era uma canção tão deslocada para ele... mas, no fim das contas, foi interessante tê-lo nela.

Ou então: a noção de que o streaming está mudando a forma com que se faz canções de sucesso , obrigando o compositor a fazê-las mais curtas, com refrãos que não demorem a entrar:

— Isso não mudou nada para mim. Não interessa se as pessoas querem fazer streaming da canção ou comprá-la, eles ainda sim vão ter que querê-la muito, a canção terá que tocá-los. Na composição, tudo depende do que a música precisa. Algumas são mais curtas, outras não. Eu gosto de contar histórias, gosto de desenvolvê-las, mas às vezes o melhor mesmo é fazer versos mais curtos e ir direto ao refrão.

Clint Eastwood: Em 'Cry macho', ator segue desconstruindo a sua própria figura de durão

Diane Warren não se vê como “uma mulher que compõe”, mas simplesmente como “alguém que cria canções e que calhou de ser uma mulher”. E não acredita nessa história de que as músicas que mais tocam as pessoas são aquelas que espelham as vivências da autora.

— A canção tem que ser honesta, mas não precisa ser sobre a sua vida. A imaginação ajuda muito o compositor — ensina ela, que treme só de pensar em um dia fazer parte de uma dessas equipes de compositores que hoje monopolizam o repertório dos jovens astros da canção.

— Em 2021, eu sou uma espécie de unicórnio (risos) — diverte-se Diane Warren. — Eu odeio essa ideia, porque acho que o indivíduo é bem mais interessante que o comitê. Hoje, você encontra canções com até 20 compositores... para quê tanta gente? Tudo o que sei é que componho para mim mesma. Eu vou ao piano ou pego o violão e tudo tem que começar ali.

A escola da compositora foi o rádio que ela ouviu, compulsivamente, durante os anos 1960 e 70.

— Eram as melhores composições de pop e de r&b de todos os tempos. Eu ingeri Beatles e a Motown quando estava na escola, e meus pais me faziam ouvir certos discos. Cresci com uma dieta variada, e é por isso que hoje posso passear pelos diferentes gêneros musicais — conta ela, que teve seu primeiro hit em 1986: “The rhythm of the night”, um r&b com toques latinos, gravado pelo grupo DeBarge (e mais tarde, ela faria músicas de sucesso para a cubana Gloria Estefan ).

— Adoro a música latina, ela tem tanta paixão, tantas grandes vozes... sempre achei a música latina importante, e não só agora. Eu trabalhei, por exemplo, naquele álbum que estourou Ricky Martin [“Ricky Martin”, de 1999, o de “Livin la vida loca”]. Quando um artista latino ultrapassa as barreiras, as pessoas aqui dizem: “Nossa, eu não sabia que isso tudo existia!” — relata ela que, entre os brasileiros, admira Tom Jobim. — Ele tem as melhores melodias, e eu adoro melodias.

Compra de catálogos: Fãs de Toquinho agora podem ganhar dinheiro com 'Tarde em Itapoã' e outros clássicos

Há muito, Diane Warren criou a sua própria editora, a Realsongs, e assim consegue controlar a arrecadação de direitos de todas as suas composições. Um patrimônio que tem despertado os desejos de muitos investidores, representados por empresas como a inglesa Hipgnosis , os quais vêm adquirindo por fortunas os royalties futuros de grandes artistas da música pop como Neil Young e Bob Dylan .

— Estão jogando muito dinheiro em cima dos compositores, mas eu não vendo nada. Porque minhas canções são minha alma e minha alma não está à venda — assegura ela. — Estão pagando dez vezes mais do que o que algumas canções valem... mas para mim, sem chance.